segunda-feira, 25 de março de 2019

Nas pernas do desejo (correndo atrás de um sonho)


A Deus, que me carregou, e ajuda sempre, o meu refúgio, a minha força, nada é impossível! 
Estou... satisfeito e agradecido.
Ajudou-me a fazer o que eu pensava impossível. Tão feliz...
(Sempre com as cores e o símbolo do GDA)



Os 3 estarolas de Marvão...
FEITA! À BENFICA! 2h:32m:54s!
SEMPRE SEM PARAR, A CORRER, E A BOMBAR!!!!

Eu, e o meu Barba de Chibo favorito!!!
Lhi amu milhões, GUAPA!!!!!


Quando dei por mim a olhar para a ponte 25 de Abril naquela manhã de domingo, aquela que foi minha durante quatro longos anos, aquela que me deixei tantas vezes dormir a ouvir os carros a rodarem no tabuleiro central, desde as águas furtadas onde vivia, na Rua Presidente Manuel Arriaga, às janelas Verdes, nem queria acreditar que era verdade. Eu estava mesmo ali. Eu ia cortá-la, e tentar fazer a minha 4ª travessia do Tejo a correr. 

Tão distante e impossível que isto me pareceu, meu Deus… Como foi é que foi possível conseguir voltar a estar ali?

Olhando em frente, vendo os pilares centrais e a sentindo a adrenalina que estava no ar, entre os milhares de atletas de todas as nacionalidades, brancos e negros; europeus e americanos, novos e velhos, ruivos ou afros, cabeludos e carecas, revivi, tão depressa, tudo.

Ainda há 8 anos atrás, quando tive o acidente, não conseguia sequer perceber, ou explicar no cérebro e comandá-lo, que uma perna tinha de avançar primeiro que a outra, para que esta lhe seguisse, e conseguisse assim, andar. Digo isto, não para me gabar do que fui capaz. Quem me conhece bem, sabe que essa não é mesmo, de todo, a minha vontade. O que eu quero ser é um grito de revolta, de fé, nem que seja em quem precisa, de que pode tudo correr bem.

Nesses primeiros tempos de recuperação, quando andava na fisioterapia no Hospital de Portalegre, o desespero por temer que jamais voltar a ser o que era, era atroz. De rapazola que fazia meias maratonas em 1 hora e 40 minutos, passei para aquele que… não era capaz de correr 50 metros! Eu queria tanto, esforçava-me, dava tanto mas… as pernas pesavam toneladas, e até o facto do braço direto já não dobrar, me atrapalhava.

Tentei a bicicleta mas…, por não ter o equilíbrio suficiente, caia. Cheguei a temer ficar gordo, flácido, via-me a encher, quadrado, pesado, triste, parado. 

Nem chorar, que era só o que me apetecia, eu conseguia, porque até isso o acidente me levou, a capacidade de me emocionar às lágrimas.

O grito de revolta foi dado nos pedais, de uma bicicleta que a cantora Simara ofereceu ao meu sogro, João Manuel Lança, num concurso, creio que da Zaes, as antigas sapatilhas que “imitavam” as All Stars, feitas na nossa terra. Por ter um quadro “de senhora”, daqueles nos quais era fácil retirar a perna no caso de desequilíbrio, comecei por ali, e em pouco tempo já rodava na minha bicicleta de montanha, por Castelo de Vide, Portalegre, e por aí.

A corrida veio também assim: primeiro… 500 metros. Depois um pouco mais, até à Fonte dos Mortos, ao Valongo, à Ranginha, Beirã, Marvão… comecei nos 4 km…, depois 5…, 6…,9…, 10 km, e dai sempre em frente… até isto!
Esta prova… é a minha prova, a derradeira, a definitiva, o selo de garantia que eu precisava!

A lancheira estava muito bem aviada!
Não comi nada...

As bifanas de Vendas Novas não deixaram...


É o autocarro do amooooooorrrrreeee...





