No domingo, depois de arrumarmos a cozinha e passarmos pela pastelaria para uma bica e um chocolate, rumámos a Marvão para assistirmos à terceira peça de teatro do Festival Amador, desta vez um musical com crianças. Prometi-te que se chegássemos a tempo, ainda passávamos pelo recém-recuperado Parque Infantil de Marvão, para uma inauguração informal a dois.
Quando parei o carro à porta do Centro Cultural disseste-me, “então mas o que é que estamos aqui a fazer parados?”.
“Vou só ali acima ver se está tudo a correr bem e se é preciso alguma ajuda para que tudo esteja pronto a horas.”
“Ah, eu já sabia. Agora falas com um, e mais outro e mais outro e já não vamos ao parque como prometeste!”.
Respondi-lhe que não, que era promessa e ia cumpri-la e assim foi. Pelo caminho fui-lhe tirando fotos, admirando a cada uma, a graça desta turista acidental, de óculos amarelos e máquina fotográfica de brincar, de fato de treino da “Hello Kitty” e ar bem disposto.
Parámos no largo das finanças, “onde tu trabalhavas”, e “onde hei-de voltar a trabalhar” e sentamo-nos nos banquinhos de madeira junto à muralha. Olhaste em redor para a paisagem e disseste, “vê pai, parece uma manta…” sem saberes que na tua acutilante perspicácia, viste aquilo que muitos adultos já ali sentiram mas não conseguiram traduzir em palavras.
Ao entrarmos no portão verde que dá acesso aos baloiços, segui com atenção cada gesto e cada movimento teu, alimentando-me da alegria do teu sorriso despreocupado, tão radiante com tão pouco, como só as crianças sabem ser.
Vi-te saltitar do escorrega para o baloiço, do balancé para a casinha de brincar e no alto do cesto que fica no mastro do barco dos piratas que não se vê, captei-te a aura, a esfinge, o perfil, o narizito que vi pela primeira vez num monitor electrónico, no segundo ou terceiro piso de um velho prédio da Avenida da República, numa tarde quente de Julho. Já tínhamos feito diversas ecografias mas nenhuma como esta, na capital. Diziam que era a mais importante e eu acreditei porque nas outras, o mais que consegui ver foram umas imagens difusas de uma coisa que mais parecia o anticiclone dos Açores num boletim meteorológico do tempo do Anthímio de Azevedo. Nada!
Ali, assim que a primeira imagem surgiu, não consegui conter em mim a emoção que senti cair-me pela face em silêncio e a médica, mais que batida nestas histórias, perguntou à mãe, sempre mais calma, mais comedida, mais reservada:
“Mas o que é que ele tem?”.
“Ah… ele é mesmo assim…”, respondeu a Cris baixinho.
Quando revelou que era uma menina (que eu tanto queria!), a coisa agravou-se ainda mais, como é óbvio. Eu sei que um homem é um homem mas às vezes o nosso organismo tem limitações e não consegue acompanhar e velocidade vertiginosa dos sentimentos que nos assolam o pensamento.
Foi nesse preciso momento que saiu o teu nome porque eu disse: “chama-se Leonor”. Já havia várias hipóteses de nomes que andavam na baila mas o definitivo tornou-se dessa maneira ali.
“Mas Leonor porquê?”
“Porque tem cara de Leonor. Porque se chama assim. Não engana ninguém. Não vêem?”.
Seguiram-se meses de fascínio e de descoberta, de novidade e mil receios, de ansiedade e excitação. Cada batida do coração, cada pontapé, cada volta no ventre era uma festa. Colei na minha secretária um quadro que explicava o que acontecia em cada semana, um desses quadros que fotocopiei de uma revista de senhoras e andava sempre em cima daquilo.
Depois chegaram finalmente, o dia e a noite e o momento do nascimento e os instantes mais belos de toda a minha vida. Ainda hoje, se tivesse que escolher 5 de todos os minutos que já vivi, tenho a certeza de que seriam aqueles. Foram os mais intensos, os mais trágicos, os mais rápidos e os mais inenarráveis por serem ao mesmo tempo, um soco no estômago e o mais terno dos aconchegos.
