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Na reunião da já mítica Real Tertúlia do Camarão de Marvão de ontem, a Estrela, que para nós há-de ser sempre a “Estrela do Carroça”, como o próprio bar há-de ser sempre “o Carroça” e nunca “O Adro” (“vais pró Carroça?”, “vens do Carroça?”, “estiveste no Carroça?”); veio-me com uma conversa das dela, que é como quem diz, que trazia água no bico. Disse-me que “ah, e não sei quê, que a malta gosta é de ver touradas espanholas na televisão e que tanto a chatearam que se viu quase obrigada a contratar o Canal Plus, que é caríssimo, e aquelas voltas todas para me vir com uma lata preta onde faz a colecta para pagar o tal canal e dá lá mas é o teu contributo.
E eu… claro está… caí.
E comecei a ver a tourada que estava a dar em diferido, com os comentários especializados do Zé Manel Saldanha (que explicou que a temporada já abriu, e agora é um mês em Las Ventas, Madrid portanto, com tudo esgotado, e depois vão para Sevilha e por aí fora). Havendo outro tertulianos muy aficionados como é o caso do nosso Andrade (ele próprio, o maior forcado vivo a seguir ao Chibanga que era bandarilheiro mas também conta), e convidados que também o eram (o nosso Chico Barril), aquilo foi tipo uma aula em tempo real.
E lembrei-me que eu já vi muita tourada daquelas, pá! Quando estudante e solteiro e menor e vivendo na casa de meus pais na Beirã, quando a televisão portuguesa era só a RTP e os seus dois canais horríveis, quando estava de férias e o calor era abrasador e não podíamos sair de casa e não havia literalmente nada para fazer… eu via as touradas na espanhola, TVE1 e TVE2.
Na maior parte do tempo, batia no meu irmão e fazia-lhe patifarias variadas que era a minha ocupação principal. Ter os pais a trabalhar e fora de casa durante todo o dia, e poder desfrutar da companhia de um irmão 6 anos mais novo, quando se tem 12 ou 13 ou 14 ou 15, é engraçado. Mas às vezes fartava-me e tinha de descansar e era então que eu via a tourada. E lembro-me que gostava daquilo mas lembro-me também perfeitamente de quando o Paquirri foi colhido e da aflição da sua morte. A cornada foi de tal maneira violenta que o virou logo do avesso e aquela ponta que rasgou pele, nervos, carne, músculos e desfez artérias e deitou a perder litros de sangue, assinou a sua sentença de morte. Lembro-me de o ver lívido e levado em braços, com o olhar já cinzento e preso no infinito do céu. Ele sabia que estava perdido e a calma suave que ganhou expressão no seu rosto fazia um bizarro contraste com correria desenfreada à volta para o salvar. Em vão...
Depois deixei-me de touradas. Das portuguesas dizia que não gostava, até que o meu sogro contagiou o minha filha e eu me deixei enrolar pelo colorido do espectáculo e sobretudo pelas bravas pegas.
Ontem reencontrei-me com as touradas espanholas e compreende-se a magnificência da coisa, deste circo que apaixonou Hemingway e Welles. Não concordo nada quando dizem que se trata de uma luta desigual onde a parte mais fraca há-de sempre sucumbir. Como é que se pode pensar semelhante coisa quando um homem sozinho, apenas munido de uma capa e uma espada e sem qualquer tipo de pistola de defesa, se mete num redondel disposto a fazer arte à frente de um monstro com mais de quinhentos quilos e duas facas afiadas na testa desertinhas de o cravar? Percebe-se ali toda a tragédia da vida e da morte, a enorme pulsão sexual subliminar, a rudeza e ironia da própria existência. Ao mínimo descuido, à menor falha, caem as sombras que tudo pintam de negro, e é isso que alimenta a paixão.
E depois, poder ver as bancadas, todas aquelas belezas do Jet Set a suspirarem pelo piqueno, e até vi um velhote assim com pinta de galã a dar um abraço ao Rei Juan Carlos que era uma coisa que eu nunca pensei que se pudesse fazer a uma rei. Do tipo “Ó Juanito! Tás fixe? Então não pagas uma fresquinha?”. Modernices…
A sua filha mais velha, a Infante Helena é que está um espectáculo… parece mãe dele! Deve de andar na mesma esteticista que a mãe do Bush filho, mulher do Bush pai, que sempre pareceu sua avó. Pudera, a pobre tanto aturou ao maluco do Marichalar que ficou assim. Tadinha…
Das touradas, só há mesmo uma coisa muito estranha e tem a ver com a roupinha do man.
