Aproxima-se a passos largos o dia 8 de Setembro, Feriado Municipal e dia grande, dia maior da comunidade marvanense. Nesta data, gentes de todas as paragens, mesmo das mais remotas, sobem ao alto do monte para homenagear a sua padroeira, agradecer a protecção recebida ao longo do ano e pedir olhamento para o que se segue.
O dia depois de amanhã, esse 8 de Setembro, é um dia ainda maior para mim porque é o dia de anos do meu filho adoptivo, o anos do Manuel da Conceição Carrilho Martins, mais conhecido por Manel Gira, ou Manel Bodes, ou Gira Bodes, mas eu gosto de lhe chamar só Manel.
No ano passado, por estas alturas, andava de fotocópia do B.I. na mão, a mostrá-lo a toda a gente e eu não fui excepção. “Viste, viste?”. “Viste o quê, Manel” e seguindo a indicação do seu polegar pude ler “Data de Nascimento: 08-09-1962”. Quis o destino que o Manel nascesse na data mais nobre do concelho. A mim parece-me bem.
Como nesse dia eu tinha, por obrigação protocolar, um dia cheio daquilo que ele mais gosta, convidei-o a ir comigo. Á hora marcada não falhou. Mal saí à porta, já ele esperava junto ao carro. Seguimos os 3, eu, ele e a Leonor. Junto à Santa Casa esperámos a Banda do Crato que ele dirigiu solenemente de seguida, com muita perícia por entre os obstáculos naturais de Marvão.
Assistiu com dignidade à cerimonia do hastear da bandeira e no final, durante o beberete, cantámos os parabéns ao som da orquestra, a ele e ao companheiro da banda que também desaguou nesse dia, e partimos o bolo que a Dona Maria Jacinta Lança, filha de um também muito grande amigo do Manel, fez questão de oferecer. Era de chocolate e o Gira, ficou com aquela carinha de felicidade que hoje todos podemos recordar no vídeo em baixo, graças à cortesia de uma camerawoman de eleição, a minha querida amiga Emília Mena (Máquina! Tás em todas!).
Nunca mais me largou. Fomos juntos à missa e dali, ao almoço dos Irmãos da Santa Casa. Portou-se 5 estrelas! Comeu com uma correcção e uma delicadeza que não se reconhece em muitos fadistas cá da zona que se acham de gabarito. Repetiu foi os 3 pratos, duas vezes cada, três o doce!, mas isso quem o conhece bem já sabe que o rapaz é de alimento. Álcool zero! Só suminho, Joy, que estava muita bom.
Bebemos café, assistimos ao concerto da Banda antes da procissão, acompanhámos a mesma pelas ruas e no final, ainda ajudou a levar as cadeiras para o espectáculo da noite.
Jantámos juntos na Varanda do Alentejo, com a minha família e amigos de Santarém. Mais uma vez, soube estar e fazer-se representar.
O espectáculo de flamenco foi apoteótico e aproveitou para ensaiar e acompanhar as guitarradas espanholas com a sua inseparável gaita.
No final, já cansado, pediu-me para regressarmos. Como ainda só eram 11 da noite, e havia pagamentos aos artistas para fazer e todo o estojo para arrumar, deixei-o vir com um amigo mais jovem, porém de confiança, que me garantiu e jurou a pés juntos que o levaria directo para a sua casa, o que depois vim a confirmar.
Presumo que dificilmente terá tido um dia tão em cheio com este nos últimos tempos, apesar de saber que está mais do que bem tratado, porque não havia vez que me visse que não me perguntasse quando era outra vez.
É claro que de tudo isto, houve o normal e já habitual e esperado aproveitamento político. Alguns vermes mais rasantes cá do burgo, não perderam a oportunidade de gozar o seu prato quando viram que na foto da cerimónia do hastear da bandeira do concelho, vinha também o Manel. “Ao que isto chegou, até o Bodes aparece ao lado do executivo! Deve ser um deles…” diziam pelos cafés, luzindo com brilhantismo a sua ignorância e bestial estupidez. Esses, os que se dizem de esquerda, os mais solidários, os mais justos… Sei até que um artista mais afoito chegou mesmo a afirmar que se teria embebedado, espalhando a calúnia com uma baixeza inqualificável, quando toda a gente viu como estava mais do que em condições.
Certamente muitos deles perguntar-se-ão porque é que eu faço isto. Eu próprio mo pergunto. Descansem que não é por propósitos populistas ou pela caça ao voto como querem fazer parecer, até porque já deixei mais do que uma vez bem claro que a minha meta é o fim do mandato.
