Quem me conhece melhor já me ouviu dizer muita, muita vez que é na infância que reside a última e única centelha de divindade que há em nós. As crianças vivem ainda meio imbuídas pela magia do limbo que antecede a própria vida e do qual jamais nos recordaremos quando somos crescidos.
Apesar de tudo, de tudo, foi na infância que eu fui mais perdidamente feliz.
Tão livre, tão solto e tão sem-fim que por mim nunca de lá teria saído. Cabelos pelos ombros, calças sujas e rasgadas de tanta brincadeira, sem relógio, sem regras e sem ordem para chegar, ostentando no rosto cheio de pó, as pinturas da última batalha com os peles-vermelhas da rua ao lado.
È por isso que o Peter Pan é o meu verdadeiro herói… porque foi o único que teve coragem para dizer que não, para bater o pé aos crescidos e defender a sua idílica condição. Refugiado no seu exílio da Terra-do-Nunca, servirá para sempre de símbolo e sentinela aos muitos milhões que se recusam a deixar de sonhar por esse mundo fora.
Não há nada mais cruel que se possa dizer a uma criança que “faz isto ou aquilo se queres ser grande!”. Como se os “grandes” fossem uma “grande” coisa que valesse a pena imitar!
Houve um dia em que a Wendy chorou, na janela da sua casa, à luz da lua e dos seus cabelos brancos, porque já crescida, não conseguia recuperar da memória as histórias de encantar que viveu em aventuras sem fim com os meninos-perdidos.
A luta para não crescer, para manter viva essa luzinha que vem dos nossos primeiros tempos, é diária.
Só há um sítio no mundo dos crescidos, onde estes quase por instinto, renunciam à sua condição e aceitam regressar a onde nunca sairiam pela sua única e exclusiva vontade e esse sítio é a praia.
Na praia, o doutor e o trolha, o brilhante cirurgião e o escriturário de terceira, o pintor da construção civil e o diplomata, encontram-se ao mesmo nível. Os elementos identificativos do padrão social ficam lá fora e de calçonitos, fica tudo muito mais parecido. É certo que uns lêem o “Expresso” e outros o “Correio da Manhã”, uns fumam “Marlboro” ou “Camel” e outros “SG Ventil” ou “SG Filtro”, uns bebem sucos naturais e outros médias geladas, uns discutem os negócios e outros a novela da noite, mas há um momento, nesse enorme parque infantil, em que se cruzam e metem as mãos na areia. E aí são todos iguais
Desde que tenham filhos pequenos e queiram entrar na dança, o dia e o baile são por conta deles!
E é tão bom reparar na carinha de felicidade quando se recriam nesse jogos sem fim…
Seja a fazer uma piscina natural ou um castelo na areia; a jogar ao enterra (em que ganha quem fizer o buraco mais fundo!) ou à carica em pistas de Fórmula 1 inventadas no momento; a construir uma sereia em que os cabelos são algas e o soutiã feito de conchas; a brincar com um papagaio de papel ou a fintar as ondas à beira-mar; integrados em mil pesquisas científicas por espécies imaginárias nas rochas ou em missões de salvamento de estrelas do mar… há muito por onde escolher!
Neste ano, com duas princesas na minha expedição, brincámos que nos fartámos, embora houvesse sempre muito, tanto mais para fazer. Dialogando sempre num espanholês característico, indecifrável para os ouvidos mais incautos (Eh amigue! Que eztás a fazero?), trocámos experiências e diversões e nem eu próprio acreditei que conseguiria andar mais de 5 metros com as duas montadas nas costas, arrastando-me de quatro patas, zurrando e escoiceando, servindo de cavalo do Bastinhas com fôlego suficiente para continuara a respirar. Foi de rir até cair para o lado.
Nas toiradas improvisadas, era touro furibundo, ao ponto de numa só assentada, derrubar todo o grupo de forcadas dos Outeiros. Está bem, eram só duas, mas mesmo assim, a pega foi rija. Ainda tenho os calções entalados…
Para a história, fica a criação pelas duas cientistas do verdadeiro “Homem-Lama”, completamente coberto pelas areias do mar profundo, espectáculo de raridade onde nem a boca se conseguia discernir!
