domingo, 9 de setembro de 2007

Ao meu cometa... tão brilhante quanto fugaz

Os Cometas Negros - lá atrás, todo de negro, na bateria, João Sobreiro


Cumprindo a já tradição, o almoço do feriado municipal foi mais uma vez na Santa Casa da Misericórdia, a convite do Provedor, o professor João de Deus. Enquanto os irmãos da instituição se ajeitavam nos assentos, antes do início do repasto, procurei uma casa-de-banho. A fila à porta da mais próxima fez com que uma funcionária minha conhecida me aconselhasse a do fundo do corredor. “Sempre é mais rápido…”. Aproveito a dica com um piscar de olhos e atravesso a área junto aos arcos, próxima de um pátio interior, onde alguns utentes passam o seu tempo sentados. Cumprimento-os com uma saudação que fica sem resposta. Um ou outro ainda tentam um gesto amistoso, levantando a mão ou desenhando um breve sorriso por entre as rugas dos anos e da vida.

Gosto muito de ir à Santa Casa. Respeito a instituição e a sua preciosa função social, mas tenho de confessar que não é fácil lá ir. A ver se me consigo explicar. Sei que os órgãos responsáveis fazem uma gestão cautelosa e exemplar. Sei que as funcionárias são simpáticas e afáveis e zelam com profissionalismo pelo bem estar dos idosos. Sei que as instalações cheiram sempre a lavadinho e o asseio e a arrumação são inexcedíveis, mas… a mim, custa-me lá ir.

Eu sei que pode ser um estereótipo, que pode ter sido uma ideia errada na minha formação, mas habituei-me desde criança a olhar para a Santa Casa como o fim da linha, como a última estação, o último passo antes da derradeira viagem. Desde miúdo que ouvi dizer por quase toda a parte e onde quer que estivesse que “Deus me livre de ir para a Santa Casa”, ou “a Santa Casa é só velhos” ou “preferia morrer a ter de ir para lá”. Com inputs desta natureza, a aura negativa que se vai criando em torno da imagem não pode ser a melhor. Lentamente, vai-se instalando uma carga nefasta que tem mais a ver com clausura e isolamento do que com solidariedade e entreajuda.

Cada vez que lá vou, faço um esforço para ver as coisas de um prisma diferente, de uma forma mais consentânea com a realidade. Mas dessas visitas que vou fazendo, há sempre um rosto, um olhar, uma mão ou um gesto que me ficam a martelar na cabeça. De cada vez que lá vou, encontro sempre uma expressão triste, como que a pedir companhia, que o tempo seja já breve ou volte para trás de uma vez por todas.

Neste sábado, quando regressava ao meu lugar, reparei que algumas caras no corredor me eram familiares, mas estavam agora mais pálidas, mais descaídas, como a do senhor Zé que conheci desde sempre na Beirã. Os olhos pareciam perdidos e fitar-me à distância. Dirigi-me a ele. “Então? Que tal vai isso? Anda bom?”. “Cá estou. Vamos andando, obrigado”. Há dois anos tinha-o atendido nas Finanças e impressionou-me com envelheceu tanto neste espaço de tempo. Procurei certificar-me se sabia com quem falava. “Sabe que eu sou? Está-me a reconhecer?”, disse com cautela. “Sei”, respondeu rindo. “És o Pedro Sobreiro”. Ambos certos de que sabíamos com quem falávamos, trocamos algumas impressões de circunstância e despedimo-nos trocando votos de felicidade.

A esta altura, reparei que os outros utentes em volta ouviam a nossa conversa, à falta de outra coisa mais interessante que fazer. Estendi a saudação com um aperto de mãos, até porque acabei por perceber que os conhecia quase a todos e que as nossas vidas já se tinham cruzado numa ou noutra ocasião, no nosso concelho. Um deles era o “Zé Pilau”, figura castiça, ébria e boémia dos lados da Portagem, que um trambolhão na sequência de uma bebedeira arrastou para ali. Bem tratado, bem vestido, bem penteado, sorria, de perna cruzada. Aparentava estar bem, mas longe dos tempos mais acelerados e recordei-me da noite em que chorou de alegria nos Alvarrões, quando numa noite fria de Janeiro encontrou o grupo que cantava as janeiras pelas localidades do concelho. Nunca mais nos largou, e só dizia “ai que lindo! Ai que lindo! Coisa linda, linda, linda”, antes de se deixar dormir no autocarro, embalado pelo calor da solfagem e do álcool ingerido durante a tarde.