Como é lindo, o dia a nascer ali...





Os meus objetivos nesta meia maratona eram claros: chegar ao final, vivo, se possível… sempre a correr. Ambos forma alcançados, no meu entender, com distinção, o que é, para mim, um orgulho tremendo.

Foi tudo… menos fácil, isso também tenho de confessar. A última meia que fiz, foi há já… 9 anos, e Deus… tanta coisa aconteceu desse então… 
Treinei, é certo, nunca descurei, sempre corri, nadei, andei de bicicleta, mas… hoje peso mais 10 quilos que da última vez, redescobri o prazer de fumar um ou outro cigarro, estou umas década mais velho e que década! Depois daquilo tudo que me aconteceu… Quando vais ao coma… tens de reaprender a fazer tudo! Falar, até andar!!!

Tudo isso pesava, tudo isso me fazia sentir algo, ou muito apreensivo, e a pensar se de facto seria capaz. 

Consegui um plano na internet, que me dava a garantia de uma prova estável e equilibrada, mas… pelo desafio da participação no Corta-Mato de Marvão, abandonei-o e vivi  em suspenso, sem ter a garantia que, de facto, era capaz. 
Apesar de saber que não era de todo aconselhável, cumpri a distância na íntegra nos dias antes, porque o que quis mesmo foi saber que era mesmo capaz. E cumpri-as! Pelo menos, sabia ao que ia.


Estando ali, sob o olhar atento do Cristo Rei, o frenesim respirava-se, no ar. Enfiado no meio de tanta gente gira, saudável e bem-disposta, a ouvir falar tantas línguas diferentes… castelhano, francês, inglês… senti-me um privilegiado, por poder pensar que era capaz, por estar mesmo ali, e por tudo não ser apenas um sonho.

Aquilo foi… viver aquilo foi… de tal forma que me fez pensar “eu treino para isto! Eu não ando a correr o ano inteiro para me sentir bem, para me sentir vivo, eu não corro para ser saudável, para manter os níveis. EU CORRO PARA ISTO!!! Sempre que Deus me der saúde, tudo farei para não falhar e aqui tenho de dar já os parabéns ao meu município de Marvão, em particular, ao Professor Nuno Costa, por ter ajudado a tornar tudo possível. Quando me despedi dele no autocarro, dei-lhe um beijo. Conheço-o há muito, desde que era miúdo, sou amigo da sua família, do pai, da mãe, dos tios, do irmão, de todos, que são pessoas extraordinárias, e ele não poderia ter feito mais e melhor. Tratou de me conseguir o dorsal atempadamente, conseguiu garantir o autocarro que nos levou à capital, trouxe de volta, são e salvo… só não correu por mim! J

Antes da saída da corrida, quando ainda faltava 1 hora, a excitação era imensa. Juntou-se a mim o meu querido Amigo Rui Miguel Caixado Pescada Ribeirinho Pinheiro, um tanganho de quase 2 metros, e com quase 100 quilos que é… uma jóia de criança! Aquela cabeça e aquele coração são do melhor que pode haver, e acho que me apaixonei de imediato quando o conheci em Nisa, no ano 2000, no momento em que entrámos juntos para as finanças. Naquele então era dono do restaurante “Escondidinho” em Portalegre, e, para além de ser um trabalhador extremoso, que ia bolir um segundo dia depois de largarmos as finanças, era gajo que levava o prazer de comer, e beber, ao ponto de não deixar nada para fazer se o mundo acabasse no dia a seguir. Fumava muito, dava-lhe bem e… se me tivessem dito a mim, em 2002, quando vim para Marvão e nos separámos, que ainda haveríamos de fazer uma meia maratona juntos… ou, que iria ganhar o Euromilhões para o qual nunca jogo, claro que apostava no segundo, porque seria o mais possível.

