quarta-feira, 3 de março de 2010

De faxina...


Se há coisa que me deixa verdadeiramente feliz é quando consigo fazer uma daquelas tarefas que costumamos deixar sempre para depois. Sabem? Aquela que ou porque é chata, ou porque é trabalhosa, ou porque é cara… acaba sempre por ser ultrapassada por outras mais urgentes ou imprescindíveis e vai ganhando uma aura mítica que lhe confere um estatuto de intangibilidade.

Costumamos, nesse então, dizer para nós próprios: “Eu devia de… mas…” e este MAS é que amola a coisa e a deixa a rir-se da nossa incapacidade.

E se o meu sótão andava mesmo a pedi-las… Então agora, que montei lá uma mini-área de fitness para o exercício caseiro…

É que não havia vez que lá entrasse ou de lá abalasse que não lhas prometesse entre dentes. Dizia-lhe, ameaçador… “ai se não fosse isto… ou aquilo… ou o outro… mesmo agora te metia mão”, mas… (cá está o MAS que nunca mais era). Durou isto até sábado passado. E já o dia ia numa hora (passavam das 4h da tarde), em que o piloto automático interno me estava a convencer para deixar para a próxima… “Agora é que vais lá para cima? A esta hora? E se aparecem visitas? Olha que já é de noite… e está um gelo do caraças. Ó pá, deixa-te de cenas e vai mas é ao recreio. Relaxa...".

Contrariado, um tipo arranja coragem mas ao encontrar-se assim sozinho, como uma tarefa destas pela frente… é de meter respeito. Sobretudo porque o meu sótão estava já naquela fase do “não ter ponta por onde se lhe pegue”.

E é deveras impressionante constatar a quantidade de “coisas” que se amontoam quando temos pena de as deitar fora. Se se lamenta que vá para o lixo, vai para onde? Isso mesmo! Sótão com ele! (embora a variável “Cave” ou “Marquise” também possa ser utilizada em habitações com outra morfologia).

O que o meu tinha a mais armazenado no papo desde 2004 era:

- Revistas, muitas revistas, resmas de revistas, milhares de revistas que se guardaram por causa daquela foto, daquele texto, de um dossier qualquer, por ser uma edição XPTO… Do extermínio safaram-se: a colecção das Blitz, a colecção da Playboy portuguesa (Claro!), a colecção da espanhola “História y Vida”; e algumas “Vanity Fair” especiais. Da bíblia musical semanal “New Musical Express” que vem direitinha de Inglaterra para os meus bracinhos, só sobraram as edições especiais por manifesta falta de espaço. Paz à alma das restantes…

- Pilhas de jornais, torres gémeas de jornais, uma infinitude deles. Daqueles que na 1ª página plasmaram para a história grandes resultados do Benfica e da Selecção, não faltava lá nem o primeiro. E depois aquela mania de guardar o que faz o balanço do ano, da década… é demais;

- A minha colecção (uma parte diminuta… a outra ainda está em pousio no sótão dos meus sogros… ) de cassetes VHS. Parece coisa do século XVIII… Os meus filmes, tantos filmes da minha vida… horas a gravar dos canais generalistas… Tudo fora! Vá lá que já está praticamente tudo reposto em dvd ou em formato digital num dos discos rígidos. Bem dizia o tio Lavosisier: “Na natureza nada se perde… tudo se transforma…” . Safaram-se, porque acho que ainda vão valer dinheiro, a colecção INTEGRAL dos Ficheiros Secretos e as 18 temporadas iniciais dos Simpsons.

- Montes de brindes, bugigangas, prendas de e para quermesses, coisas do arco da velha;

- Montes de material informático obsoleto, CPUs, monitores, teclados, ratos e colunas;

- Centenas de cds oferecidos em revistas e jornais, programas e jogos, coisas que já não valem. a pena / não funcionam / já estão ultrapassadas e / ou obsoletas;
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- Códigos, diplomas, instruções e apontamentos fiscais que estavam desactualizados e ultrapassados pelo prazo de prescrição (só se aproveitaram os dossiers…);

- Dois chineses já mumificados, um Koala e uma brigada da Al Qaeda (Vejam lá que isto é a brincar, hem… Não me mandem para aí os gajos da PJ! Dasss…).

Basicamente era isto e muito mais! E não bastava já a complexidade de me desfazer de tudo quando eis que me meti numa pior: RECICLAR!

Coisas da minha mulher e da minha filha. Dão-me a volta ao miolo! Eu nisso, sou do mais egoísta que pode haver… Alguma vez eu me metia a separar lixo? Para quê? Bastava pensar na porcaria que os mais industrializados despejam numa fracção de segundo no planeta para me sentir uma gota insignificante neste oceano de detritos e ficar quieto de vez… mas elas deixavam? Valha-me Deus! Era logo um auto de fé! Isto aqui em casa, tudo se aproveita e recicla, até a tampinha da pasta de dentes…

Maneira que antes de arranjar chatices, comecei logo a separar tudo, não fosse ter de as ouvir. Uma cena… Foi o TRIPLO do trabalho. E o pior é que eu sou um bocadinho disléxico… Ainda hoje não tenho bem a certeza para que serve o contentor amarelinho mas parece que plástico e metal podem ir juntos de forma que… escapou…

Uma empreitada… E depois chega uma fase em que pensamos que jamais iremos acabar aquilo, em que nos apetece começar a correr como o Forrest Gump e só parar na Praça Vermelha de Moscovo. Passa-se da depressão profunda à euforia, de regresso ao desespero, atravessamos fases de angústia total. Mas passou… Aleluia…

Enchi o Twingo, cotadinho, até às orelhas com a sucata esta…

Vá lá que quando cheguei aos contentores pude contar com a ajuda de um especialista conceituado que é responsável pela reciclagem da Casa do Povo e de todos os bares e estabelecimentos da baixa arenenese.


"Hum... deixa cá ver o que é que este bornal anda a fazer..."


"Está tudo mal! Mas não leste isto?"


"Vê lá se acertas e metes separadinho como deve ser..." -
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Ainda sim… Não me livrei de espetar com um saco de cartão no do plástico e vice-versa. Ainda meti lá um braço no buracão e repus algumas coisas… Mas já ficou lá pouco… É que não me podia esticar mais… Imaginem que passa alguém… Já estava a ver as conversas nos cafés… “Ai coitado do rapaz… é natural que agora ganhe menos bem mas chegar a tanto… ter de vasculhar o lixo para dar de comer às filhinhas… Q’horror…”. Livra! Pois sim!

Já agora, temos de deixar algum trabalhinho para os gajos da Valnor que estão cheios do guito e também têm de “bolir” senão vai tudo para o rendimento mínimo. Muito já a gente faz…

Olha, e não é que no final me senti bem? Sim senhor! E disse-me a minha numa de apreciação final: “O sótão nem parece o mesmo!”. Olaré!

Podes crer! Mas não é que no mesmo momento em que respirava de alívio pela prova superada… me lembrei que tenho o piso da arrecadação da garagem atafulhado com 6 anos de tralha acumulada? Ai euuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu………………………………………………..

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