domingo, 1 de janeiro de 2023

O Café Avenida... disse adeus

 


Estava há a dias a fazer um jantar de natal privado com um dos meus melhores amigos, senão mesmo aquele com quem mais me identifico, quando se sai com esta (ele, que não é, de todo, info-excluso; e é, até mesmo, grande craque a informática, mas que não tem redes sociais por opção muito própria): epá, nunca mais escreveste no teu blogue. Passo por lá por vezes apenas para saber se há algo de novo, e fico sempre… assim…

Claro que pedi desculpa, me justifiquei com o facto de hoje em dia, a rapidez e o imediatismo do facebook terem devastado grande parte do universo da blogoesfera;

que se eu quero escrever, também é porque quero ser ouvido (e que se isso não acontecer, mesmo que estejam contra, mas nunca indiferentes!!!!; nem sequer vale a pena!), e ali tenho mais noção imediata disso;

que dificilmente podes combater contra um espaço que pergunta a quem quer lá entrar: “Em que estás a pensar…”  (tão simples como isto!);

que é impossível conseguires que te ouçam quando tens um lugar que oferece a possibilidade de ser ouvido à imensa multidão de qualquer um, por mais troglodita e desprovido de senso que seja, de ter tempo e espaço, até apenas para replicar prestações de outros, que compita com quem se esforça para deixar a sua marca.

 

Mas a verdade é que não consegui deixar de me sentir canalha, culpado pela minha displicência, por ter deixado para trás quem me seguiu tão fielmente, ao longo de 15 anos (desde quinta-feira, 24 de maio de 2007, quando o iniciei)!!!

Afinal, foram centenas e centenas, por certo milhares de horas a escrever, muitos milhares de fotos, frases e palavras… e é muito triste cair assim no esquecimento, sem mais, nem meias.

Já dizia o bom do Lavoisier que na “natureza nada se perde, tudo se transforma”, e é bem verdade! O vosso dRoCaS Sabi não deixou de pensar, de se exprimir, de tentar chegar aos outros, mas agora fâ-lo de uma outra forma, muito mais imediata, pragmática, fácil de facebookutilizar, sob o mural do seu nome: Pedro Sobreiro.

 

Já não estou numa de passar duas horas ao pc ao para dizer aquilo que quero, nem sequer tenho sentido saudades disso, devo confessar. Os dias esgotam-se de uma forma tão vertiginosa que pouco tempo fica para, e passo bem sem isso.

  

Continuo a fazer como sempre fiz: a exprimir-me de uma forma desagrilhoada, completamente livre (como adoro ser), rebelde, com a sua dose de loucura, sem prestar vassalagem, ou qualquer tipo de limitações.

 

Regra geral, os assuntos são tratados no facebook, e ali ficam para a posteridade; mas ultimamente, apenas sobem aqui ao blogue quando têm, quanto mais não seja para mim, um papel preponderante. Mesmo aí serão sempre noticiados na rede que é seguida por todos… enquanto não venha outra. Procurem-me neste blogue, ou em Pedro Sobreiro no facebook e estarei lá, até Deus querer.

 

Perguntaram-me há dias, com alguma, muita graça, se tinha algum acordo com uma agência funerária daqui, porque isto, ultimamente, no blogue, tem sido só óbitos! Oxalá assim não fosse mas… que fazer?

Não vou fechar este blogue, como tive a infeliz intenção de o fazer, certo dia, porque por muito tempo que esteja sem nada publicar, e por mais que o faça no facebook, ou noutra rede social que lhe suceda, esta há-de ser sempre uma extensão de mim.


 

Nem de propósito, ontem (31.Dez.2022) foi um dia triste para a nossa terra (Santo António das Areias), porque o “Café Avenida” fechou as suas portas. É sempre de lamentar quando uma instituição de várias gerações termina o seu ciclo, mas neste caso, temos de compreender. O Sr. José Pinadas já atingiu a sua idade de reforma há algum tempo (era colega do meu sogro na firma Nunes Sequeira S.A., e já estava na pré há algum); a sua esposa, a querida D. Adélia, também já não tem a saúde viçosa de outrora, e a sua filha; a minha querida quinta Helena, tem o seu emprego, a sua vida, e também quer ter direito à sua privacidade, que as vidas atrás de um balcão são do mais desgastante que pode haver, e consomem imenso a quem lá está.