Ao virar da esquina, cruzo-me com uma outra figura castiça da minha meninice, que ali vive há muitos anos, o Chico Barradas. Detrás dos óculos cú-de-copo, os seus olhos esbugalhados marcaram-me de relance quando nos cruzamos, mas passou por mim apressado, para se voltar a sentar numa cadeira que só podia ser a sua. Não o via há anos. Voltei para trás e estendi-lhe a mão. “ó Chico, estás bom?”. “Estou, estou”, disse-me, fazendo o correspondente gesto com a cabeça. “Lembras-te de mim? Sabes quem sou?”. “Sei, sei. És o Pedro Sobreiro”, respondeu com clarividência para meu espanto, porque mal me viu e eu fiquei feliz.

Às vezes perdemos tanto do nosso tempo enrolados nas correrias das vidas modernas que nem sequer damos atenção aqueles que vão ficando encostados nestas gares do percurso. Segui pensando que fazia bem se conseguisse passar por aqui mais vezes, nem que fosse só para os cumprimentar e dar uma palavra amiga. Custa tão pouco ajudar os outros e sabe tão bem a quem precisa que devíamos todos fazer um esforço.

Na mesa da presidência, na companhia dos mesários, troco conversas o Provedor e falamos um pouco de tudo, do concelho, da instituição, das famílias e do nosso incontornável Benfica, cujos jogos deixou de ver por recomendação médica. Nos últimos anos, ser benfiquista é uma autêntica profissão de alto risco.

Nas voltas da conversa, recuamos no passado até Castelo Branco, até aos tempos em que ainda era padre e dava aulas de Religião e Moral. Acabamos, claro está, a falar do meu pai, que ele mesmo casou em Fátima. “Ele e o Zé Freixo, o do pato que vai à Fátima Lopes na SIC eram os maiores terroristas lá do sítio. Foram criados juntos, como irmãos e andavam sempre os dois. Perdi o conto das vezes que tive de os convidar a sair da sala para poder continuar. Ele tinha um poder de arrastar os outros levado da breca e aquilo ia tudo atrás. Depois ficava cá fora, à minha espera, para me pedir desculpa e prometer que nunca mais faria o mesmo, embora soubéssemos que não iria perder a próxima oportunidade de fazer uma piada. Andava sempre atrás de mim e dos outros padres. Ele falava muito com o Manuel Bugalho”.

“Era terrível. Uma vez, já passados uns anos, fomos todos daqui no carro dele, uns 5 ou 6, a caminho de Castelo Branco e ali antes de Vila Velha, fomos ultrapassados por um gajo que ia tão depressa que provocou um acidente com um carro que vinha no outro sentido e capotou numa curva ao desviar-se do acelera. O teu pai meteu-se em perseguição dele e em plena ponte de Vila Velha, ultrapassou-o e trancou-lhe a passagem. Saíram todos do carro e pediram explicações ao homem que dizia não ter feito nada. Eles não estiveram com mais nem meias, enfiaram-no dentro do carro e levaram-no lá atrás para ver e pedir desculpa. Só abalámos quando chegou a GNR que chamámos entretanto!”. Eh eh eh.

“É engraçado que na altura, eu ainda não conhecia ninguém da família, só o conheci a ele. Na altura era muito popular, por tocar bateria nos Cometas Negros”

Por falar em histórias e recordações, por falar nele e nos Cometas, não resisto a contar uma que ouvi contada por ele e fala na sua última actuação no conjunto. O meu pai gostava de contar histórias e quem o conhecia sabe que as contava sempre à sua maneira. Sabia dar-lhe os toques que queria por forma a fazê-las soar à sua maneira, mas esta sei bem que foi verdade, porque me foi confirmada por quem de direito.