A minha sogra perguntou-me ao telefone “é perfeitinha?” e eu disse-lhe “acho que sim”, porque ainda vinha encandeado por aqueles dois olhitos escuros que me fitaram a centímetros pela primeira vez.
Tremia por todo o lado, mas esforcei-me por descer as escadas sem cambalear. Acho que não me saí mal.
Eu quero que os lugares-comuns se amolem, porque o que apetece mesmo dizer e é verdade, é que a partir daí, a minha e a nossa vida nunca mais foi a mesma. Completou-se, preencheu-se, enriqueceu-se, fundiu-se, agigantou-se… passou para um nível acima.
Digo-o por mim, um filho quando é assim vivido não tem nada a agradecer a uma pai, por serem tão grandes as alegrias que nos proporciona no dia-a-dia.
E logo tu, filha, que me saíste este encanto de criança, doce e vivaça, tão esperta e tão feminina, tão dedicada e carinhosa, tão ao nosso jeito, como eu sempre te sonhei.
Graças a Deus, tiveste a sorte de nasceres e cresceres só com amor à tua volta, porque foi coisa que nunca te faltou, da parte dos teus mais queridos. Não houve ninguém que não tivesse toda a disponibilidade para te dar aquilo que de melhor leva dentro.
Eu sei porque é que nos muitos (tantos!) desenhos que fazes desde pequenina, (que eu guardo religiosamente com datas e títulos dentro de caixas), os bonecos, as flores e o sol aparecem sempre a sorrir.
Hoje não fui eu que me fui deitar na tua cama para te acordar com os beijinhos da manhã. Hoje foste tu que me vieste namorar com os presentes que guardavas às escondidas no teu armário e eu perguntei-te que dia diferente querias e foi assim que mudámos o que tínhamos previsto só para irmos às comprinhas e às pizzas e áquilo que te faz feliz. Estes dias também servem para estarmos mais atentos e pude ver como estás grande (“já chego às maminhas da mãe!”) e bonita. Reparei como o teu rosto está mais alongado, a expressão mais adulta e as calças pelas canelas.
Nem tudo tem sido fácil, Leonor, e eu aprendi agora que ao mesmo tempo que os filhos aprendem a crescer, nós aprendemos a ser pais e a ser adultos. É um processo contínuo, multi-multi-multifacetado e de 24 horas por dia e nem sempre corre como é desejado.
Dói-me no peio quando te tenho que dar um não, como nesse domingo, quando brigámos ao almoço e eu te tive que dizer que se não comesses o peixinho todo, não te ia dar de lanchar e o mais certo era morreres de fome antes da hora de jantar e tu olhaste para mim com ar de desespero, alarmada pela sentença e gritaste-me: “mas pai, por favor, todos os meninos lancham! Tu não podes fazer-me isso!” e eu respondi-te “posso… porque eu é que mando!”. E o peixe marchou todo.
Como me doeu na segunda-feira à noite quando não te deixei ver as fotos novas porque não quiseste ir sozinha à cozinha buscar a pen, com medo do escuro. Por mais que te explicássemos que não havia nada a temer, a coisa não ia e eu peguei-te na mão, olhei-te nos olhos e disse-te: “confias em mim?” e tu disseste que sim e percorremos no escuro cada escada, cada divisão, cada recanto e até o sótão, até que tu percebesses que não há nada a temer desse escuro quando estamos na nossa casa. Fizeste como se não tivesse sido nada mas eu sei que no dia seguinte, assim que entraste na Ludoteca, disseste à Idalina, “sabes, eu cá já não tenho medo do escuro”.
Vou tentar esconder de ti o mais que puder que há coisas que nós os crescidos também não sabemos, para que nos continues a ver como esse farol, esse porto de abrigo onde hás-de sempre regressar quando quiseres, por estar sempre aberto para ti.
Hoje no restaurante em Portalegre, vi meninas e meninos benzocas da cidade, com mais dez anos que tu, a revezarem-se em namoricos e olhares ali à frente de todos. Tenho que me ir preparando mas sei que não vou resistir a tamanho embate. A Cris leu-me o pensamento e disse-me entre dentes, “passa tão depressa, não passa?”.
