O golo de Pedro Mantorras frente ao Rio Ave no passado sábado é um momento de puro encanto capaz de concentrar em segundos toda a magia do futebol.
A noite estava péssima, o equipa adversária, esforçada e muito combativa; o Benfica já estava sem soluções perante a sorte do jogo e o azar que insistia em fazer dos postes da baliza adversária um último reduto defensivo intransponível.
Aos 66 minutos de jogo e ao utilizar a segunda substituição, Quique Flores decidiu ir contra todas as expectativas e teorias dos treinadores de bancada e de sofá, optando por não soltar no jogo um dos seus trunfos mais possantes fisicamente, apostando antes no mais improvável dos avançados do plantel, para gozo e gargalhada geral dos rivais directos.
Acontece que Pedro Mantorras está sempre disposto a tudo mas nunca a ser o bobo da festa e os verdadeiros benfiquistas não esquecem que o último título de campeão nacional tem muito do perfume deste angolano, em golos marcados já muito perto do apito final, quando a velha raposa italiana apostava nele em cirúrgicas substituições em cima da hora para dinamitar o futebol encarnado dos últimos minutos.
È por isso que os adeptos o acolhem sempre com fervor e devoção, numa ligação afectiva singular de quem acredita que a partir do momento em que pisa o relvado, tudo pode mudar, tudo pode acontecer…
E neste sábado, quando o dilúvio parecia querer engolir a capital, o cisne negro, manco e titubeante, demorou apenas 3 minutos para instalar o delírio nas bancadas, no banco, no país e no mundo, onde muitos milhares de corações benfiquistas vibraram de emoção.
A sua manobra no lance é todo um compêndio do que deve de ser um avançado, desde o momento em que ganha a posição, ao compasso de espera em que deixa bater a bola para poder encher o pé, à rotação perfeita em direcção à baliza, até ao remate certeiro que só termina no fundo da malha adversária. Simples, prático e directo. Sem concessões! Chupa!
E a minha paixão pelo Benfica é feita disto também… Num momento em que o dinheiro parece comandar tudo e todos, a inviabilidade da utilização regular de um jogador como Mantorras já o teria certamente atirado para os distritais, senão para o desemprego mesmo, caso não estivesse num clube que assume moralmente a sua quota-parte de responsabilidade na sua condição física e que tudo faz para o reabilitar enquanto atleta e enquanto homem que teima em se afirmar com um dos símbolos maiores do Benfiquismo ao continuar a assinar momentos gloriosos nas páginas da sua história.
És grande!
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PS: Quanto à vitória… grão a grão enche a galinha o papo e são 3 pontinhos como estes que eu acredito que dão direito às faixas no final da temporada. A ver vamos…
1 comentário:
Eu também sou um Benfiquista sofredor, mas naquele sábado chuvoso, tive uma premonição :
- o gajo vai marcar, disse à família. Marcou mesmo .
Faz falta raça e músculo à frente de ataque; o Suazo e o Mantorras, a espaços têm essas características.
Abraço ! Hermínio .
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