Em primeiro lugar chamam aquilo “traje de luces”, ou seja, “traje de luzes” e luzes não vejo lá nem a primeira. Para fazer jus ao nome, aquilo devia de estar cheinho de lâmpadas de 40Wts e brilhar no escuro. Mas não… Não percebo. E os gajos insistem…
E depois, só mesmo ali é que um tipo pode andar metido dentro de um fatinho de cores garridas coladinho ao corpo, com os tomates e a genitália em geral enfiados numa das pernas de tão justo que está aquela porra, de meias de licra cor-de-rosa (!!!!!!) e de sabrinas rasinhas pretas e não ser enchido de paneleiro. Ainda o acham muito macho. E isto para não falar no chapéu à guarda civil e no carrapito na cabeça…
Ele há coisas…
E Olé!
Sabem o que vos digo? Estou aqui, estou lá calçado a ver mais uma touradinha. Tem havido por aí poucas…
PS: E eu gostava de andar assim um dia vestido aqui em Santo António. Só pelo gozo de poder ouvir o linguajar… Adoro!
Móóóóóóóóóóóóó´nnnnn!
E eu… claro está… caí.
E comecei a ver a tourada que estava a dar em diferido, com os comentários especializados do Zé Manel Saldanha (que explicou que a temporada já abriu, e agora é um mês em Las Ventas, Madrid portanto, com tudo esgotado, e depois vão para Sevilha e por aí fora). Havendo outro tertulianos muy aficionados como é o caso do nosso Andrade (ele próprio, o maior forcado vivo a seguir ao Chibanga que era bandarilheiro mas também conta), e convidados que também o eram (o nosso Chico Barril), aquilo foi tipo uma aula em tempo real.
E lembrei-me que eu já vi muita tourada daquelas, pá! Quando estudante e solteiro e menor e vivendo na casa de meus pais na Beirã, quando a televisão portuguesa era só a RTP e os seus dois canais horríveis, quando estava de férias e o calor era abrasador e não podíamos sair de casa e não havia literalmente nada para fazer… eu via as touradas na espanhola, TVE1 e TVE2.
Na maior parte do tempo, batia no meu irmão e fazia-lhe patifarias variadas que era a minha ocupação principal. Ter os pais a trabalhar e fora de casa durante todo o dia, e poder desfrutar da companhia de um irmão 6 anos mais novo, quando se tem 12 ou 13 ou 14 ou 15, é engraçado. Mas às vezes fartava-me e tinha de descansar e era então que eu via a tourada. E lembro-me que gostava daquilo mas lembro-me também perfeitamente de quando o Paquirri foi colhido e da aflição da sua morte. A cornada foi de tal maneira violenta que o virou logo do avesso e aquela ponta que rasgou pele, nervos, carne, músculos e desfez artérias e deitou a perder litros de sangue, assinou a sua sentença de morte. Lembro-me de o ver lívido e levado em braços, com o olhar já cinzento e preso no infinito do céu. Ele sabia que estava perdido e a calma suave que ganhou expressão no seu rosto fazia um bizarro contraste com correria desenfreada à volta para o salvar. Em vão...
Depois deixei-me de touradas. Das portuguesas dizia que não gostava, até que o meu sogro contagiou o minha filha e eu me deixei enrolar pelo colorido do espectáculo e sobretudo pelas bravas pegas.
Ontem reencontrei-me com as touradas espanholas e compreende-se a magnificência da coisa, deste circo que apaixonou Hemingway e Welles. Não concordo nada quando dizem que se trata de uma luta desigual onde a parte mais fraca há-de sempre sucumbir. Como é que se pode pensar semelhante coisa quando um homem sozinho, apenas munido de uma capa e uma espada e sem qualquer tipo de pistola de defesa, se mete num redondel disposto a fazer arte à frente de um monstro com mais de quinhentos quilos e duas facas afiadas na testa desertinhas de o cravar? Percebe-se ali toda a tragédia da vida e da morte, a enorme pulsão sexual subliminar, a rudeza e ironia da própria existência. Ao mínimo descuido, à menor falha, caem as sombras que tudo pintam de negro, e é isso que alimenta a paixão.