Faço-o porque gosto de ver os outros felizes e sobretudo os meus amigos, como ele é. É que eu conheço o Manel de outras encarnações, quando com 14 anos comecei a vir para Santo António, quando conheci a Cris e iniciámos o nosso namorico.
Eu já era amigo do Manel quando ainda cheirava mal e passava fome e andava mal vestido e o embebedavam só para se rirem dos disparates que fazia, e para lhe apontarem o dedo no minuto seguinte.
Eu sou amigo do Manel há muito anos, antes mesmo de o Dr. Brito lhe ter deitado a unha e o ter metido no Lar e ter feito a única coisa de jeito em muito tempo.
Eu tenho centenas e centenas de fotografias do Manel e com o Manel tiradas em muitos anos e muitas ocasiões. E é por isso que ele confia em mim, e é por isso que vai todos os fins-de-semana a minha casa a ver da chapinha para o tabaco, e é por isso que eu o entendo como poucos e ele me entende a mim. Toca à campainha e diz cá do portão, “Undapé! Undapé! Háde nãche!” e estica a mão que é como quem diz “Pedro, não chega!”, para o que ele quer.
Jamais gozei com ele, no entanto, brinco com ele sempre que posso porque sei que gosta. E fico tão contente quando, depois de estarmos uns dias sem nos vermos, os olhos dele me encontram e ele abre os braços e me diz: “Adeeeeeeuuuussssss!”, como querendo dizer, “onde é que tens andado?”
Quando alguém morre ou há um fogo ou uma briga num baile ou uma colhida numa tourada, é sempre por ele que sei primeiro.
Quando andava na faculdade e trabalhava no bar do GDA, nas férias de Verão, com o Carroça, decidimos adoptar o Manel numa tarde. Depois de acesas negociações, ficou certo que eu faria de pai e o César de mãe. O Manel nunca mais se esqueceu.
Como nunca mais se esqueceu do seu Dia de Anos do ano passado e é por isso que me pergunta e volta a perguntar se há outra vez, se é amanhã e se já pedi à Presidente do Lar para ele ir.
Já lhe disse: “Só vais se levares gravata!” Ele responde que sim com a cabeça como quem diz: “Tá chata!”.
Uma muito minha amiga, quando soube que este ano íamos repetir a dose avisou-me prudente, “Oh, se o vais levar, tens de pôr as orelhas de molho! Já sabes que te vai tocar…”
Pobre de mim, boa amiga, se eu pautasse a minha a minha conduta e a minha consciência pela cabeça desses… pobres de espírito!
Vai ser um grande dia amigo, o dos teus 44 anos! Se Deus quiser, vai ser um dos nossos!
O dia depois de amanhã, esse 8 de Setembro, é um dia ainda maior para mim porque é o dia de anos do meu filho adoptivo, o anos do Manuel da Conceição Carrilho Martins, mais conhecido por Manel Gira, ou Manel Bodes, ou Gira Bodes, mas eu gosto de lhe chamar só Manel.
No ano passado, por estas alturas, andava de fotocópia do B.I. na mão, a mostrá-lo a toda a gente e eu não fui excepção. “Viste, viste?”. “Viste o quê, Manel” e seguindo a indicação do seu polegar pude ler “Data de Nascimento: 08-09-1962”. Quis o destino que o Manel nascesse na data mais nobre do concelho. A mim parece-me bem.
Como nesse dia eu tinha, por obrigação protocolar, um dia cheio daquilo que ele mais gosta, convidei-o a ir comigo. Á hora marcada não falhou. Mal saí à porta, já ele esperava junto ao carro. Seguimos os 3, eu, ele e a Leonor. Junto à Santa Casa esperámos a Banda do Crato que ele dirigiu solenemente de seguida, com muita perícia por entre os obstáculos naturais de Marvão.
Assistiu com dignidade à cerimonia do hastear da bandeira e no final, durante o beberete, cantámos os parabéns ao som da orquestra, a ele e ao companheiro da banda que também desaguou nesse dia, e partimos o bolo que a Dona Maria Jacinta Lança, filha de um também muito grande amigo do Manel, fez questão de oferecer. Era de chocolate e o Gira, ficou com aquela carinha de felicidade que hoje todos podemos recordar no vídeo em baixo, graças à cortesia de uma camerawoman de eleição, a minha querida amiga Emília Mena (Máquina! Tás em todas!).