Passa, passa. Ainda ontem te mudava as fraldinhas que te ajeitava no rabito gordo e agora já te escuto a somares as letras de todas as palavras que vês à frente, desde a marca da espuma de barbear aos pneus do automóvel.
Os anos passam e passarão, nossa querida Leonor, mas duma certeza nunca duvides: da incondicionalidade do nosso amor.
Os anos passam e o nosso desejo continua a ser o mesmo, o querer o melhor para ti… e que sejas feliz. Se a tua vida dependesse da nossa, sabes que não hesitaríamos por um segundo que fosse e esse há-de ser um segredo que levarás sempre contigo para te aquecer quando necessitares mais dele.
Partindo daí, se for essa a vontade, há ainda tanto por descobrir, tanto caminho por trilhar, tanta aventura para viver e tu farás sempre tudo valer a pena porque tu… és mesmo a razão de tudo assim ser.
No dia do pai lembro-me também do meu, de tudo aquilo que lhe dei e sobretudo, do que dele recebi… e do tanto que ficou por dizer. Os olhos estão postos no futuro e não vai haver flores, nem visitas… porque não há nada ali por visitar e porque te trago sempre comigo e a ti recorro quando posso. É pela vida que temos que pugnar, que lutar e que preservar. Aquece-me pensar que haverá um momento, em que teremos todo o tempo para meter a conversa em dia. Vai um daqueles apertados…
Quando parei o carro à porta do Centro Cultural disseste-me, “então mas o que é que estamos aqui a fazer parados?”.
“Vou só ali acima ver se está tudo a correr bem e se é preciso alguma ajuda para que tudo esteja pronto a horas.”
“Ah, eu já sabia. Agora falas com um, e mais outro e mais outro e já não vamos ao parque como prometeste!”.
Respondi-lhe que não, que era promessa e ia cumpri-la e assim foi. Pelo caminho fui-lhe tirando fotos, admirando a cada uma, a graça desta turista acidental, de óculos amarelos e máquina fotográfica de brincar, de fato de treino da “Hello Kitty” e ar bem disposto.
Parámos no largo das finanças, “onde tu trabalhavas”, e “onde hei-de voltar a trabalhar” e sentamo-nos nos banquinhos de madeira junto à muralha. Olhaste em redor para a paisagem e disseste, “vê pai, parece uma manta…” sem saberes que na tua acutilante perspicácia, viste aquilo que muitos adultos já ali sentiram mas não conseguiram traduzir em palavras.
Ao entrarmos no portão verde que dá acesso aos baloiços, segui com atenção cada gesto e cada movimento teu, alimentando-me da alegria do teu sorriso despreocupado, tão radiante com tão pouco, como só as crianças sabem ser.
Vi-te saltitar do escorrega para o baloiço, do balancé para a casinha de brincar e no alto do cesto que fica no mastro do barco dos piratas que não se vê, captei-te a aura, a esfinge, o perfil, o narizito que vi pela primeira vez num monitor electrónico, no segundo ou terceiro piso de um velho prédio da Avenida da República, numa tarde quente de Julho. Já tínhamos feito diversas ecografias mas nenhuma como esta, na capital. Diziam que era a mais importante e eu acreditei porque nas outras, o mais que consegui ver foram umas imagens difusas de uma coisa que mais parecia o anticiclone dos Açores num boletim meteorológico do tempo do Anthímio de Azevedo. Nada!
Ali, assim que a primeira imagem surgiu, não consegui conter em mim a emoção que senti cair-me pela face em silêncio e a médica, mais que batida nestas histórias, perguntou à mãe, sempre mais calma, mais comedida, mais reservada:
“Mas o que é que ele tem?”.
“Ah… ele é mesmo assim…”, respondeu a Cris baixinho.
Quando revelou que era uma menina (que eu tanto queria!), a coisa agravou-se ainda mais, como é óbvio. Eu sei que um homem é um homem mas às vezes o nosso organismo tem limitações e não consegue acompanhar e velocidade vertiginosa dos sentimentos que nos assolam o pensamento.
