sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

9 anos de ti, Alice



Que boa que é a vida contigo.

Muitos parabéns, querida filha.
Escrevo-te na esperança de um dia poderes vir a ler, e compreender estas palavras, esteja eu, ou não.  

Vieste muito desejada, querida, e tentada.

A tua forma de ser e viver, vinha marcada no teu rosto quando chegou a estre mundo todo arranhado pelas unhitas, ainda antes de estas verem a luz do sol.
 






 


Sempre alerta, disponível, intrépida, espevitada, mesmo agora me disseste: “ó pai, o meu Powerpoint (que estavas a fazer para a escola), está fantástico!”
- “Isso imagino eu, filha!”, disse, “tem de estar…” (senão, tu nem sequer descansavas…)

Quem é que me haveria de dizer, meu Deus, que um dia haveria de ter uma filha de 9 anos que acabou de fazer num computador, um trabalho para a escola. É certo que o pc é em segunda, ou terceira mão (do pai e mãe para a outra filha, e só depois para ela), mas agora é teu, e isso é tudo o que interessa!

Uma força de vida, é a designação que para mim, melhor a ti se aplica. A máxima de não deixar ninguém a ti indiferente, é a tua natural imagem de marca. E que ainda bem que assim é.

Hoje de manhã, depois de os novos vizinhos me acordarem, como sempre, com o rugido incomodativo dos motores a gasóleo a aquecerem tempos sem fim ao relanti, na rua mesmo aqui em baixo, vieste esgueirar-te para a minha cama junto de mim, quando a mãe e a mana já mexiam para o dia lá em baixo, uma a correr para o autocarro, outra para passear o Sr. Sizzle. Deserto de descansar mais meia horinha, cocei-te as costas como me pedes sempre, na esperança que me acompanhasses, e tu, esticando-te hirta, num frémito, disseste: AMANHÃ FAÇO ANOS!!!!!!

- “IUPIIII Alice…”, agora fecha os olhitos que ainda é muito de noite, e se estiveres sossegadinha, o soninho bom vem a ver de ti.

Nada! Nada, nada! Ao ponto de, amolado, ter fugido para a casa de banho para me despachar, rosnando entre dentes que “se não queres dormir mais, para a próxima fica na cama a ver bonecos na televisão, ou vai para baixo para junto delas, mas deixa-me a mim!”
Reagi demais. Desculpa.

Durante o dia, tenho pensado muito como era o Pedro com 9 anos. Esse estava muito atrás daquilo que tu és hoje, mas os tempos eram outros. Os brinquedos e mecanismos que tínhamos ao nosso alcance, não nos permitiam dar o salto, é certo.  Boa desculpa.
A memória mais viva que tenho dessa altura está relacionada com o campeonato do mundo de futebol da Espanha, personificada pela mascote “Naranjito”, cristalizada num momento épico que foi o jogo em que os meus ídolos brasileiros de então: Sócrates, Zico, Éder… caíram aos pés de uma Itália diabolizada pelo pequenelho Paolo Rossi. O que eu chorei nessa tarde, sozinho, soluçando, prostrado no chão da casa da minha avó Joaquina, de tal forma que a pobre teve de ligar para o escritório onde trabalhava o meu pai, pedindo reforços:
- João (o meu pai), o menino está mal. Só chora…

Já era eu.

Cada um é como é, e eu só tenho é de te aceitar como TU és. Gostava que fosses mais carinhosa, mais querida, mais menina do papá, mais mimosa, mais bébézoca, mas tu és… como te dá na veneta e na real gana. Continua a gozar comigo por ser careca, e a ralhar-me por mandar o cão sair para eu me sentar, por segundo a tua versão, ele já lá estava, e tem tanto direito quanto eu! Ainda assim, só tenho é de dar graças a Deus por te poder ter. Tinhas 1 ano apenas quando eu, por displicência, descuido, e estupidez, quase deitei tudo a perder, num acidente estúpido, num dia tonto, sem qualquer outra legitimidade senão a loucura.

Vingo-me agora quando já dormes e antes de ir descansar, me aproximo de ti para te ver dormir descansadinha, te beijar, rezar, dar graças a Deus e agradecer.

O amor que sinto por ti não tem escala, medida, ou qualquer possibilidade de diminuir. Dar-te-ei sempre tudo, como à tua irmã Leonor.

Ser teu, vosso pai, é saber que por maior que seja a burrice que faças, eu estarei sempre aqui de braços abertos, à tua espera, nem que seja a penalizar-me por não te ter aconselhado bem.

Amanhã teremos cá a dormir a tua melhor amiga, e iremos comer ao teu chinês favorito. Como não pedes prenda e, graças a Deus, dizes que tens tudo (embora seja tudo em segunda mão, gadgets e roupas, isso não interessa nadinha. Tens e prontos!) é o mínimo que podemos fazer. Eu, e a tua mãe que, na nossa casa, é o pai também, só queremos que sejas feliz, filha.

Que Deus te abençoe.  

PS: E um dia prometo que te hei-de levar à Eurodisney, como fizemos com a tua irmã. Os tempos eram outros, mais desafogados. Mas a magia estará sempre lá, e eu sou homem de palavra. Haveremos de nos rir muito naquelas montanhas russas. Acredita em mim!









































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