Na altura os Cometas eram a banda residente no Casino de Montegordo, no Algarve e recebiam um cachet diário bastante significativo para a época, que dificilmente durava na carteira até à manhã seguinte. As noitadas eram longas e o ritmo bem puxado. A coisa andava sempre à pele. A dada altura, a restante família foi passar férias a Armação de Pêra, de onde um meu tio era natural e passou entretanto a ser pouso de Verão. Como as saudades eram muitas, o meu avô, bem mais duro de carácter e muito alinhado, decidiu ir visitar o meu pai. Andou à procura dele e deu com a malta num esplanada, em amena cavaqueira. Os cabelos do Sobreiro estavam de tal maneira grandes que o próprio pai não o reconheceu à primeira vista. “Então, não viram o João?”. “Ó paizinho, estou aqui”, respondeu ele encavacado. Convidou-o e foram os dois dar uma volta. Houve o já mais que esperado desbaste do cabelo e foram comprar umas sandálias. Antes de regressar, o meu avô disse-lhe que estavam em Armação, que a mãe e as manas o queriam ver, que teria que ir para África e provavelmente não teriam outra oportunidade de poder estar assim todos juntos outra vez. Despediu-se e partiu. O meu pai voltou para junto dos colegas e disse-lhes que essa era a última noite que tocava com eles, para espanto geral. Na manhã seguinte trocou a borga pelo arrumar da trouxa, apanhou o primeiro autocarro da manhã e partiu para Armação. Quando chegou à paragem, o meu avó estava lá sentado à sua espera e disse-lhe “sabia que vinhas, filho”.

Na impossibilidade de os ter comigo, reconforta-me pensar que é desta massa que sou feito.

11 comentários:

Goyi disse...

Si no te importa Pedro voy a escribir español ya que aunque también utilizo el portugues, lo hago con menos fluidez y se que vosotros me entendeis, al contrario que gran mayoria de españoles en la frontera que nunca se han esforzado, lo mas mínimo por estudiar y hablar vuestra lengua, yo me siento avergonzada por ello pues creo que este error se deriva de nuestro absurdo complejo de superioridad en relación a vosotros y que actualmente, por fortuna, va desapareciendo.
Recuerdo con bastante desagrado las veces que hice práctica en los asilos portugueses, fue hace muchos años pero me produjo una pena enorme y no he olvidado la sensación de abandono, tristeza, soledad y ese olor horrible que solo me recordaba a la muerte que esperaban todos los que allí estaban.... que triste la vejez!!!. En España las cosas han cambiado muchísimo, supongo que en Portugal tambien, sigue siendo tristes, es cierto, pero tenemos residencias subvencionadas por la Junta de Extremadura que son casi hoteles, están muy bien atendido, el olor al entrar es muy agradable e incluso tienen actividades para ellos..... pero sigue siendo tan triste!!. Estoy de acuerdo contigo, deberíamos aprender todos a ser más soldarios y dar un poquito de cariño, cuesta tan poco!, también nosotros algún día,cada vez más cercano, estaremos en su lugar.

Soy concejala (veradora, acho) en el Ayuntamiento de Valencia de Alcántara y nuestro programa estaba basado , en gran medida en las relaciones transfronterizas, creo que ya lo comenté anteriormente, pienso que ni nosotros ni vosotros vamos a andar hacia adelante si no nos unimos. Tenemos que trabajar en conjunto, dejar de darnos la espalda, pensar que nosotros estamos muy lejos del resto del mundo pero muy cerca de vosotros, y cuando nos cambie el chip, nos sentemos, dialoguemos, convivamos y luchemos a la par, entonces podremos mirar el futuro unidos y de frente.
Como creo que me estoy extendiendo demasiado, solo quiero deciros que una de las cosas que vamos a empezar a trabajar ya mismo, es la construcción de un Hospital Transfronterizo, estaría situado en zona neutra, con pacientes españoles y portugueses, trabajadores también, abarcaría toda nuestra Comarca y gran parte de la vuestra y que superaría con creces el que teneis en Portalegre. No hemos inventado nada, ya existen algunos en Europa y en España está uno en construción entre Cataluña y Francia,subvencionado con fondos Europeos......... no sé si estaréis interesados en el tema. Necesito vuestra ayuda y me gustaría conversar este tema contigo, Pedro. Vamos a reunirnos proxímamente y a través de Garraio podemos quedar... Que te parece?... hay muchos más sauntos a tratar como: turismo, escuela de turismo, educación e intercambios de estudiantes, comercio, comunicaciones..... etc. Podemos ir haciendo cosas poquito a poco, ya sé que no es fácil pues hay que empezar desde abajo pero , quien dijo miedo cuando hay gente como tu con esa ilusión y ese amor por tu tierra y por tu gente???.
Un abrazo.

