domingo, 2 de dezembro de 2007

Festival Cigano (ou a depena da águia)


Alguns minutos após o apito final do clássico com o Porto, o meu organismo atingiu uns níveis de azia tamanhos que me deixou a alma a saber a fel.

Eu sei que o Benfica está longe de ser a melhor equipa nacional e que muito dificilmente poderá aspirar a tocar nos calcanhares do estatuto europeu que alcançou na década dourada de 60. Eu admito que não possa ganhar sempre e que há jogos em que é mesmo impossível ficar bem. O que eu não posso admitir de forma alguma, enquanto sócio, é que os jogadores e equipa técnica não saibam estar ao nível da massa associativa e da história do nosso glorioso emblema, sendo perdulários e deitando tudo a perder por pura negligência.

A passividade e a imbecilidade que se instalaram nas nossas hostes neste último dérbi, dão-me vontade de comer o mundo à dentada. Ainda o Quaresma não tinha recebido a bola que haveria de conduzir direitinha para o fundo da baliza e já o Camacho gesticulava junto à linha, de braços abertos, vendo incrédulo como é que alguém se pôde esquecer do cigano sozinho quando a porta da capoeira estava escancarada.

Meus amigos, foi um banho de bola e tanto me dá que os jornalistas e os treinadores de bancada venham amanhã dizer que a segunda parte do Benfica foi menos má. No final, o sabor para mim era de uma pesadíssima derrota, que foi por um mas eu senti que foi por 15 ou 20!

Com esta primeira derrota para o campeonato deixámos abalar de vez o comboio e uma oportunidade de ouro de ficar apenas a 1 ponto do líder. Ficámos assim feitos pategos a vê-los entrar na quadra natalícia com 7 tentos pela frente e com a confortável certeza de dependerem apenas da sua sorte para serem campeões.

Como nestas coisas é importante encontrar o porquê, e sendo eu sócio, sou também um pouquinho dono daquilo tudo (eu gosto de pensar que é de uma manga da camisola do maestro…), aqui deixo a minha visão da coisa.

O principal responsável pelo descalabro é o próprio treinador. A partir de hoje não lhe dou mais hipóteses e vou dizer em todo o lado que o Camacho pode ser muito bom em tudo mas como treinador não vale um corno de um caracol. E ponto final. Então o gajo este, num jogo desta importância, a jogar em casa, vindo moralizado de um empate com o campeão europeu, entra de recuas? A medo? Só com um ponta de lança? Com a equipa de sempre? E depois é cabeçudo e caramelo. Vê que tem unidades em claríssimo contra-pé, com uma dificuldade extrema em entrar no jogo, como foi o caso do Maxi Pereira, do Katsouranis e do próprio Rui Costa (que esteve eternidades sem tocar na bola), e nada fez? Limitou-se a vociferar em castelhano e a ver a tourada de palanque. Uma nódoa! Pode ser muito bom condutor de homens, pode ser mentalmente forte, mas de estratégia não percebe uma beata.

A noiva em termos de responsabilidade é o próprio Nuno Gomes porque o homem está numa miséria, se é que não o foi sempre. Uma autêntica desgraça. Eu não contesto que já tenha feito muitos golos e que não tenha até sido importante em determinadas fases. Sei que é determinado, que não é dos mais parvos e que corre muito mas é ABSOLUTAMENTE inofensivo, trapalhão e azelha e essas coisas todas ruins. Ainda o ponteiro dos minutos não tinha dado uma volta inteira e já ele tinha o destino do jogo na ponta dos pés sem saber ler nem escrever. Enrolado ao seu jeito, espetou um pontapé no infinito que acertou em cheio na figura do Hélton mas que jamais entraria na baliza de tão torto que ia. Se revirem o lance com alguma atenção percebem que bastava uma simulação e um ligeiro toque para a direita para oferecer um golo simples ao Pereira que esperava ao seu lado. E dizem-me alguns “ah, aquilo é tudo muito rápido” e eu digo “balelas! Vejam os passes que fazem os gajos da NBA, de largos metros com a precisão de um centímetro sem quase olhar para o lado e depois digam qualquer coisa!”. Uma vergonha lamentável, um erro de casting tremendo.

O Benfica até nem entrou mal mas com o passar dos minutos, caiu numa letargia tamanha que a derrota só não foi mais pesada porque sabe lá Deus porquê. Até a minha Cristina que duvido que saiba o que é um “fora-de-jogo” comentou comigo a dada altura, “está aqui, está a ser golo do Porto!”. E não é que foi mesmo. O cheiro a golo, antes de o ser, era de tal maneira intenso que fui ver se a traseira da minha televisão não estava a deitar fumo pelas costuras.

O mortífero e ultra-trabalhador Lisandro Lopez já tinha cheirado a baliza numa bola que lhe caiu nos pés à boca da pequena área, mas havia de ser o Mustang, a escassos 4 minutos do intervalo que tanta falta fazia ao Benfica, a assinar a sentença de morte do desafio.