Nunca mais me largou. Fomos juntos à missa e dali, ao almoço dos Irmãos da Santa Casa. Portou-se 5 estrelas! Comeu com uma correcção e uma delicadeza que não se reconhece em muitos fadistas cá da zona que se acham de gabarito. Repetiu foi os 3 pratos, duas vezes cada, três o doce!, mas isso quem o conhece bem já sabe que o rapaz é de alimento. Álcool zero! Só suminho, Joy, que estava muita bom.
Bebemos café, assistimos ao concerto da Banda antes da procissão, acompanhámos a mesma pelas ruas e no final, ainda ajudou a levar as cadeiras para o espectáculo da noite.
Jantámos juntos na Varanda do Alentejo, com a minha família e amigos de Santarém. Mais uma vez, soube estar e fazer-se representar.
O espectáculo de flamenco foi apoteótico e aproveitou para ensaiar e acompanhar as guitarradas espanholas com a sua inseparável gaita.
No final, já cansado, pediu-me para regressarmos. Como ainda só eram 11 da noite, e havia pagamentos aos artistas para fazer e todo o estojo para arrumar, deixei-o vir com um amigo mais jovem, porém de confiança, que me garantiu e jurou a pés juntos que o levaria directo para a sua casa, o que depois vim a confirmar.
Presumo que dificilmente terá tido um dia tão em cheio com este nos últimos tempos, apesar de saber que está mais do que bem tratado, porque não havia vez que me visse que não me perguntasse quando era outra vez.
É claro que de tudo isto, houve o normal e já habitual e esperado aproveitamento político. Alguns vermes mais rasantes cá do burgo, não perderam a oportunidade de gozar o seu prato quando viram que na foto da cerimónia do hastear da bandeira do concelho, vinha também o Manel. “Ao que isto chegou, até o Bodes aparece ao lado do executivo! Deve ser um deles…” diziam pelos cafés, luzindo com brilhantismo a sua ignorância e bestial estupidez. Esses, os que se dizem de esquerda, os mais solidários, os mais justos… Sei até que um artista mais afoito chegou mesmo a afirmar que se teria embebedado, espalhando a calúnia com uma baixeza inqualificável, quando toda a gente viu como estava mais do que em condições.
Certamente muitos deles perguntar-se-ão porque é que eu faço isto. Eu próprio mo pergunto. Descansem que não é por propósitos populistas ou pela caça ao voto como querem fazer parecer, até porque já deixei mais do que uma vez bem claro que a minha meta é o fim do mandato.
Faço-o porque gosto de ver os outros felizes e sobretudo os meus amigos, como ele é. É que eu conheço o Manel de outras encarnações, quando com 14 anos comecei a vir para Santo António, quando conheci a Cris e iniciámos o nosso namorico.
Eu já era amigo do Manel quando ainda cheirava mal e passava fome e andava mal vestido e o embebedavam só para se rirem dos disparates que fazia, e para lhe apontarem o dedo no minuto seguinte.
Eu sou amigo do Manel há muito anos, antes mesmo de o Dr. Brito lhe ter deitado a unha e o ter metido no Lar e ter feito a única coisa de jeito em muito tempo.
Eu tenho centenas e centenas de fotografias do Manel e com o Manel tiradas em muitos anos e muitas ocasiões. E é por isso que ele confia em mim, e é por isso que vai todos os fins-de-semana a minha casa a ver da chapinha para o tabaco, e é por isso que eu o entendo como poucos e ele me entende a mim. Toca à campainha e diz cá do portão, “Undapé! Undapé! Háde nãche!” e estica a mão que é como quem diz “Pedro, não chega!”, para o que ele quer.
Jamais gozei com ele, no entanto, brinco com ele sempre que posso porque sei que gosta. E fico tão contente quando, depois de estarmos uns dias sem nos vermos, os olhos dele me encontram e ele abre os braços e me diz: “Adeeeeeeuuuussssss!”, como querendo dizer, “onde é que tens andado?”
Quando alguém morre ou há um fogo ou uma briga num baile ou uma colhida numa tourada, é sempre por ele que sei primeiro.
Quando andava na faculdade e trabalhava no bar do GDA, nas férias de Verão, com o Carroça, decidimos adoptar o Manel numa tarde. Depois de acesas negociações, ficou certo que eu faria de pai e o César de mãe. O Manel nunca mais se esqueceu.
Como nunca mais se esqueceu do seu Dia de Anos do ano passado e é por isso que me pergunta e volta a perguntar se há outra vez, se é amanhã e se já pedi à Presidente do Lar para ele ir.