Goyi disse...

Si os molesta que escriba en Español, sólo tenéis que decirlo, puedo escribir perfectamente en Portugues pero en mi teclado faltan acentos y algunas letras que necesito y me cuesta un poquito más, vamos pero puedo hacerlo.

Bonito disse...

Boa noite,

Foi com surpresa e enorme prazer que li esta intervenção de tão ilustre visita à casita do Pedro, Sra. Govi, concejala en el Ayuntamiento de Valência de Alcântara. Permita-me que lhe dê as boas vindas e me apresente:

Chamo-me Fernando, nasci no concelho de Marvão (Santo António das Areias) e trabalho em Portalegre. Sou filho de pai português e mãe espanhola. Lembro-me, na minha infância, de visitar variadas vezes os meus saudosos avós (Pedro e Lourenza) em Valência de Alcântara. Durante seis anos vivi longe (300 Kms) e penso que, por isso, a minha paixão por Marvão se “agudizou”. Por isso, também, tornei-me “membro” da Assembleia Municipal de Marvão.

Custa-me verificar que o meu concelho (tal como o seu, julgo…) é uma região com fraco desenvolvimento, onde a desertificação se tornou asfixiante. Defendo, há muito tempo (inclusivamente nas assembleias municipais), que o nosso desenvolvimento (interior português e interior espanhol) passa por uma estreita cooperação e incremento de relações entre as duas comunidades. É que Lisboa e Madrid estão muito longe.

Desta forma, fiquei contentíssimo com as suas palavras.

Contudo, também fiquei surpreso e até decepcionado com o Executivo da minha Câmara. De facto, pensei que o relacionamento e cooperação entre as duas entidades (Câmara de Marvão e Ayuntamiento de Valência de Alcântara) estivessem noutro patamar, muito mais avançado… Porque é de estrema importância para as nossas regiões.

Desde logo, a questão dos fundos comunitários que são determinantes para incrementar a parcas receitas destes pequenos concelhos. É que, nesta fase, parece ser mais vantajoso preparar candidaturas com projectos internacionais.

Por outro lado, o constante desenvolvimento de projectos de variadas índoles (comerciais, sociais, culturais, desportivas, etc) entre as nossas comunidades só traria vantagens para ambas.

Permita-me ainda, para finalizar, que lhe sugira (como aliás já fiz ao executivo de Marvão) a defesa de uma ideia (dum ilustre conterrâneo) para um projecto em conjunto.
Trata-se de uma nova ligação entre os dois “Concelhos”. Seria uma ponte sobre o rio Sever na zona das Castelhanas (do lado português) e da Huerta de Luna (do lado espanhol). Esta via deixava Santo António das Areias e Valência de Alcântara distanciados apenas por cerca de sete kms e, servida por uma estrada digna desse nome, daria uma nova vitalidade a uma área bastante “deprimida” e desertificada que abrange os dois lados da fronteira. Seria determinante.

Poder-se-ia, também, ao nível cultural aproveitar variados temas que fazem parte da nossa história conjunta… desde logo, por exemplo, “O Contrabando”, etc, etc, etc, etc.

Desculpem o excesso, mas fiquei mesmo motivado com nova presença no blog. Mais uma vez, seja Bem vinda e… volte, foi um prazer lê-la. Saudações.

Grande Abraço
Bonito Dias

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Minha Cara Goyi, realmente este admirável mundo novo em que vivemos tem destas coisas… Quem me havia de dizer a mim quando comecei este blogue, com o intuito, devo confessá-lo, muito mais de deitar cá para fora o que me consome por dentro que outra coisa qualquer, que haveria de encontrar e conhecer tanta gente a partir dele. Habitamos assim este ninho virtual que está longe de ser só meu e pertence já a todos que o visitam com frequência e nele chegam a intervir.