 

Conversava eu com outro amigo acerca desta temática, à porta, entre um cigarrito e um drink,  e constatávamos a volta que esta localidade tem levado, em termos de perda de população e espaços dedicados a servi-la. Quando as firmas Sequeira, o grande motor económico e social da localidade, estavam no auge da sua pujança, quando as horas de entrada e saída das firmas faziam lembrar o rebuliço de uma cidade, havia dinheiro para tudo e para todos, e agora… que vamos sendo cada vez menos… tudo parece definhar.

 

Na Avenida ficam apenas o Tapas, mas isso é mais um Supermercado que outra coisa qualquer, que também vende bebidas, mas enfim; o Sr. Saúl que… já não caminha para novo; a Pastelaria do valentão Caldeira; a D. Estrela do Adro (que abre bem cedo, com o Vítor, e fecha tarde); e mias acima, o Pau de Canela que é mais restaurante, o David Caldeira no Ninho, e o bar da D. Algarvia nos Bombeiros, sendo que as bombas diz que vendem também muita mini, mas eu não sei que não sou cliente; e creio que nada mais resta, agora que a Luzia fechou o Miradouro e foi à procura de carreira na sua área de educadora para Lisboa, e fez muito bem, que nunca é tarde para seguirmos os nossos sonhos.

 

Há poucos e cada vez menos, porque nós também somos poucos, e temos mais tendência para acabar, que para nos multiplicarmos, e uma coisa leva à outra.

  

Vivamos com o que há, saibamos estimar e ajudar, porque vamos todos no mesmo barco.

 


Apetece-me agora, e porque esse é o real motivo desta publicação, de prestar uma homenagem a este estabelecimento maravilhoso, a este casal encantador, e de assim lhe agradecer pelo serviço absolutamente inexcedível que prestaram à população.

Segundo soube, porque andei-me a informar, e perdoem-me se algum dado não está correto, o edifício matriz foi mandado construir pelo pai da D. Adélia, quando regressou de França, e teve diversos inquilinos ao longo dos anos, entre os quais contam o Sr. Saúl, ao qual se seguiu o Sr. Amador, anos depois; até que voltou à D. Adélia, quando o seu marido se aposentou.

  

Ali imperava tudo aquilo que deve de existir numa casa deste género, no meu entender: enorme simpatia, um sentido de servir verdadeiramente exemplar (as conversas de quem estava fora do balcão ficavam de fora do balcão, o proprietário nunca interferia em nada, ou emitia a sua opinião, a menos que lha pedissem), asseio e higiene do mais alto nível, na falta de imperial, as minis sempre geladíssimas; tremoço e amendoim com fartura; televisão de grande ecrã plano sempre na bola desde que a houvesse; casas de banho imaculadas (sempre ouvi que se queres conhecer o asseio de uma casa pública, visita os seus WC antes de pedir), enfim… dava gosto e a saudade já é imensa.   

 

Ali encontrava sempre três, ou quatro, ou cinco, ou mais amigos que eram indefetíveis daquele espaço, que me fartei de lhes perguntar onde passarão a ir agora, porque nunca os via noutro lado algum, e agora tenho medo de os perder; e ainda não sei onde estarão.

 

Enfim… há que seguir em frente. Ficará sempre a saudade imensa, até de quando serviam lá refeições, ao lado, e dos bons tempos que passei ali.

 

Pedi ao amigo José se podia tirar uma foto com ele, de recordação, mas ele, muito recatado, e de perfil muito comedido, pediu-me que era melhor não. Respeitei, claro, até porque o senti emocionado.

 

Aos meus três Amigos: à Leninha, ao Sr. José e à D. Adélia, desejo toda a saúde do mundo, e que possam gozar estes anos pela frente da melhor forma possível.

 

O vosso Amigo Sobreiro estará sempre aqui, como sempre estiveram por mim!

 

Sejam felizes!

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Pedro,
estou como o seu amigo, e tal como ele, também por opção não tenho redes sociais e sim, também eu venho aqui com muita frequência à procura de novidades e nada. Folgo em saber que está tudo bem e que a ausência do blogue se deve só a preferir outras maneiras de comunicar.

Desejo-lhe a si e aos seus saúde e muitas alegrias.

Um abraço