quarta-feira, 28 de maio de 2008

E Maio trouxe Novembro

Marvão visto da Abegoa, hoje às 9 da manhã.
Ou melhor, o que não se via de Marvão.

An island in the mist


Preso no carro pelo dilúvio.


E Maio trouxe Novembro.
Agora o pessoal já vai acreditando que temos andado a abusar. As fábricas, os carros, os aerossóis, o caraças!

Afinal, as alterações climáticas não acontecem apenas nos dvds do Al Gore nem são coisas só dos países que ficam do outro lado do planeta.

Agora já nos vamos convencendo que esta merda está mesmo toda ao contrário.

O mês de Maio que tradicionalmente abre as portas para o Verão de Junho transformou-se agora num Inverno rigoroso.

Quando já apetecem as tardes longas nas esplanadas, as noites quentes de luar, as manhãs viçosas, os dias intermináveis… nevoeiro e mais nevoeiro, cacimba, granizo e aguaceiros, nuvens negras e céus cinzentos.

Nesta fase do ano, olhar a paisagem de Marvão costuma ser como ver uma gigantesca manta de retalhos com quadradinhos de todas as cores espalhados ao longo dos campos. Neste ano, é um cenário verdadeiramente lúgubre, com uns espessos e ameaçadores lençóis de chuva e umas colunas roxas que ligam a terra aos altos mais do que negros.

A janelinha do gabinete que costuma estar aberta para ver os turistas passar? Fechada!

A esplanada por estrear no pátio das traseiras? Encaixotada!

E as t-shirts? E as modas novas para o calor? Coitadinhas… aprisionadas nos armários, a mostrarem a língua às traças que se escondem nas recargas vazias de naftalina.

Uma tristeza! Um desgosto isto, pá!

Anda todágente à nora, sisuda e cabisbaixa, a dizer mal dos astros. Nós, os latinos, que precisamos de sol e luz como alimento para a boquinha, vamos murchando como as flores do quintal, sem vida, sem força, sem alento.

Em vez de sorrisos, olheiras!
Em vez de havainas, botas caneleiras!
Em vez de camisinhas de braceletes, sobretudos!
Em vez de calções, capotes!

Há até quem diga que o próprio Borda D’Água, o gajo que escreve o almanaque dos agricultores, se pendurou dum barrote da cozinha do lume na casa da sogra.

As imperiais e os tremoços bem podem esperar. Isto está mais é para chá e torradas.

E eu feito parvo a pensar e a dizer que estou a pensar fazer a Festa da Castanha na semana que vem. Até que não era mal pensado.

Peço aos Deuses do Olimpo e ao São Anthímio de Azevedo que resolvam esta cegada de uma vez por todas.

Eu faço jus à velha máxima: “se não os consegues vencer…”.

Amanhã vou de gola alta e fato de água.
ESTOU FARTO DA CHUVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

7 comentários:

João, disse...

Que fraca é a memória dos homens…

Não tua, por enquanto, meu caro Pedro. Mas certamente a de alguns, mais velhos com que certamente fundamentas as tuas opiniões!

Não te estou a dizer, que os efeitos das maldades humanas, não tenham algumas das consequências sobre a natureza a que te referes, quem sou para por em causa as correntes dominantes e as “olas de la moda”.

O que te quero aqui referir, tem a ver com a minha curta passagem por esta vida, mas longa em relação à tua (infelizmente para mim), e de cima deste meio-século de existência te digo, que quando eu era criança e adolescente (e tu ainda não eras nada, ou talvez um projecto), em anos consecutivos, nos meses de Maio começava a chover no dia primeiro e ia até ao dia 31. Acompanhados de mais uma particularidade, todos os dias s havia uma trovoada em Marvão, para nos por a rezar à tardinha, debaixo desse arraial: “… santa barbara bendita, que no céu estava escrita, com papel e água benta (…) deus leve esta tormenta, lá para onde não haja pão nem vinho, nem flor de rosmaninho, nem mulheres com meninos, nem vacas com bezerrinhos (…), já os galos cantam, já os homens se “alevantam”, já o senhor está na cruz… para sempre amem…Jesus.”

Felizmente essas parece que se foram (talvez os campos electromagnéticos), mas a chuva está aí! Em Maio, e ainda bem, sinal que a natureza continua o seu ciclo periódico, e talvez ainda não lhe tenhamos feito o mal necessário!

Viva a chuva criadora!!!!!!!!


Um abraço

Clarimundo Lança disse...

Como é que a agricultura há-de andar bem.....
Estive hoje na Assembleia de Apresentação de Contas na Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, e diziam os des'entendidos, que esta chuva em Maio já deu cabo de quase tudo (feno, cerejas, uvas, etc.), mas as pessoas certas nos locais incertos é o que dá.
Vai lá para estas Assembleias a dizer que a chuva é criadora, que vens de lá com algum contraceptivo enfiado na mona.
Saúde.