Já tinha tido oportunidade de ler o teu comentário num dos posts atrás, mas não tinha tido ainda tempo de o comentar. Recebo sempre um e-mail do servidor cada vez que entra um comentário novo e tive o prazer de conhecer a tua opinião, quando vi o mail por entre as dezenas que chegam todos os dias ao gabinete e pensei em comentá-lo em casa mas sabes como é, a filha e os afazeres conjugais, devem de estar primeiro e o tempo passa…

O teu desafio é motivador e alinho desde já, custe o que custar. Ambos temos vontade, ambos partilhamos uma visão una, temos em comum um grande amigo que será certamente uma peça fundamental e pelo que sei agora, ambos temos responsabilidades políticas. Estas serão as cartas que teremos para jogar.

Sei que não digo nada de novo de cada vez que o digo, mas muitas vezes me ouviram já dizer que o futuro de Marvão passará cada vez mais por Valência do que por Portalegre. Para que esse futuro possa ser risonho, teremos de nos sentar e trabalhar muito, mas mesmo muito em conjunto. Não é com discursos de intenções que se fazem obras. Nada se pode construir sem objectivos, mas a verdade é que se ficamos pelas fachadas, cada um volta ao seu umbigo no dia seguinte e tudo ficará para depois.

Sou Vice-Presidente de um Município e não renego, antes pelo contrário, hei-de sempre tudo fazer para honrar a responsabilidade que o povo de Marvão depositou em mim. Mas por muito que me custe às vezes, serei sempre o primeiro dos últimos. A minha palavra vale, mas haverá sempre uma que prevalece. O que te posso assegurar é que sejam quais forem as instruções superiores, quem queira casar estas duas regiões que tanto precisam uma da outra, contará sempre comigo para tocar órgão ou levar as alianças no dia da boda.

Tenho uma experiência de trabalho com Espanha no projecto “Por terras raianas” de carácter turístico (que já apanhei em andamento) e com o projecto “Al Mossassa” (que ajudei a fundar). Os espanhóis são mais directos, mais sinceros, mais terra-a-terra. São mais trabalhadores porque quando vão para os trabalhos vão não para cumprir horários, mas para produzir. São mais organizados e dinâmicos e têm a enorme vantagem de terem todos os processo de utilização dos fundos comunitários mais agilizados. Em Espanha chega-se mais depressa ao que vem da Europa porque há um diálogo permanente com os centros de decisão que estão mais descentralizados e consecutivamente, mais próximos.

Os portugueses são mais cuidados na sua procura incessante pela qualidade e mais persistentes na defesa e divulgação dos seus valores que protegem com afinco. Mas os centros nevrálgicos estão cada vez mais distantes e mais surdos para as nossas petições. Daqui a 20 anos, duvido que muito concelhos de hoje existam e se olharmos para os fluxos demográficos desta área, rapidamente chegamos à conclusão que ou tomamos medidas urgentes e dramáticas, ou seremos cada vez menos, com cada vez menos força. Basta olhar para o número de deputados que nos representam para percebemos que o coro de carmelitas que temos a cantar para os ouvidos do 1º Ministro mal se ouve.

Com este trabalho conjunto, ambos podemos ganhar mas não podemos deixar para trás aquilo que aprendemos com o passado porque quem esquece o passado, compromete irremediavelmente o futuro. Nunca acreditei na velha conversa de sermos “viejos hermanos”. Sempre ouvi com mais atenção aqueles que defendiam a nossa bravura alegando que só um povo de nobres instintos poderia aguentar tantos séculos com um gigante desta envergadura à espreita aqui ao lado. Mas isso jamais será contraproducente. Se respeitarmos as nossas diferenças e as nossas especificidades, poderemos mais facilmente caminhar em conjunto. No meu entender, o nosso casamento nunca será produto de uma louca paixão, mas sim da compreensão de que juntos poderemos sempre ser mais felizes coabitando.

Ao contrário do que diz o nosso Presidente da República, eu acredito que mais cedo ou mais tarde, haveremos de cair nos braços uns dos outros. Caminhamos a passos largos para uma federação ibérica, que respeite os princípios básicos de soberania (não poderia ser de outra forma!) e que inove ao congregar matérias importantes que vão da orientação económica às estratégias de acção para a Europa. A união será não um produto da luta pela conquista que sempre tememos mas sim quase que um desígnio óbvio que teremos que respeitar.