Para a história, ficaram as memoráveis actuações de equilibrismo das fabulosas irmãs Russas “Mariova e Leonorova”, capazes de encantar as assistências do areal inteiro com a destreza dos seus mortais encarpados, duplos e triplos voos para o abismo!
Para a história, fica a mutação do “Homem-Croquete e Sus Muchachas”, que só não resultou em pleno porque faltou o palito no tal sítio… ( e ainda bem que não havia ali nenhum à mão! Senão tinha sido mais que certo”).
Para a posteridade e memória futura, fica uma semana do tamanho de um Verão sem fim porque nunca ali regressarão com a ternura dos 5 e dos 4 anos e foi tudo tão bem passado entre nós 3 que eu digo, “bem hajam”, por me terem feito tão feliz...
Tão igual a vocês...
Apesar de tudo, de tudo, foi na infância que eu fui mais perdidamente feliz.
Tão livre, tão solto e tão sem-fim que por mim nunca de lá teria saído. Cabelos pelos ombros, calças sujas e rasgadas de tanta brincadeira, sem relógio, sem regras e sem ordem para chegar, ostentando no rosto cheio de pó, as pinturas da última batalha com os peles-vermelhas da rua ao lado.
È por isso que o Peter Pan é o meu verdadeiro herói… porque foi o único que teve coragem para dizer que não, para bater o pé aos crescidos e defender a sua idílica condição. Refugiado no seu exílio da Terra-do-Nunca, servirá para sempre de símbolo e sentinela aos muitos milhões que se recusam a deixar de sonhar por esse mundo fora.
Não há nada mais cruel que se possa dizer a uma criança que “faz isto ou aquilo se queres ser grande!”. Como se os “grandes” fossem uma “grande” coisa que valesse a pena imitar!
Houve um dia em que a Wendy chorou, na janela da sua casa, à luz da lua e dos seus cabelos brancos, porque já crescida, não conseguia recuperar da memória as histórias de encantar que viveu em aventuras sem fim com os meninos-perdidos.
A luta para não crescer, para manter viva essa luzinha que vem dos nossos primeiros tempos, é diária.
Só há um sítio no mundo dos crescidos, onde estes quase por instinto, renunciam à sua condição e aceitam regressar a onde nunca sairiam pela sua única e exclusiva vontade e esse sítio é a praia.
Na praia, o doutor e o trolha, o brilhante cirurgião e o escriturário de terceira, o pintor da construção civil e o diplomata, encontram-se ao mesmo nível. Os elementos identificativos do padrão social ficam lá fora e de calçonitos, fica tudo muito mais parecido. É certo que uns lêem o “Expresso” e outros o “Correio da Manhã”, uns fumam “Marlboro” ou “Camel” e outros “SG Ventil” ou “SG Filtro”, uns bebem sucos naturais e outros médias geladas, uns discutem os negócios e outros a novela da noite, mas há um momento, nesse enorme parque infantil, em que se cruzam e metem as mãos na areia. E aí são todos iguais
Desde que tenham filhos pequenos e queiram entrar na dança, o dia e o baile são por conta deles!
E é tão bom reparar na carinha de felicidade quando se recriam nesse jogos sem fim…
Seja a fazer uma piscina natural ou um castelo na areia; a jogar ao enterra (em que ganha quem fizer o buraco mais fundo!) ou à carica em pistas de Fórmula 1 inventadas no momento; a construir uma sereia em que os cabelos são algas e o soutiã feito de conchas; a brincar com um papagaio de papel ou a fintar as ondas à beira-mar; integrados em mil pesquisas científicas por espécies imaginárias nas rochas ou em missões de salvamento de estrelas do mar… há muito por onde escolher!
Neste ano, com duas princesas na minha expedição, brincámos que nos fartámos, embora houvesse sempre muito, tanto mais para fazer. Dialogando sempre num espanholês característico, indecifrável para os ouvidos mais incautos (Eh amigue! Que eztás a fazero?), trocámos experiências e diversões e nem eu próprio acreditei que conseguiria andar mais de 5 metros com as duas montadas nas costas, arrastando-me de quatro patas, zurrando e escoiceando, servindo de cavalo do Bastinhas com fôlego suficiente para continuara a respirar. Foi de rir até cair para o lado.