Já lhe disse: “Só vais se levares gravata!” Ele responde que sim com a cabeça como quem diz: “Tá chata!”.
Uma muito minha amiga, quando soube que este ano íamos repetir a dose avisou-me prudente, “Oh, se o vais levar, tens de pôr as orelhas de molho! Já sabes que te vai tocar…”
Pobre de mim, boa amiga, se eu pautasse a minha a minha conduta e a minha consciência pela cabeça desses… pobres de espírito!
Vai ser um grande dia amigo, o dos teus 44 anos! Se Deus quiser, vai ser um dos nossos!
Os parabéns do Gira em 2006
Gira Live at Bombas da Gasolina
5 comentários:
Não sei se graças a Deus ou ao Diabo foste eleito para o cargo que ocupas hoje. Mas uma coisa, tenho a certeza. Para ti todos os Marvanenses são iguais. Ricos ou pobres, bonitos ou feios, cultos ou incultos, para ti isso não interessa. És uma pessoa honesta e honrada, pena é, que meia duzia de "cabeças de atum" que nunca fizeram nada pelo nosso concelho, além de "mamar" minis e pastéis de bacalhau, passem o tempo a criticar aquilo que fazes. Continua a acreditar nos teus valores e o futuro concerteza te trará muito sucesso. Já agora essa camisinha cor de rosa do vídeo do gira fica-te cinco estrelas. Com aquele fatinho à "Mack" pareces um tubarão da politica regional.
Um grande abraço.
Com este post soube de muitas coisas pela primeira vez. Dos anos do Manel, de ter ido contigo, do bolo, da festinha... Mas vindo de ti não me surpreende, porque sou teu irmão, e porque te conheço muito bem. É bom saber destas coisas porque até o sangue (que partilhamos) fica mais quentinho. Em grande parte por tua influência, também eu gosto muito do Manel, e amanha da-lhe um abraço da minha parte.
3 apontamentos
1-Os parabéns pelo Post, porque esta divinal.
2-Tens que lhe dizer que por eu ser teu irmão, não me tem que pedir também chapas de cada vez que me vê. É que as portagens estão caras e eu tenho que vir para o Algarve.
3-Para que todos tenham conhecimento de quem é o Manel, e de como ele é reconhecido até internacionalmente, basta esperar pelo fim do vídeo do espectáculo "Gira Live at Bombas da Gasolina" para ver os vídeos que o Youtube relaciona com este. Posso adiantar que vai deste os Doors, ao FatboySlim, passando pelos Royksopp. É de nível...
Abraço
:)
Está fantástico só tu mesmo para teres coragem de fazer isto!!! é nobre e acho que nestas pequenas coisas que fazes que deixas muita gente de boca aberta porque nunca tiveram coragem de o fazer!! Com certeza deverá ter sido dos dias mais felizes da vida do Manel., ele agradece e nós tb, continua assim amigo, estás em grande!!!
abraço
Quis o "destino" que o Manel fosse um homem diferente, cuja deficiência o empurrou para um mundo à parte, paralelo ao nosso, muitas vezes criado pelo nosso preconceito, egoísmo e ignorância.
Confesso que quando cheguei a S. António em 2002 e vi o Manel pela primeira vez pensei: - Aqui está o cromo ou a mascote da terra. Mas com o tempo comecei a engraçar com o Manel e a vê-lo com outros olhos.
Com o Manel aprendi até algumas coisas, para mim, interessantes:
1. O Manel é uma pessoa integrada na sociedade, e para isso basta que seja tratado com dignidade, atenção e fazer com que se sinta útil.
2. Aliás, quando faz o favor de ir ao supermercado ou aos jornais, fá-lo com um sorriso e com responsabilidade.
3. O Manel cumprimenta todas as pessoas, sejam ricos, pobres, crianças, idosos, sem distinção, coisa que muitos dos ditos normais não fazem.
4. O Manel fez-me rir, e à gargalhada, em momentos difíceis, em dias cinzentos como se de um verdadeiro amigo se tratasse.
5. Se o Manel tivesse nascido nos nossos dias teria, com certeza outras oportunidades, que no seu tempo e no interior eram uma miragem, colocando-o ainda mais à margem.
Por isso, Pedro, o que fizeste pelo Manel foi um gesto nobre, digno e humano, que só te valoriza como homem.
Fazer o Manel feliz, nem que seja por um dia, foi fácil e todos os que o conhecemos só temos a enaltecer o teu gesto e seguir o teu exemplo.
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