Não creio que seja menos português por pensar assim.

Minha amiga, tenho a certeza que com o nosso espírito de missão, a algum ponto havemos de chegar. Conhecemo-nos pela Internet e como já me aconteceu por diversas outras vezes, já falamos tanto sem nos termos visto que quando nos conhecermos pessoalmente muito do gelo já terá sido quebrado. Com a tecnologia estamos cada vez mais isolados mas também cada vez mais próximos se assim o quisermos.

Da minha parte, a disponibilidade será total. Um café, uma charla ao fim da tarde, um almoço, uma “cena”, o que for. Temos do nosso lado o Garraio, o interlocutor ideal, metade português, metade espanhol, com uma inteligência e visão que nos irão seguramente ajudar e orientar.

Uma certeza devemos ter à partida: por muito pouco que façamos, será sempre mais do que poderíamos fazer se não trabalhássemos em conjunto. Desta forma, cada passo dado, por muito pequeno que seja em direcção a esses sonhos maravilhosos de que me falas, será sempre um passo de gigante.

Ah! Quanto à língua… para mim o castelhano está perfeito. Eu sou da geração “Bola de Cristal” e os electroduendes foram uns professores de eleição. Em frente, é o caminho!

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

Enquanto me manifestava, a Assembleia jogou na antecipação. É bom sinal!, é sinal que estão atentos. Uma vez que a questão é de interesse global das instituições do concelho, talvez pudessem fazer algo mais que apenas votar e opinar em sede própria, e se proponham a constituir um grupo de trabalho mais activo que apoie o que aqui parece estar a nascer. Não seria certamente novidade no nosso país.

Abraço!

Jaime Miranda disse...

Boa noite. Pelo que se lê as férias foram produtivas e estimulantes. Estes posts são uma tentação para soltar uns desabafos.
A Santa Casa de Marvão, é uma grande instituição. Ao longo dos séculos deu conforto e ensino a milhares de pessoas, e a Nossa Senhora da Estrela é a inspiração deste lar de irmãs e irmãos. Acho que hoje em dia há grande preocupação com a assistência social e as respostas aos problemas são na maioria eficientes. Há recursos e pessoas conscientes. A falha neste sistema de protecção no interior é o acesso a cuidados de saúde, que as pessoas idosas tanto precisam. Este é um problema que me preocupa. Diariamente. As pessoas ficam a depender dos medicamentos, dos exames, e o acesso a quem preste um bom serviço médico é escasso e caro.
Para isto, sinceramente, creio que não necessitamos de hospitais novos. O que há necessidade é de profissionais a irem ter com as pessoas, na casa do povo, em casa, na escola, no Lar. Portugueses ou espanhóis. Num e no outro lado da fronteira.
Sobre a questão da cooperação apetecia-me dizer muitas coisas. Para mim existem dois países, mas não existem dois povos. A minha família partilha com outras histórias bonitas, de pessoas que procuraram governar a vida de um lado e de outro, e que hoje sabem como isso mudou o seu destino. Existem muitas diferenças entre os dois países, temos de assumir. As máquinas burocráticas não combinam. As taxas de IVA, os combustíveis, o mercado de trabalho, as auto-estradas, as casas, as Bolsas, têm pouco em comum em Lisboa e Madrid. Não sei de quem é a culpa, mais isto prejudica as populações, porque as impede de crescer mais e com equilíbrio. Acho que esta fatalidade pode-se contornar criando estruturas independentes do Estado, associações transfronteiriças fortes. Esta estratégia, combinada com um diálogo de afectos, é o que o Norte sabe fazer com a Galiza. Estas regiões têm sabido bem afirmar uma herança cultural comum, o que traz muitas vantagens para toda a gente.

Jaime Miranda disse...

