segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A aventura de aprender...


Passei a noite em sobressalto e sei que acordei mais nervoso que ela, neste seu primeiro dia de escola. O primeiro dia de escola. Ainda ontem me fitava com os seus olhitos castanhos encandeados pela luz branca da sala de partos, enroladinha na toalha, a deitar fumo e a cheirar ao ventre da mãe; e já hoje, de mão dada, me acertava o passo para se certificar que era mesmo o direito a ser o primeiro a pousar do lado de lá da porta de entrada da sala de aulas.

Por ter nascido em Dezembro, sempre nos convencemos que não seria por ter nascido 3 meses para além do início das aulas que iria ficar quase um ano à espera de entrar. Sempre pensámos que iria começar com 5 anos, um pouco mais cedo, portanto. Hoje estou convicto que foi uma decisão acertada porque assim acompanha os colegas de sempre da Pré e porque seria difícil aguentá-la ali mais um ano, presa a um modelo que já não era capaz de dar resposta à sua ávida curiosidade e ao seu desejo de conhecer as letras e os números, à sua vontade de saber ler e escrever.

Tivemos a sorte de apanhar um professora experiente e dedicada que muito provavelmente os vai acompanhar ao longo de todo o ciclo. No seu discurso de apresentação não escondeu que não concordava com o facto de alguns deles serem tão pequeninos e estarem já a entrar para um mundo onde têm que crescer à força e à custa das suas próprias responsabilidades.

Estremeci por dentro ao ouvir as suas palavras. Teria razão? E comecei a fazer contas de cabeça. Tendo nascido em Junho e entrado em Outubro, acabei por entrar quase 1 ano depois dela, e a verdade é que esse ano não me fez falta nenhuma quando acabei de estudar. Perdi-o em empregos onde tentei à força agarrar-me. Acabou por ser dispensável e antes de entrar para a escola, soube-me tão bem tê-lo do meu lado.

Acho que fui assolado por um certo remorso que só consegui acalmar à custa de pensar que está onde ela quer. A fazer o que ela quer.

Subi as escadas para a sala e deixei a mochila e a caixa com o material que a mãe preparou com tanto carinho, num lugar bem próximo da professora, onde a sua tagarelice pudesse ser vigiada e apaziguada.

A sala estava vazia e aquele cheiro a escola, que se entranha na roupa e nunca mais se esquece, recordou-me que a minha verdadeira e mais secreta vocação nunca saiu daquele local tão especial.

No pátio aguardamos a hora de entrada e segui-a ao longe com o olhar. Apanhei-a em plena ameaça quando se dirigiu a uma mais velha e lhe chamou “parva”, assim, com as letras todas. Corri para ela e perguntei-lhe o porquê de tão estranho comportamento. “Ó pai, ele disse-me que o meu vestido é curtinho e para mais, nós já discutimos no outro dia na Ludoteca!”. Nisto avança para a outra, impávida e serena e disse-lhe de dedo em riste “e eu não sou tua amiga, ouviste?”, virando costas no segundo seguinte. O riso amarelo e conivente na cara da visada fez-me pensar que haveria ali umas contas a ajustar e afastei-me.

Já na sala, foi altura de uma pequena reunião com os pais a tempo para os últimos conselhos. Como vinham da Pré, no piso de baixo, pareceram todos ambientados e não houve choros. As mães, sorridentes, confidenciavam entre si e preparavam-se para sair. Reparei então que era o único homem. Aproveitei para lhe dar o último beijo e lhe desejar boa sorte. Ainda bem que não repararam em mim. Segui no final da fila, atrás da conversada geral e só fui surpreendido na porta de saída pela responsável do 1º ciclo no Conselho Executivo, a Professora Guida, que sorriu quando olhou para mim, presumo que denunciado pelos olhos que não conseguiram esconder o que me ia por dentro. Experiente, disse-me: “Sempre é um marco, não é Pedro. É normal. É a vida”. Eu disse-lhe que sim e segui apressado para o carro. Tenho umas gotas para a alergia em casa que deixam os olhos branquinhos num minuto.

