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Ontem vivi uma jornada histórica da minha existência: assisti à minha primeira aula de música a sério e cumpri um sonho de criança.
Foram duas horas de pura revelação que por obra e arte do nosso Professor Veiga, passaram a voar. Pode ter sido pouco tempo, dirão alguns. É capaz de ser o princípio de muita coisa, respondo eu.
Apesar de limitados por esse tempo, já deu para aprender algumas figuras e os tempos que lhe correspondem, com quantas linhas se faz uma pauta, o que é um compasso, e ainda houve tempo para alguns apontamentos de História da Música. Chegámos mesmo a fazer exercícios de solfejo e a ler algumas pautas. Já não volto a olhar para aquilo como um boi para um palácio.
Eu sempre quis aprender música. Lembro-me de me ter fartado de chatear o meu pai para me ensinar a tocar guitarra. Nunca passámos da terceira nota. Percebi anos depois, quando cresci, que o motivo pelo qual não avançámos mais não teve nada a ver com a minha falta de jeito ou motivação. Não avançámos porque sendo ele um autodidata, tudo o que tocava era de ouvido e ninguém, por muito boa vontade que tenha, é capaz de ensinar aquilo que não sabe.
E se há coisa que eu venero de paixão é a música. Não concebo a minha vida sem ela. Não imagino um dia que seja sem ela e habituei-me a viver com esta mágoa de não compreender melhor algo que adoro tanto. A dada altura da aula de ontem, o professor perguntou que motivos tinham precedido a nossa inscrição. Uns por isto, outros por aquilo e eu… para perceber. Sim… para poder apreciar melhor, para saborear melhor, para poder admirar melhor os sons que fazem a banda sonora da minha vida.
No último feriado municipal, no dia 8 de Setembro, quando assistia ao concerto da Filarmónica do Crato, no largo em frente à Santa Casa da Misericórdia, tive uma espécie de epifania. Encostado a um dos carros ali estacionados, debaixo das sombras das árvores envolventes, posicionei-me, quase sem querer, detrás de alguns dos jovens músicos. Ali pude apreciar com um grau de proximidade nunca antes por mim experimentado, a forma como liam as notas que estavam a executar. Surpreendeu-me a facilidade com que todos eles, exímios executantes apesar de bastante jovens, interpretavam os símbolos impressos nas folhas em miniatura presas às estantes com molas de roupa coloridas. Disse para comigo: “Se eles tão novos conseguem, eu também terei de conseguir! Estou quase a terminar o mandato. Tempo não me há-de faltar e a música pode ser o território, que tem tanto de imenso como de maravilhoso, a desbravar em seguida. Decidi ali mesmo, naquele momento, que quando estivesse liberto de tudo, haveria de me inscrever na música, para aprender o instrumento de sempre: a viola, isso sim, como meio caminho andado para a guitarra eléctrica. Sim!
Quem me havia de dizer a mim que isso haveria de se concretizar por influência da Associação de Pais, em parceria com a ACASM, da qual eu era presidente cessante? Seja como for, aconteceu e eu já lá estou. Não há volta atrás!
E foi bom ouvir dizer que aquela velha história da seca do solfejo antes de aprender o instrumento, foi chão que já deu uvas. No primeiríssimo dia, meteram-nos logo o guitarrão nas unhas e ala que se faz tarde. É óbvio que a grande maioria de nós, agarrou-se à viola com a mesma destreza de uma criança que pega pela primeira vez num talher mas isso não interessa nada. Eu já aprendi na minha vida que para se aprender, há uma condição indispensável para além de muitas outras: é preciso humildade. Quem tem coragem de reconhecer que não sabe e tem vontade de mudar isso, consegue certamente o seu propósito. Tenho estudado toda a minha vida: 16 anos até ao curso, 9 anos nas Finanças, a Pós-Graduação do ano passado e já vai sendo tempo de acreditar que não há tempo para não acreditar.
Tranquilizou-nos a todos saber que hoje em dia os métodos estão muito avançados e que a música é uma linguagem como outra qualquer. Disseram-nos que haveríamos de aprender a música como aprendemos a ler textos e que vamos todos aprovar.