Na nossa terra temos bons e maus exemplos de cooperação e contacto entre os dois lados da raia. Passei num sítio onde alguém andava a reconstruir uma casa. Soube depois que é um médico nuestro Hermano. Isto é um bom exemplo.
A ponte da estrada das Castelhanas, que está feita, é necessária há muito tempo, e há que reclamar pela sua construção. Esta ligação, para além de tornar as deslocações mais curtas permitiria melhores acessos a algumas propriedades que têm cada vez mais valor imobiliário. Isto seria um bom exemplo.
Os maus exemplos, vêm das instituições. Para mim, o pior é a degradação da Fronteira, propriamente dita, que inclui o Posto dos Galegos, que serviu de estalagem ao rei D. Carlos numa caçada. As entidades responsáveis pelos edifícios das Alfândegas de um e outro país deveriam recuperar o conjunto de construções ou atribui-los a quem o fizesse. O espectáculo que se oferece a quem atravessa o local é triste. Podia ser um sítio alegre, um local agradável para os que passam em viagem e até um grande equipamento turístico, (porque não?). Assim, está ali uma espécie de memorial decadente a um tempo em que os países estavam ainda mais afastados, quando se tinha de mostrar o passaporte e o interior da bagageira.
Para terminar esta seca em dois actos, também me parece mau sinal a falta de promoção turística conjunta entre as nossas regiões. Há dia peguei num prospecto da Região de Turismo de São Mamede, na Figueira da Foz, cidade onde veraneiam muitos espanhóis. Agora mesmo espreitei o site. Pois em ambos os sítios a informação sobre Marvão não dá uma pista sobre a proximidade de Espanha, aproveitando o efeito apelativo para o potencial turista que a proximidade e afinidade das regiões pode conseguir. Parece-me mal.
Pois bem, há muito que fazer, mas já não é para hoje, que é muito tarde. Fica aqui esta triste maçada, uma data de ideias empilhadas que só ocupam espaço neste site. Desculpa, Sabi. Um grande abraço a todos. Jaime Miranda

Goyi disse...

JÁ RESPONDO..ESPERO TER UN BOCADINHO MAIS DE AQUI A POCADO MAIS FIQUEI MUITO CONTENTE COM O QUE LI ATÉ AGORA......



DISCULPEM PELAS MAIUSCÚLAS MAIS A ESCRITA DO TECLADO NAO É O MEU FORTE.

João, disse...

EM CONTRA MÃO

A MOTIVAÇÃO e a cobardia…

Acabo de assistir a um dos actos de maior cobardia desde que me conheço, não consigo calar-me e vim para aqui desabafar.
Como é possível que um “homem”, que está a ser contratado pelas maiores empresas portuguesas (até a CGD do amigo Bonito, onde tenho as minhas poucas poupansas) para fazer palestras sobre MOTIVAÇÃO, a 8 000 euros/hora, não passar de um cobardolas.

Claro que me refiro ao Sr. Sacolari, ou lá como se chama o artolas.

Então isso é que o exemplo de motivação dada aos seus colaboradores?
É um cobardola em todo o seu desempenho ao longo do jogo e no final tem “motivação” de agredir barbaramente a soco, um jogador da equipa contrária para o “desmotivar”!

Um estrangeiro, seleccionador de uma equipa que representa um país com estas atitudes só merece uma coisa: Expulso do país sem qualquer indemnização.

Eu por mim tenho ali a bandeirinha guardada (que nunca fui dessas palhaçadas de a por à janela por um jogo de futebol), e garanto que se pudesse à despedida, pelo que nos tem enganado, estou cheio de MOTIVAÇÃO para lha meter no C….

PS: O cabo da bandeira tem 10 cm de diâmetro e meio-metro de cumprimento.

Desculpem meus amigos (sobretudo o sobrinho), mas hoje estou zangado.

João, disse...

Onde se lê "poupansas", deve ler-se poupanças.
É do "norvoso".

mayte disse...

Querido Pedro mis disculpas por no escribir portugues todavia no lo hago muy bien.
Mi mas sincera enhorabuena por este blog tu capacidad para escribir es fantastica , estoy de acuerdo con la cooperacion transfroteridas a todos los niveles empresarial, turistico´,etc
Creo que tenemos potencial suficiente y gente con animo de trabajo que tienen muchos proyectos como Goyi, espero que trabajemos todos por conseguirlo
Un saludo y sigue asi me divierto mucho con tus pensamientos.