A sorte grande... e a terminação!
Tenho 1,79 m... mas parece que venho de Lilliput

<3







Ahhhhhh... João!!!!!!
Isso não!!!!!!!!!!!!!!! Desculpa lá!!!!!!!

Portou-se… 5 estrelas. Sempre num passo firme, cadenciado… fomos sempre lado a lado. A nós, juntou-se o João Luís Garção, outra jóia, que em princípio ia para a caminhada mas… depois entusiasmou-se pelo nosso encorajamento, meu, e do Rui Gavancha, o nosso valor mais seguro e bem preparado, que decidiu vir também aos 21 quilómetros! 












A saída da ponte, aqueles 3 quilómetros e meio são… duros! É muita gente, parecem formigas, a atropelarem-se, uns a engonharem em blocos de 4 lado a lado que é uma coisa proibitiva e difícil de ultrapassar, outros fosquinhas que vêm de trás e o que querem é passar à frente, muito rebuliço, muita confusão, e a merda da minha aplicação Runtastic, fundamental para ir sabendo qual o quilómetro em que ia, e para conseguir dosear o esforço, que deu o peido mestre, e deixou de se ouvir. Ora ali, logo ali, se me parasse a ver se conseguia arranjar, já estou a ver os noticiários da CM TV, a abrirem com “HOMEM ALENTEJANO FOI ABALROADO NA PONTE 25 DE ABRIL PELA MULTIDÃO DE CHINESES, RASTAFARIS, E UM, OU OUTRO, INDIANO, TAMBÉM!” (uma desgraçada chinoca ia marrando comigo mais abaixo quando haviam duas vias e ela vinha mais atrás, do outro lado, que me levou a gritar: AI MINHA DESGRAÇADA, MINHA VISTOS GOLD!!!!! LEVAM-NOS A EDP QUE ORGANIZA ESTA CORRIDA, LEVAM-NOS TUDO E AINDA ME LEVAS A MIM TAMBÉM, PARA OS CONFINS DOS INFERNOS!!!)


Quando acabei de atravessar a ponte, vi uma marca a dizer que tinham passado 3 quilómetros e meio, ou quatro. 3 E MEIO?!?!?!?!? 4?!?!?!?!?!?!? DASSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS… E AGORA OS OUTROS 16?!?!?!?!?!?


Utilizei uma técnica, que para mim, é a essência de correr: tu não corres para chegar a um lugar qualquer! Tu corres por correr! Para não estar parado! Por isso, vai enchendo os pulmões de ar, dando à canela e vai andando! Só isso! Se puderes, vai olhando para te ires distraindo e vai desfrutando! E assim foi! Depois da ponte, fui gozando passar na minha zona quando eu estudava lá, e vivia ali: Alcântara, os agarrados do Casal Ventoso que ainda há por lá muitos, todos esmifrados das garrouchas, a verem quem passava…

Fiz a “minha” 24 de Julho, vi a “Infante Santo”, o “Mercado da Ribeira”, o “Cais do Sodré”, e virámos em direção à ponte! Houve sempre, logo em Alcântara, muita água, muito Powerade, muito escuteiro a ajudar, muito apoio, muita segurança, muita organização! É um prazer estar ali!

Fui-me abstraindo da distância e tentando ir distraindo com o que tinha à minha volta. No autocarro, o Rui Gavancha explicou que tinha estudado a prova no site oficial, e ali fixei que quando passássemos debaixo da ponte, metade da distância estaria feita, 11 quilómetros, o que eu corro muitas vezes por aqui. Ai imaginava que poderia sentir-me algo cansado, mas isso eu já me senti logo ao sai da ponte! O ritmo começou logo muito acelerado, e é impossível nós conseguirmos manter um ritmo baixo quando somos praticamente arrastados pela multidão! Eu fiz os 21 quilómetros numa passada muito constante, a rondar os 7 minutos por quilómetro, o que é muito para mim!

A Prova

Os troféus!