Não sei explicar muito bem mas acho que sei sentir quando este barco que é a nossa vida muda de rumo, roda as velas e entra em nova rota. Ao longo da minha, por diversas vezes tive a percepção que ia dar um passo sem volta atrás e que nada voltaria a ser igual.

Hoje senti-o por ela. Não quero ser dramático, mas acho que este é que é o primeiro dia do resto da sua vida. Até aqui, poucos passos eram dados sem nós. Presumo que a partir de agora, começa a depender só de si, a trilhar o seu próprio percurso.


Deve ter sido por isso que por incrível que pareça, me disse anteontem que tinha medo de falhar, de não saber. Por muito que lhe explicasse que a escola servia para isso mesmo, para ensinar e aprender, de nada lhe valeu.

A partir de agora e mais do que nunca, terá de saber por si.

Boa sorte, pequena! Boa sorte mesmo!

2 comentários:

sonia disse...

eu estava lá e senti o mesmo que tu...e já me chamaram mãe galinha por querer saber como almoçou e passou o dia-fiz mal? afinal ainda sou mãe dela... e Mãe é Mãe!!neste momento estamos todos(pais e filhos) no mesmo barco com um mar de duvidas, surpresas e angustias pela nossa frente!
sónia oliveira

João, disse...

EM CONTRA MÃO

“Se eu fosse candidato a “líder” do PSD…”

Assisti ontem, ao debate de candidatos a líderes do PSD. E verifiquei hoje, com tristeza, que a maioria dos analistas consideram ter sido um “mau debate”, porque consideram que foi um jogo entre “suplentes”, ou porque acham que os candidatos são “pequeninos”, já que os dois juntos, dificilmente, atingem os 3m de altura, ou ainda, porque consideram que são pouco “mentirosos” e assim em 2009, sócrates, tem já a “coisa” ganha.

Eu por mim confesso que estive a torcer pelo “Luís” e irei votar nele no dia 28 de Setembro. Não por achar que é o menos mau, mas porque acho, que é o melhor dos dois e como mais nenhum militante teve a coragem de se chegar à “frente”…vou votar nele por ser o que apresenta (e já não é de agora), algumas das ideias em que me revejo, nomeadamente:
- A escolha dos deputados ser feita pelos órgãos distritais.
- A escolha dos candidatos aos órgãos autárquicos serem feitos pelos militantes do concelho (e sei o que esteve para acontecer em Marvão nas últimas eleições).
- Quer alterar a lei para eleição do Presidente de Câmara, passar a eleger-se apenas a Ass. Municipal. O vencedor depois escolhe o “executivo”.
- É frontal e corajoso, criticou e deu a “cara”.
- Quer diminuir o nº de deputados para 81, e criar 2 círculos eleitorais (nacional e local).
- Vai a jogo sem ter a maioria dos “barões” (ou serão mamões) a seu lado.
- Quer dinamizar o Partido, porque acha que estão todos de férias, à espera do D. Sebastião. Eu acho o mesmo, etc. etc….

Mas sinceramente…, se eu fosse o meu amigo “Luís”, o que eu diria aos “exeperts” da nossa praça, era aquilo que eles quereriam ouvir e teria a ousadia de prometer o seguinte:

- Criação de 500 000 empregos, reduzindo a taxa de desemprego para 0%.
- Acabaria com todas as “portagens” das “scuts” e ninguém pagaria um chavo nas auto-estradas em todo o país.
- O ordenado mínimo seria aumentado para 1 000€
- Diminuição de 5% em todos os impostos
- Pensões mínimas de reforma 500 €
- Crédito à habitação a 0% de juros.
- Combustíveis ao preço de Espanha.
- Diplomas de “licenciatura” a todos os que soubessem 3 palavras em “inglês”.
- Dissolução de todos os processos da (in) justiça com mais de 1 mês nos tribunais.
- Venda de todos os medicamentos sem receita médica e em todo o lado, inclusivamente, nas farmácias.
- Etc., etc….

Nota do Candidato: Depois de ser eleito não cumpriria nada…mas isso é o que fazem os outros.

Garanto que nem platão me venceria, quanto mais 1 sócrates!

Um abraço

João Bugalhão