Garraio disse...

Cada vez estou mais preocupado c'a minha memória...

Num me lembro de nenhum mês de Maio assim, nem parecido.

Só é pena não ser tão tão novito comó Pedro... ;)

João, disse...

Pois é meu caro Clarimundo, “infelizmente”, sobre as queixas dos agricultores portugueses, já todos estamos habituados. Eles estariam na mesma a queixar-se das condições climatéricas mesmo que não chovesse, ou mesmo se estivesse calor e todos nós sabemos porquê!

Mesmo nas tuas palavras, verificamos facilmente, que não se queixavam do “seu” trabalho com culturas (à excepção da vinha). Não se queixavam da perda das searas, porque não as semeiam, nem da perda de frutos nos pomares (preferem os subsídios para não as fazerem). Quanto aos fenos e pastagens para os gados (que é quase do que vivem esses agricultores e com subsídios, claro), só um cego, ou aqueles que só têm sensibilidade para o “tempo de praia”, não vêem, ou não percebem que o tempo “vai bom”.

Quanto ao Garraio… pois, talvez os ciclos do tempo sejam mais longos que o teu e talvez, esses “tempos” de que falo, possam ainda não ser das tuas “alembranças” e nem sempre andamos atentos às coisas que nos não interessam em determinados períodos da vida.

Falta talvez dizer, que nasci no campo, aí vivi até aos 14 anos, isto é, até 1971. Aí trabalhei, porque nessa altura não era crime as crianças (até aos 30 anos!) depois dos afazeres escolares, ou depois de 9 horas de trabalho, regarem as hortas, guardem e tratarem do gado, irem às compras, ajudar a semear, colher azeitona e cerejas (sem agricultura subsidiada), e tenho ainda a memória suficiente, para me lembrar desses tempos…

A aquisição e conquista de melhores condições de vida ainda não me cegaram…

Abraço

jbuga

Garraio disse...

Ora... ó João...

Eu tb não esqueço que desde os 9 anos que enchia copos de vinho detrás de um balcão, também colhi muitas azeitonas à jorna, e as veredas por onde te levei, há poucas semanas, palmilhei-as centenas de vezes, à noite, à chuva, ao vento, com diferentes tipos de mercadorias às costas... sujeito a levar um balinázio de qualquer filho de qualquer mãe...

Se houve infâncias fáceis, a Srª. de Fátima e os Santos Pastorinhos, tb não guardaram nenhuma pra mim.

Mas, lá chover tanto em Maio, disso é curioso que não me lembro.

A sério que não me lembro.

João, disse...

Ó meu caro Garraio, eu também nunca a medi.

Pesei alguma, porque me caía nas costas...mas que nos meus primeiros anos de vida, apanhei um ciclo de tempo, que assim era, era!

Aliás, ao falar desses tempos, é apenas para não alinhar como "carneirinho", que tudo se deve ao "buraco" do ozone..., que aliás, ainda não há provas suficientes, que esteja a ter uma influência assim tão directa, de "tiro e queda".

O que eu quero dizer é que acredito que ainda há esperança, sobre a natureza.

Que esta há-de ter capacidade de defesa e quem sabe regeneração (pelo menos a curto prazo), e que, não são estas pequenas variações de períodos, que nem duram a vida de um homem, que começamos a fazer avaliações e tirar ilações, de que vem aí o fim do mundo, " e de que nunca se viu coisa assim"...

Porque pior que a tal cultura "solexpresso", é a cultura tipo "correio da manhã ou da tarde", desta sociedade de consumo imediato, encomendada de alarmes e "estresses" da treta.

Tenhamos calma, que vida é curta para a querermos apressar. Porque como escreveu Gedeão, António:

"...quero eu e a natureza, que a natureza sou eu, e as forças da natureza nunca ninguém as venceu!" (ou deus para os crentes).

jbuga

Jaime Miranda disse...

Caríssimos amigos. Maio já lá vai, o que é uma grande alegria para todos os contabilistas e demais profissionais dos impostos. Acabou-se o prazo do IVA, do IRS e do IRC. Acabaram-se os serões até às tantas. Só falta mesmo chegar o bom tempo, para a malta carregar as baterias da boa disposição. Em apoio do Bugalhão, e da sua interpretação metereológica, lembro um provérbio popular, que não sei bem se se usa na nossa terra, mas que tenho ouvido muitas vezes nas últimas semanas - "Em Maio, cerejas ao borralho"
Sabemos que nestas coisas do tempo a sabedoria dos nossos avós é mais de fiar que a observação por satélite do anti-ciclone dos Açores. Não vale a pena especular.
Abraços.