segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Chuva e saudade

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Não poderia haver coisa no mundo que me apetecesse mais hoje do que uma corrida de noite à chuva.

Sem música de fundo, sem companhia, a sós comigo.

Sentir o coração a bombar-me nos ouvidos, o sangue a percorrer-me o corpo em vertigem, os pulmões arfando por mais ar, as pernas arreando ao peso e à velocidade.

Hoje olhei de frente essa chuva que me tem aprisionado em casa nos últimos dias e desafiei-a, desejando que caísse com força sobre mim e me lavasse a alma.

Calcei as sapatilhas e saí.

Há algo de profundamente redentor na experiência de correr assim no escuro, debaixo de uma carga de água.

As crianças (que a sabem sempre toda…) adoram andar à chuva, saltar nas poças, molhar os pés nas valetas. Mas depois os crescidos dizem-lhe que não podem, que isso faz mal, que ficam doentes se continuarem e assim acabam por domesticá-los, por amordaçá-los, por agrilhoá-los. E os pequenos esquecem-se do feliz que se é quando se corre com a chuva gelada a bater-nos de frente, de como é bom senti-la cair quando temos a língua de fora.

Quase que aposto que não houve quem passasse de carro por mim e não pensasse ou comentasse com a companhia ao lado que “este gajo deve estar louco de vez”.

Há experiências na vida que não têm preço e apesar de serem de borla, são desprezadas por quase todos.

E eu estou grato por não as perder.

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António José Correia

No último dia em que nos vimos, no casamento do seu filho Paulo
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Este vai pelo Amigo que nos deixou hoje (mais um que partiu cedo demais…) derrotado depois de muito lutar, por essa gripe do nosso tempo que vai drasticamente provando ser mais letal do que poderia parecer.

Com um abraço de saudade, agradecimento por tudo o que me ensinou nas Finanças e muita amizade, este vai pelo Sr. Tó Zé.

Já não daremos mais abraços apertados como de cada vez que nos revíamos. Perdeu-se o sorriso franco e aberto… as longas tertúlias à roda da mesa, os repastos
na Taberna do Porto da Espada e no Sever, os lanches no seu Café… Já não faremos o almoço que vínhamos adiando na esperança de que já faltasse pouco.
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Partiu o Pai, o Marido, o Colega, o Nisense benemérito que era tão popular entre novos e velhos.
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Connosco ficam todas as boas recordações e a sua memória, para sempre nos provar que enquanto o evocarmos, esteja ele onde estiver… estará sempre connosco.

2 comentários:

Bonito disse...

A primeira parte deste post, “Chuva”, é do melhor que já li do Sabi! E já li muito de bom.

Uma das coisas que aprecio mais nos livros que vou lendo é quando encontro “passagens” em que o autor expõe algo que me deixa a meditar:

- É para mim claro que isto é mesmo assim, mas eu nunca assim o tinha pensado ou o saberia assim descrever!

Foi nesta perspectiva que apreciei esta “Chuva”!



Nota 1 – Ultimamente, ás vezes, também tenho tido o prazer de utilizar o impermeável ao fim da tarde (principio da noite), sempre com a secreta esperança (agora revelada) que o chuvisco engrossasse (como nos antigos treinos nocturnos e invernais no campos dos Outeiros). Mas, por aqui, vou-me cruzando, normalmente, com outros “loucos”.

Nota 2 – A foto está espectacular.


Abraço
Bonito

Pescada disse...

Foi um grande amigo que se perdeu...
Um homem honesto, franco, de bem com a vida, sempre pronto a ajudar o próximo, amigo de toda a gente, bom chefe, sempre preocupado com os seus funcionários...
Bem... podiamos passar horas a enumerar as muitas qualidades que ele tinha!
Chegou a hora dele, cedo de mais, diremos nós, porque ainda muito tinhamos a aprender com ele!
Um grande abraço para ele, esteja lá onde estiver...