Sempre aparecemos seis ou sete adultos e parece que vão ser mais. Para a guitarra somos quatro ou cinco. A malta puxa muito para o acordeão e prova-se assim que não há fome que não dê em fartura. Em breve não vão faltar acordeonistas para animar os bailes de arrasta-pé do concelho e para acompanhar o Rancho Folclórico local, tudo isto para grande azar do meu vizinho Manel Alpina que, estoicamente entregue à sua vontade, continua a desbravar com bravura e a seu único custo, os misteriosos caminhos que o hão-de levar a descobrir o caminho da harmonia do seu acordeão. Nas noites de Verão, é um gosto ouvir as suas notas trazidas pela brisa nocturna que embala o bairro, avançando titubeantes à procura de acertar na próxima, repetindo as anteriores a cada falhanço, como se tivessem medo de se esquecer do caminho que as leva de volta ao princípio da melodia. Se a virtude premiasse o esforço, este homem já tinha um Grammy de World Music. O que ele tem lutado para conseguir…
Maneiras que é assim. Temos tudo a nosso favor. Ainda hoje me lembrei do meu amigo Nuno Mota, Grande Músico e Artista do nosso concelho (hoje os elogios são meus), cujo talento compositor há-de ser reconhecido e justamente apreciado por muitas gerações de marvaneneses (Só “o Alentejo tão lindo” chegava e sobrava para provar isso mesmo. Nunca te esqueças que o Pessoa, considerado o maior poeta português, só publicou uma obra em vida e que o Van Gogh nunca vendeu um quadro enquanto respirou… Hoje valem o que valem! O tempo nisto é o melhor e sábio Juíz! Lá virá o tempo…) Mas dizia eu que o bom do Nuno me contou uma vez que quando à frente dos já míticos “Part-Time”, passava dias e noites de volta da aparelhagem, a sacar as letras e os acordes dos hits do momento que haveria depois de interpretar nas magníficas performances que levavam a banda pelos palcos da região e do país. “Hoje vai-se à net e tem-se tudo!”, exclamava ele. Tudo isso é verdade, meu caro, mas nem por isso há hoje mais grupos musicais e a visão romântica desses tempos de glória, essa sim é irrecuperável. Mas esta é uma história muito longa que só por si dava pano para mangas pelo que a deixo para outras calendas.
O que eu vos digo é que se agora quero saber mais sobre uma nova música que adoro, vou à net e tenho a poesia, tenho as pautas e já sei o que querem dizer os números e as letras e a que notas correspondem. Olaré!
Cheguei a casa arrepiadinho e com os pés gelados. O salão nobre dos Bombeiros sem aquecimento é coisa fresca nesta altura do ano, antes digno de um treino do GOE ou dos Comandos. E a piscina ali ao lado tão quentinha, com tantas salas disponíveis… mas enfim… se calhar não se pode sujar o chão. Dizia eu que cheguei arreganhado mas tão, tão “sastesfeto” como dizia quando era pequeno...
Sentei-me à braseira a aquecer os pés e vi deslumbrado ao magnífico “Tropa de Elite” que gravei do Telecine. Com a excitação toda do serão, escusado será dizer que levei a noite inteira a sonhar com metralhadoras AK-47, tiroteios nas favelas, “bailes funk”, e claro, pautas e muitas notas musicais. Quando o despertador tocou, estava a entrar com o recém-falecido amigo Sr. Tó Zé Correia de Nisa numa marisqueira para almoçarmos os dois. Ele todo contente, claro! Deu-me logo um grande abraço… Os meus sonhos parecem filmes do Fellini. São de ir à loucura! Se o Tio Freud me apanhasse lá esticado no tal sofá… tinha metido os papéis para os Caminhos-de-Ferro.
A verdade é que amanhã já chega a bichinha (leia-se viola) nova, directamente para mim, escolhida pelo Professor Veiga, com direito a uma sacola para a transportar e tudo. Estou capaz de ir beber café à pastelaria com ela às costas, assim numa de quem não quer a coisa.
Calma… por agora é aprender e progredir.
A seguir… hei-de fundar a minha “Grupa” e aí… o céu será o limite. Darei notícias. Até lá, fiquem em paz e que o Rock vos acompanhe!
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E temos também a ajuda das aulas do You Tube! Outra novidade! Esta é uma das minhas favoritas de sempre dos Stones. No cd "Stripped", o Pai Richards engana-se a tocar isto e pede desculpa ao Jagger. Tirada mítica! "I'm sorry! I missed the last tone...". Ai eu amo! Digam lá se não é assombrosamente belo? No dia em que eu conseguir tocar isto... bem... fujo para a Índia!
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Pois... podes explicar muito bem mas falta-te o feeling e não cantas uma beata. It takes a lot more, son... Ora mete aqui os olhos... Como diz o meu amigo Garraio: "Isto é que é tabaquinho!". Hell Yeah!
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1 comentário:
Amanhã primeiro dilema?
Música ou Futebol?
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