O lance é de génio e repare-se na diferença com o avançado do Benfica, porque nós sabemos, ou pelo menos eu pressenti desde logo que assim que o Lello recebeu a bola naquela descampado todo e partiu de rompante, que o resultado dificilmente seria outro que não aquele que acabou por ser. O homem arranca com uma pujança que mais parecia o cavalo do Bastinhas, faz uma “chicuelina” de partir os rins ao David Luíz e remata certeiro de trivela, com a redondinha a furar entre o pataganho do Luísão e os dedos esticados do nosso Quim, que hoje esteve muito seguro mas ali de nada nos podia valer.



Por muito que me custe aceitar, tenho de reconhecer que foi um lance magnífico e que torna mais do que óbvia a diferença de talentos no relvado.

A segunda parte foi mais simpática para nós, com o Benfica a esboçar uma reacção que só podia ser ténue por não ser sustentada com substituições que legitimassem novas aspirações.

Atente-se na vivacidade e na disponibilidade para marcar quando o Di Maria e o Adu subiram para o palco. O jogo parecia outro! Tivessem os miúdos tido mais tempo e mais confiança técnica na sua frescura, jovialidade e criatividade e o baile seria outro. Mas o espanhol é assim… apesar de o americano facturar quase sempre nos escassos minutos finais em que o deixa jogar, ainda desconfia do rapaz e prefere apostar naquela extravagância bichanesca que é o Nuno Gomes… Paciência.

Como é Natal, o Nosso Senhor ainda nos deu uma abébia de borla do Bruno Alves que deixou o outra vez o Nuno Gomes na cara do golo mas a menina rematou frouxo e pouco colocado e lá ficou o cara de mono do Hélton a rir-se para a banana.

Foram melhores que nós. O Jesualdo é o nosso professor, é Benfiquista e apesar de estar vacinado com a vacina da raiva com que carimbam todas as pessoas que entram para aquela casa de correcção que é também a maior Universidade do país porque entram para lá putas e saem escritoras, deve-lhe ter custado p’ra c*****o ter ganho ao clube do seu coração. Eu sei que é verdade, filho, mesmo que digas que não.

À s vezes criamos mitos que não correspondem de todo à realidade. No outro dia vi na RTP1 uma reportagem que mostrava o ambiente no interior da selecção nacional e gostei do que vi. Admirei a camaradagem e o espírito de equipa e aprendi que muitos daqueles jogadores que nós elevamos ao patamar de intocáveis, não passam de simples miúdos com muito talento. Como é o caso do Quaresma. Habituei-me a vê-lo como um duro, como o mau da fita e não passa de um menino que é “gozado”carinhosamente pelos colegas por não esconder as suas raízes e que brinca saudavelmente com ele próprio também. Não bastava o Jorge Andrade andar sempre a dar-lhe na cabeça com os ciganos, como ele próprio dizia, ao entrar num estabelecimento comercial no Médio Oriente que “ainda não vi aqui nada a vender que os ciganos não vendam lá também”, num lance também ele genial. Espírito de humor e encaixe que só lhe ficam bem.

Hoje gostei de o ver oferecer a sua camisola a uma senhora de idade toda equipada à Benfica que lhe deu dois beijos repenicados. Foi um gesto bonito e só por isso merece.

Quanto ao Benfica, paciência! Há que olhar em frente. Amanhã, levantam-se todos com as galinhas e vão caminho da Ucrânia para o jogo de Terça com o Shaktar que é também ele uma final que é preciso ganhar para continuar a sonhar com a Europa e eu espero muito que consigam para ver se ainda vou durante esta época com a minha canalha a ver o tal joguinho na Catedral depois de comer o tal peixinho em Setúbal com esses expedientes todos.

Deixava apenas uma sugestão para o piloto da viagem de amanhã: quando sobrevoarem os Andes, abra a porra da escotilha e largue a mercadoria que está fora de prazo para ver se damos a vez aos mais novos. Óstia! A ganar!

É nestas noites que olho para a minha filha e penso duas vezes se hei-de continuar a interceder para que seja esta a sua cor clubística. Para sofrer já estou cá eu…

3 comentários:

Clarimundo Lança disse...

Ovelhas negras
Tal como no Barcelona, segundo Edmilson, também existem ovelhas negras bo S.L.Benfica.
Jogámos Quarta-Feira com o AC Milan, jogo desgastante, e em vez se seguir uma fase acentuada de repouso, não opta-se por apresentar livros, somos uma montra de belas donas e manequins....
Corram com as beldades e ponham os Bynia, os Zoros, feios mas machos.

João, disse...

29º ANIVERSÁRIO DO GRUPO DESPORTIVO ARENENSE

Caros amigos bloguistas da “Tasca do ti Sabi”, aproveito este espaço para divulgar o 29º aniversário do GDA. As festividades têm início no próximo dia 7/12 com uma Assembleia-Geral de Associados.

Mas, o que quero aqui chamar a atenção é para a realização do Almoço Convívio a realizar no dia 8/12 Sábado, que pretende juntar a comunidade arenense e para se inscreverem devem contactar o João Manuel Lança, pelos tm. 919500410, que teve a coragem de lançar mãos à obra, que outros anunciaram, mas nunca se chegaram à frente:

Se frequentas a “tasca”, do que estás à espera, inscreve-te…

João Bugalhão

Jorge Miranda disse...

Este,Buga,parece aqueles indios do Amazonas, nunca perde a oportunidade de espetar um dardo, mesmo que seja visado, sempre pode atingir alguém...Sorry, não podia desperdiçar a oportunidade!