Passámos debaixo da ponte e aquela parte do MAAT, na via rápida, com a brisa do rio, deu para serenar. Passámos na Junqueira, onde fica o “meu” ISCSP, junto à antiga FIL, e o cabrão do Pescada, foi sempre a gozar comigo por as minhas colegas Teresa Dimas e Joana Latino, trabalharem na SIC, quando eu não consegui mais que voltar para a minha terra e trabalhar nas finanças. Ai eu… Lembro-me tão bem de ter estado a falar com a primeira naquela paragem do autocarro 56, quando ela foi prestar provas à SIC, e eu… fiquei a acabar o curso, porque era para isso que lá estava…

Passámos Belém, e fui sempre à espera do sítio onde teríamos de virar. Algés nunca mais chegava.
“É já ali! Já estou a ver onde é!!!”, dizia o Pescada, e … nunca mais!!
“É já a…
“PORRA!!!!!!!!!!! MAS NUNCA MAIS?!?!?!? CALA-TE MELHER!!!! QUE EU JÁ ESTOU COM NERVOS DE NUNCA MAIS!!!!  e ao nosso lado iam passando os que iam à frente, que já voltavam os que já iam acabando…
Inveja…

O meu trajeto... <3

Até que chegámos, fomos sendo muito refrescados pela água, barritas energéticas, e eu já precisava tanto, que se me tivessem dado um supositório, até essa merda acho que tinha metido, de tão ansiado que vinha!!
Começámos  ver os 16 km, os 17… os 18, e umas balizas de chuveiro tããããããããããoooooo boas que só me dava vontade era de me deixar lá deixar ficar um bocado debaixo daquilo…
Já completamente embuídos no espírito “JÁ CHEGÁMOS!!!!”, eu estava que não podia.
Eu sei que fica mal, e que não deveria ser eu a dizer isto, mas deixem-me dizer que sinto tanto orgulho em mim, que não consigo explicar. Que coisa, meu! Conseguir voltar a fazer isto é… uma coisa capaz de me deixar sem, palavras.

Onde eu estive…

Num buraco tão negro, escuro, e terrível… o tanto que eu tive de acreditar em mim, a força que eu tive de ir buscar para me reerguer…

Só posso é agradecer, a Deus, o meu refúgio na dor e no silêncio, a minha força que me faz ir buscá-la onde eu pensava não a ter…,

Agradecer à minha família, a todos esses meus queridos, todos eles!!! que nunca me deixaram só (à minha Cristina, a força maior da minha vida, pequena, mas GIGANTE; ao meu sogro, que andou a carregar comigo, semanas a fio, para a fisioterapia; às minhas tias, à Fatinha e ao Carlos que foram com a Cristina atrás de mim quando estava internado em  Lisboa, aos meus cunhados que vieram para a minha casa para as pequenas não terem de sair de cá, na nossa falta; aos meus primos da Covilhã que ligavam sempre ao meu irmão para ir sabendo, ao meu irmão que ia deixando a mulher grávida e o filho para ir saber de mim, à minha mãe, e sogra pelo apoio, aos meus amigos todos que se preocuparam comigo, e em especial, ao João Bugalhão que me escreveu um manifesto com o relato desses dias, que tem um valor imensurável para mim… a TODOS!!! Tão obrigado! Esta vitória vai por vós!

Se cruzarem com um sujeito na rua que caminha sem tocar no chão, de tão cagão que está, não liguem. Sou eu…

Com o João e o Pescada! <3 


Com o Rui Gavancha, o Aureliano Videira, e o Lourenço Maroco Costa





Ahhhh... aqui, sim!!!


Ahhhhhhhhhhh... está de lanchinhos, está!
Cremezinho de cenoura, a maravilhosa bifana, a bela da batatinha, e a babosinha...
<3

Vimos o dia fechar... com fato de gala...




Para os netos!!! Sonho!!!! Obrigado, meu Bitchinho! <3











1 comentário:

Unknown disse...

Primo vale mais quem muito quer do que quem muito pode.