Foi nesse preciso momento que saiu o teu nome porque eu disse: “chama-se Leonor”. Já havia várias hipóteses de nomes que andavam na baila mas o definitivo tornou-se dessa maneira ali.
“Mas Leonor porquê?”
“Porque tem cara de Leonor. Porque se chama assim. Não engana ninguém. Não vêem?”.
Seguiram-se meses de fascínio e de descoberta, de novidade e mil receios, de ansiedade e excitação. Cada batida do coração, cada pontapé, cada volta no ventre era uma festa. Colei na minha secretária um quadro que explicava o que acontecia em cada semana, um desses quadros que fotocopiei de uma revista de senhoras e andava sempre em cima daquilo.
Depois chegaram finalmente, o dia e a noite e o momento do nascimento e os instantes mais belos de toda a minha vida. Ainda hoje, se tivesse que escolher 5 de todos os minutos que já vivi, tenho a certeza de que seriam aqueles. Foram os mais intensos, os mais trágicos, os mais rápidos e os mais inenarráveis por serem ao mesmo tempo, um soco no estômago e o mais terno dos aconchegos.
A minha sogra perguntou-me ao telefone “é perfeitinha?” e eu disse-lhe “acho que sim”, porque ainda vinha encandeado por aqueles dois olhitos escuros que me fitaram a centímetros pela primeira vez.
Tremia por todo o lado, mas esforcei-me por descer as escadas sem cambalear. Acho que não me saí mal.
Eu quero que os lugares-comuns se amolem, porque o que apetece mesmo dizer e é verdade, é que a partir daí, a minha e a nossa vida nunca mais foi a mesma. Completou-se, preencheu-se, enriqueceu-se, fundiu-se, agigantou-se… passou para um nível acima.
Digo-o por mim, um filho quando é assim vivido não tem nada a agradecer a uma pai, por serem tão grandes as alegrias que nos proporciona no dia-a-dia.
E logo tu, filha, que me saíste este encanto de criança, doce e vivaça, tão esperta e tão feminina, tão dedicada e carinhosa, tão ao nosso jeito, como eu sempre te sonhei.
Graças a Deus, tiveste a sorte de nasceres e cresceres só com amor à tua volta, porque foi coisa que nunca te faltou, da parte dos teus mais queridos. Não houve ninguém que não tivesse toda a disponibilidade para te dar aquilo que de melhor leva dentro.
Eu sei porque é que nos muitos (tantos!) desenhos que fazes desde pequenina, (que eu guardo religiosamente com datas e títulos dentro de caixas), os bonecos, as flores e o sol aparecem sempre a sorrir.
Hoje não fui eu que me fui deitar na tua cama para te acordar com os beijinhos da manhã. Hoje foste tu que me vieste namorar com os presentes que guardavas às escondidas no teu armário e eu perguntei-te que dia diferente querias e foi assim que mudámos o que tínhamos previsto só para irmos às comprinhas e às pizzas e áquilo que te faz feliz. Estes dias também servem para estarmos mais atentos e pude ver como estás grande (“já chego às maminhas da mãe!”) e bonita. Reparei como o teu rosto está mais alongado, a expressão mais adulta e as calças pelas canelas.
Nem tudo tem sido fácil, Leonor, e eu aprendi agora que ao mesmo tempo que os filhos aprendem a crescer, nós aprendemos a ser pais e a ser adultos. É um processo contínuo, multi-multi-multifacetado e de 24 horas por dia e nem sempre corre como é desejado.
Dói-me no peio quando te tenho que dar um não, como nesse domingo, quando brigámos ao almoço e eu te tive que dizer que se não comesses o peixinho todo, não te ia dar de lanchar e o mais certo era morreres de fome antes da hora de jantar e tu olhaste para mim com ar de desespero, alarmada pela sentença e gritaste-me: “mas pai, por favor, todos os meninos lancham! Tu não podes fazer-me isso!” e eu respondi-te “posso… porque eu é que mando!”. E o peixe marchou todo.
