A questão foi-me colocada nos seguintes termos: “O Senhor Padre disse que os meninos que forem à missa podem fazer a primeira comunhão. Os que não forem… nem por isso”.
Perante isto e não havendo alternativa, sendo co-responsável pela educação da piquena, nada mais me restou que vestir o fatinho domingueiro e rumar à igreja local.
Ali chegado, com um quarto de hora de adianto, sentei-me num dos muitos lugares disponíveis e entretive-me a olhar os raios de sol que espreitavam pela porta entreaberta, pintando o granito do chão de tons dourados. A penumbra e o silêncio reinantes contrastavam com o lindíssimo dia de Outono que convidava a longas jornadas ao ar livre.
Os fiéis, ou melhor, as fiéis (que eram claramente predominantes) cochichavam entre si e só muito raramente moviam as cabeleiras brancas armadas propositadamente para aquele efeito. A média de idades deveria então rondar os “sessenta e muitos”. Junto ao altar, uma senhora com ar de freira mas sem o respectivo uniforme dava as últimas instruções ao coro informal. Reconheci alguns dos hits entoados que ainda são do meu tempo de infância. Pelos vistos, os loucos “Anos 80” estão na moda também nos tops religiosos.
A maior parte da assistência entrou já depois das badaladas do meio dia e só então a casa ficou mais composta, sobretudo com a chegada destes familiares do defunto recordado/homenageado nesta cerimónia.
E eu perguntei-me: Porque estão as pessoas da minha aldeia afastadas da igreja?
Com o missal como banda sonora de fundo, fui pensando no assunto.
No meu entender, o divórcio deu-se porque a Igreja não os ouve, não lhes apresenta soluções, não lhes clarifica o futuro, não os ajuda a pensar e a viver. Para esses e essas tantos, a Igreja parou no tempo e não se modernizou, não actualizou os temas e os discursos, perdeu o comboio dos tempos.
Tomemos o caso da missa: para além da leitura das sagradas escrituras, da homilia e do simbolismo da comunhão, que mais tem para dar a um comum mortal para além de séries de repetições de frases feitas? Nos dias que correm, uma celebração deste género, com um só orador e sem qualquer espaço para o diálogo, começa a fazer cada vez menos sentido na cabeça de muitas pessoas que não se revendo no ritual, acabam por se afastar.
Será que não ganhávamos todos com uma Igreja mais aberta, mais interventiva, com espaço para a partilha e o diálogo, actual nos temas a abordar e mais virada para as populações?
Com este afastamento que eu tanto lamento, perde-se à ligação à palavra e assim, as bases da fé.
Eu sou um fã de Jesus Cristo e tenho pena que não possamos viver de forma mais intensa o poder deslumbrante dos seus ensinamentos. Cristo foi a primeira estrela pop à escala planetária, um aventureiro, um rebelde, um duro, o primeiro hippie e um verdadeiro rocker disposto a tudo, capaz até de recorrer à violência quando as circunstâncias assim o exigiam, como no famoso episódio em que expulsou os vendilhões do templo do seu pai à paulada. Um castiço! Um Homem muito à frente!
De tudo o que nos deixou, bastava que “não fizéssemos aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós” para que o mundo fosse tão diferente…
Eu gostava que a nossa Igreja fosse mais a de Cristo e menos a da poderosa organização que é hoje em dia, com todos os seus luxos e contra-sensos.
A minha filha vai fazer a primeira comunhão mas… será que sonha ao que vai?
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Na missa, os homens são poucos e sentam-se atrás. Eu tenho uma proposta rápida e eficaz para que o número duplique num ápice. No momento da comunhão em que se revive a última ceia de Cristo com os apóstolos, o sacerdote partilha o pão mas não o vinho, o que vai, de resto, contra as sagradas escrituras: “Tomai, todos e bebei. Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos os homens para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim”. Cumpra-se pois, o superiormente estipulado, de preferência com um bom tinto da região e depois falamos.
Na missa, os homens são poucos e sentam-se atrás. Eu tenho uma proposta rápida e eficaz para que o número duplique num ápice. No momento da comunhão em que se revive a última ceia de Cristo com os apóstolos, o sacerdote partilha o pão mas não o vinho, o que vai, de resto, contra as sagradas escrituras: “Tomai, todos e bebei. Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos os homens para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim”. Cumpra-se pois, o superiormente estipulado, de preferência com um bom tinto da região e depois falamos.
6 comentários:
Ai, ai, ai...
Que ainda és excomungado.
Abraços
Um tema muito actual, dada a polémica Igreja-Saramago. Para mim que sou ateia, em resultado de ter sido educada num colégio de freiras, é a evolução lógica: quanto mais informado e intelectualmente evoluido for o povo, menos necessidade tem de acreditar em dogmas.
Apesar de ir de vez em quando à igreja (leia-se em casamentos e funerais...) também me considero meio ateu, graças a Deus.
No outro meio, surgem-me algumas dúvidas, sobretudo depois do "tal" bruxo ter conseguido lesionar o Cristiano Ronaldo... será que ele, como prometeu, consegue deixar o rapaz impotente???
Coitadinhas delas, no?
não tem nada a ver mas cá vai: e para quando uma foto da barriguinha?
Cada vez vai haver mais ateus,veja-se agora o exemplo daquele Sr. padre que tinha um arsenal em casa,e foi detido pela GNR.Decerto não era para pregar a Paz!...
Eu considero-me uma catolica nao particante. Ao ler este post, sorri. Porque tambem ja me ocorreu fazer a mesma pergunta, porque nao dividimos o vinho na eucaristia? Numa ou outra ocasião, tal ja aconteceu...
A minha versão dos factos, prende-se com o pouco higiénico que seria todos a beber pelo mesmo copo.
Se alguem de direito nos quizer responder...
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