E depois, poder ver as bancadas, todas aquelas belezas do Jet Set a suspirarem pelo piqueno, e até vi um velhote assim com pinta de galã a dar um abraço ao Rei Juan Carlos que era uma coisa que eu nunca pensei que se pudesse fazer a uma rei. Do tipo “Ó Juanito! Tás fixe? Então não pagas uma fresquinha?”. Modernices…
A sua filha mais velha, a Infante Helena é que está um espectáculo… parece mãe dele! Deve de andar na mesma esteticista que a mãe do Bush filho, mulher do Bush pai, que sempre pareceu sua avó. Pudera, a pobre tanto aturou ao maluco do Marichalar que ficou assim. Tadinha…
Das touradas, só há mesmo uma coisa muito estranha e tem a ver com a roupinha do man.
Em primeiro lugar chamam aquilo “traje de luces”, ou seja, “traje de luzes” e luzes não vejo lá nem a primeira. Para fazer jus ao nome, aquilo devia de estar cheinho de lâmpadas de 40Wts e brilhar no escuro. Mas não… Não percebo. E os gajos insistem…
E depois, só mesmo ali é que um tipo pode andar metido dentro de um fatinho de cores garridas coladinho ao corpo, com os tomates e a genitália em geral enfiados numa das pernas de tão justo que está aquela porra, de meias de licra cor-de-rosa (!!!!!!) e de sabrinas rasinhas pretas e não ser enchido de paneleiro. Ainda o acham muito macho. E isto para não falar no chapéu à guarda civil e no carrapito na cabeça…
Ele há coisas…
E Olé!
Sabem o que vos digo? Estou aqui, estou lá calçado a ver mais uma touradinha. Tem havido por aí poucas…
PS: E eu gostava de andar assim um dia vestido aqui em Santo António. Só pelo gozo de poder ouvir o linguajar… Adoro!
Móóóóóóóóóóóóó´nnnnn!
4 comentários:
Eu que sou uma aficionada, gosto particularmente de corridas á portuguesa, admiro nuestros hermanos pela forma singular como lidam o touro e a dignidade da luta. Um contra o outro, vence sempre o mais astuto, nao e uma questao de força. Tambem eu na minha juventude, durante as
interminaveis ferias de verão, como o leque de escolha nao é muito variado por estas bandas, via a TVE.
Penso que foi através dela que lhe ganhei gosto. A RTP so transmitia as quintas a noite, era semanal. Tudo isto para dizer que sempre achei muito ridiculo aquele trage de luses. Nós ja sabemos que os teem, de contrario nao estariam ali a enfrentar o bicho, mas que contradição na indumentária... os orgãos genitais bem visiveis, e depois aquelas meinhas cor de rosa e as sabrinas. Enfim, a tradição taurina nem contesta estas coisas, eles la devem estar confortáveis nas suas fatiotas.
Olá Olá!
A ZON já disponibilizou um canal, de nome Festa Brava, onde transmite as corridas espanholas! Custa dez euros por mês e,muito provavelmente, deve ser mais em conta que toda a Via Digital espanhola...
Abraço
Hoje podes ver o Miguel Angel Perera que tem um futuro muito promissor...mas para mim não há como o Morante de la Puebla um verdadeiro poeta do toureio. Vê tu que há uns anos atrás esteve duas temporadas sem tourear porque tinha uma depressão....lol
Quanto aos trajes de luzes...tens toda a razão da jaqueta até gosto...mas o resto...é muito abichanado!
Abraços de Monforte.
Aparece na Monforfeira para tomarmos una copas.
Que eu seja ceguinho se não é verdade que quando fiz este post disse para mim mesmo que estes dois artistas haveriam de por aqui pousar em comentários certeiros. Afinal… são os meus dois amigos mais entendidos nestas andanças…
Beijinhos, ó Bitchi. Esse canal não dá no MEO?
Quanto ao convite para a Monforfeira… quem sabe, ó Artur…
Beijinho também à Gi Caldeira. As melhoras, ó miga.
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