Como me doeu na segunda-feira à noite quando não te deixei ver as fotos novas porque não quiseste ir sozinha à cozinha buscar a pen, com medo do escuro. Por mais que te explicássemos que não havia nada a temer, a coisa não ia e eu peguei-te na mão, olhei-te nos olhos e disse-te: “confias em mim?” e tu disseste que sim e percorremos no escuro cada escada, cada divisão, cada recanto e até o sótão, até que tu percebesses que não há nada a temer desse escuro quando estamos na nossa casa. Fizeste como se não tivesse sido nada mas eu sei que no dia seguinte, assim que entraste na Ludoteca, disseste à Idalina, “sabes, eu cá já não tenho medo do escuro”.
Vou tentar esconder de ti o mais que puder que há coisas que nós os crescidos também não sabemos, para que nos continues a ver como esse farol, esse porto de abrigo onde hás-de sempre regressar quando quiseres, por estar sempre aberto para ti.
Hoje no restaurante em Portalegre, vi meninas e meninos benzocas da cidade, com mais dez anos que tu, a revezarem-se em namoricos e olhares ali à frente de todos. Tenho que me ir preparando mas sei que não vou resistir a tamanho embate. A Cris leu-me o pensamento e disse-me entre dentes, “passa tão depressa, não passa?”.
Passa, passa. Ainda ontem te mudava as fraldinhas que te ajeitava no rabito gordo e agora já te escuto a somares as letras de todas as palavras que vês à frente, desde a marca da espuma de barbear aos pneus do automóvel.
Os anos passam e passarão, nossa querida Leonor, mas duma certeza nunca duvides: da incondicionalidade do nosso amor.
Os anos passam e o nosso desejo continua a ser o mesmo, o querer o melhor para ti… e que sejas feliz. Se a tua vida dependesse da nossa, sabes que não hesitaríamos por um segundo que fosse e esse há-de ser um segredo que levarás sempre contigo para te aquecer quando necessitares mais dele.
Partindo daí, se for essa a vontade, há ainda tanto por descobrir, tanto caminho por trilhar, tanta aventura para viver e tu farás sempre tudo valer a pena porque tu… és mesmo a razão de tudo assim ser.
No dia do pai lembro-me também do meu, de tudo aquilo que lhe dei e sobretudo, do que dele recebi… e do tanto que ficou por dizer. Os olhos estão postos no futuro e não vai haver flores, nem visitas… porque não há nada ali por visitar e porque te trago sempre comigo e a ti recorro quando posso. É pela vida que temos que pugnar, que lutar e que preservar. Aquece-me pensar que haverá um momento, em que teremos todo o tempo para meter a conversa em dia. Vai um daqueles apertados…
10 comentários:
Parabéns Pedro, por ser pai . Por ser o pai que é. Há poucos assim, muito poucos.
Desta vez sou eu que estou a chorar depois de ler aquilo que escreveu e que lhe vai no coração acerca da sua filha.
Há sempre coisas a aprender sobre nós próprios e sobre os outros, mas como pai você é perfeito, e eu sei o que digo, não são palavras atiradas ao ar são palavras com sentimento e com sabedoria.
Por certo a Leonor pode contar consigo para o que der e vier, tem o maior tesouro da vida em si e na mãe.
Obrigado por deixar que as pessoas
possam saber o que lhe vai pelo coração.
Tudo de bom para vocês.
SEM AUTORIZAÇÃO DO AUTOR, MAS NÃO POSSO GUARDAR SÓ PARA MIM...
Escrito por Luis Bugalhão, num dia, para o PAI.
(também podia ter sido escrito por mim...)
boas tio.
hoje estou com uma daquelas telhas qu'até zóne nozóvidos.
passei a noite às voltas na cama, cheio de saudades do meu pai, cheio de rancor contra a vida que nos prega tantas partidas de morte.
precisava mesmo dele. preciso dele. mas ele não está cá. foi-se, num inverno frio, tornado ainda mais gélido pelo seu desaparecimento.
sabes que sou incréu, e por isso, como não posso falar com o pai chico, falo com a sua memória e com quem dele está mais próximo, na geração acima da minha...
que raio de vida esta...
dei por mim a pensar nas falhas dos neurónios e das sinapses. falhas castradoras de lembranças, de episódios, de estórias. brancas que me envergonham por não conseguir evitá-las.