Nas toiradas improvisadas, era touro furibundo, ao ponto de numa só assentada, derrubar todo o grupo de forcadas dos Outeiros. Está bem, eram só duas, mas mesmo assim, a pega foi rija. Ainda tenho os calções entalados…
Para a história, fica a criação pelas duas cientistas do verdadeiro “Homem-Lama”, completamente coberto pelas areias do mar profundo, espectáculo de raridade onde nem a boca se conseguia discernir!
Para a história, ficaram as memoráveis actuações de equilibrismo das fabulosas irmãs Russas “Mariova e Leonorova”, capazes de encantar as assistências do areal inteiro com a destreza dos seus mortais encarpados, duplos e triplos voos para o abismo!
Para a história, fica a mutação do “Homem-Croquete e Sus Muchachas”, que só não resultou em pleno porque faltou o palito no tal sítio… ( e ainda bem que não havia ali nenhum à mão! Senão tinha sido mais que certo”).
Para a posteridade e memória futura, fica uma semana do tamanho de um Verão sem fim porque nunca ali regressarão com a ternura dos 5 e dos 4 anos e foi tudo tão bem passado entre nós 3 que eu digo, “bem hajam”, por me terem feito tão feliz...
Tão igual a vocês...
2 comentários:
EM CONTRA-MÃO
A apologia da “Lei da Rolha”…
Que a dita, já foi lei em tempos remotos…todos nós, com um pouco mais de idade já tivemos oportunidade de conviver, agora nos tempos que correm, e para os mais novos, esta é uma novidade. Mas ela está aí, quase sempre imposta por aqueles que, em dado momento detêm o “poder”, com a finalidade de silenciar críticas pouco abonatórias, ou mesmo opiniões.
Exercida das mais diversas formas, desde a “censura assumida” a formas mais sofisticadas, como se diz na minha terra, “ela anda aí”.
Mas, o que eu venho propor hoje, embora muito tivesse para dizer sobre esta estratégia, é mesmo mais uma “subversãozita”, como será, certamente, classificada pelo “infante Pedro Sabi”.
O que vos vou propor, é que façamos um “suponhamos”…e que poderíamos inverter a ordem dos termos, assim como se faz nas propriedades de algumas operações aritméticas. E que, em vez de ser o “poder” a decretar a dita, éramos nós que a exigíamos aos nossos “governantes” e dirigentes.
Vem esta “treta” toda a respeito de dois paradigmáticos casos (que intelectual que anda o buga). Um passado com o nosso ministro da Administração Interna, e o outro com o Sr. Coordenador para a Reorganização dos Cuidados de Saúde Primários.
Assisti na última terça-feira, a uma entrevista ao canal de televisão SIC, do Sr. Ministro Rui Pereira, sobre os incêndios em Portugal neste verão de 2007.
Afirmou o dito ministro, “que os poucos incêndios deste ano e pouca área ardida se ficavam a dever a uma conjectura favorável da meteorologia mas, que o êxito da coisa, se ficava a dever, sobretudo, à grande estrutura organizativa montada por este governo…
Ó Sr. Ministro, num país em que a maioria dos incêndios tem origem criminosa, e fazer estas “gabarolices”, a meio do verão…estava mesmo a pedi-las.
Veja-se o que aconteceu a partir de quarta-feira e ainda por cima é reincidente, já acerca de um mês tinha feito o mesmo e com resultados idênticos.
O segundo caso, está relacionado com o meu amigo Dr. Luís Pisco, Coordenador da Reorganização dos Cuidados de Saúde Primários, que ontem afirmou uma coisa fantástica, “ que só haverá PRIVATIZAÇÃO das Unidades de Saúde Familiar (novas formas organizativas dos Centros de Saúde), onde houver deficiência de prestação dos Serviços Públicos, nomeadamente, em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Setúbal”…
Ó Dr. Pisco, então num país em que os médicos (sobretudo), estão em pulgas para terem a privatização dos serviços de saúde, com todo o poder nas mãos, acha que mais algum Serviço Público, vai funcionar sem ser deficiente?” Só se forem parvos.
DUAS ROLHAS COM URGÊNCIA PARA ESTES DOIS SENHORES
…e viva a lei da rolha!
Um abraço
:)
ora aqui está um belo post!
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