é que queria mesmo estar com o meu pai!
queria ouvi-lo a dizer-me que '... isso é conversa de chacha.'. queria escutar-lhe as conversas da guerra para onde foi enviado pela vida tão cedo. tão moço. e já tão velho também. queria vê-lo novamente a abraçar a mila e a dizer-lhe '... se me derem um neto, agarro em ti e levanto-te até ao céu!...'. os netos, que a são e eu lhe demos e ele nunca conheceu...
ele que, para muita gente, não passava dum insensível, sem cuidado nas palavras que escolhia para dizer verdades... esse bruto, que também tinha coração de menino. ainda. naquela altura, meses antes de nos deixar, derrotado por um inimigo que nunca lhe mostrou a cara e que ele, por isso, não podia combater. um coração de menino que cedo aprendeu a empedernir a emoção, a desviar a conversa para o sisudo, para não sofrer ainda mais com a injustiça dos que o rodeavam, e só viam rudeza onde havia extrema sensibilidade. e por isso o abraço à mila que, surpreendida, se sentiu apertada e alevantada do chão pelo sogro... no último almoço dos bugalhões, em frente à família toda, em setembro de 1990. bom que a vida lhe tenha dado momentos destes, de libertação dos espartilhos e das capas de duro que vestia para se proteger e para proteger os que amava... mesmo que não lhes parecesse, aos que amava.
se calhar somos todos um pouco assim, os bugalhões. se calhar não estou a falar dele, estou a falar de mim. mas o que eu queria mesmo era falar com ele.
RAI'S PARTA ESTA MERDA TODA!
ontem foi dia do pai e eu queria falar com ele e não posso. queria tê-lo aqui, na net, neste blog de que seria um colaborador essencial, neste mundo da informação global a que ele aderiria, já reformado e com tempo para se dedicar também às escritas e às leituras...
ontem foi dia do pai e eu queria tento ter falado com ele. mas não posso.
por isso falo contigo. que sendo meio-irmão, fazes muito bem as vezes de meio-pai. recebe um abraço sentido de bom dia do pai, deste teu meio-filho.
até amanhã, em sto. antónio, Marvão, terra linda e agreste, mística e fria, rude e sensível. como nós. como o meu pai.
e eu queria tanto falar com ele...
Não vou dizer que estou a chorar porque senão começam-me a chamar chorona mas pergunto-me que raça de homens são vocês para sentirem assim e não terem problemas em mostrar que sentem. Não conheço muitos homens assim...Aliás todos os homens que fazem parte do meu universo mais próximo se esforçam por esconder tudo o que sentem. Parece que acham que assim são fortíssimos e nada os pode ameaçar.
Vocês são todos... nem sei que diga, mas são humanos, e, não me levem a mal, muito sensíveis...
Vocês conhecem o maior tesouro do mundo - os sentimentos.
Não são de forma nenhuma frios, agrestes, rudes,...serão sim místicos e muito sensíveis
Têm a minha admiração. Desculpem se me meto em assuntos que não me dizem respeito mas tinha que dizer alguma coisa.
E Luís, sei que sentes. Sinto o mesmo mas em relação à minha mãe. Exactamente a mesma coisa e já lá vão quase onze anos.
Tudo de bom para todos vocês.
ó ou!!
antes de mais, isto não se faz, c'um gajo fica todo derretido.
'brigados jbuga pela honra, por esta e pela do 'rétórica'.
'brigados elisa, muitos, pelas gentis palavras. pena não poderes ir. a vida é cm o amor, no romance do mec. virão oportunidades.
lézt bât'nótelist, o taxqueiro. desta vez meteste o dedo na ferida. para quem, como eu, anda sempre a descascar nos 'positivos', nos que fazem a vida mudar com condutas optimistas, e outras tretas, levar com este último parágrafo que postaste é mais que levar com uma chapada de água fria em cima. foi como se um click estoirasse cá para trás na moleirinha e me fizesse ver que afinal há esperança.
quando escrevi (num comment do 'rétórica') o que o jbuga viria a postar, já tinha lido o teu texto... quando acabei de o ler, saí até à porta da oficina, olhei para lá da ribeira das naus, para o tejo, e comecei a chorar, calado, os olhos a escorrer...
claro que tinha que ir moer o meu tio. foi o que fiz, com tudo à flor da pele, mas com a certeza de que há sempre esperança...
dp o magano espetou c'a coisa aqui.
senti-me bem com isso, não o nego, mas acho que trouxe depressão à tua beleza, e agora já estou a falar da estória toda, do parque infantil, e do 'já sei como é que é, falas com um, falas com outro' (deve ser fresca, deve), trouxe, dizia eu, tristeza, terna, mas triste, como é apanágio das tristezas... e não merecia a pena. até pq era mais uma vez aquela cena do folhetim que queres publicar aí no teu pasquim do tragasal.
por isso, pela amizade destes bebedores que cá aparecem, o meu obrigado pela tua taxca, que tão boa pinga serve. já não há disto, nem no estrangeiro! e c'a granda sarilho eu havia de arranjar, quando o bugalhão m'enviou o link desta balhana.
até logo caraças. tou aqui tou aí.
Linda, a tua declaração de amor :)
(e linda a foto do teu amor pequenino...)
Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Servidor, I hope you enjoy. The address is http://servidor-brasil.blogspot.com. A hug.
Parabéns, pelo pai que é, ao ler essas tão simples e sentidas palavras.
Neste dia do pai,penso em quantas crianças e jovens que não sabem o que é ter um pai...por muitas e variadas circunstâncias da vida...e claro recordo aquele que apesar de ter partido há 17 anos, está todos os dias em mim...Partilho com ele as minhas mágoas, e os momentos de felicidade, esteja onde estiver... Sim o nosso pai é sempre o melhor pai, e para uma filha a relação paterna é de tal forma estreita, especial, que por vezes não são necessárias muitas palavras... Contamos sempre com ele, desde o dia em que nascemos...
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Massagista e recuperador de pernas doridas e pouco habituadas às pedras da Fontanheira, está disponível para iniciar a recuperação activa.
Tenho também algumas "renies", e aero-omes" para possíveis comilões, que tenham exagerado na feijoada...e pensos para o Jorge!
Boas melhoras
Disponível 24 horas por dia!
Para esse pseudo massagista:
Não me doi nada, desde as 08h que ando a jardinar.
Estou em grande forma...ai
Arrepiei-me quando li o que os “Bugalhões” escreveram acerca do dia do pai.
Afinal quantas vezes senti a tua falta, a revolta de teres partido, e apesar das conversas que não tivemos, do tempo que se julga não aproveitar em vida, apesar de tudo isso, hoje continuas a fazer-me falta.
Tenho uma vantagem, sei que estás sempre comigo, por isso para além das flores que te levo, e daqueles dias em que visito esse último lugar onde já não te vi, essa necessidade de te dar a conhecer as minhas alegrias faz-me caminhar e “visitar-te “ nalguns dias que não são especiais para os outros mas são-no para nós estavas em presença, e o quanto te orgulharias da tua filha, nesse dia as lágrimas proliferaram…era a ti que eu queria dedicar o meu curso. Fazia pouco tempo da tua morte, escassos meses, seguiu-se o primeiro Natal sem a tua presença…
Aquela neta que te dei e que não conheceste, a falta que lhe fazes….
E das conversas que temos diariamente, partilho sempre tudo o que vai cá dentro. Essa é a minha “vantagem” passados estes anos, a dor não diminuiu, a falta permanece, apenas a “crença” que estás sempre comigo desde o primeiro dia em que puseste neste mundo permanece.
P.S. Por dificuldades “logísticas” e inexperiência em blogues e afins…(internet mega rápida que afinal é tudo menos rápida…aqui por estas bandas ainda pouco largas…)só hoje consegui enviar este coment que me ocorreu escrever no dia 23-03-2008…
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