Eu estava a terminar um levantamento de dinheiro no único multibanco disponível na aldeia onde vivo e não me apercebi que entretanto alguém tinha chegado nas minhas costas.
Quando me virei, abordou-me, delicada: “Boa tarde. O senhor não se importava de me fazer um favor?...”.
Conheço-a apenas de vista. Devemos ter trocado dois ou três cumprimentos de circunstância, pelo que estranhei a confiança implícita na pergunta.
“Depende do favor, minha senhora. Só lhe posso responder depois de me dizer o que pretende de mim…”.
“Queria-lhe pedir se me levantava dinheiro. É que eu não sei ler… Nem sequer os números conheço… e ando desconfiada que ele me anda a tirar daí dinheiro sem eu saber…”.
Nisto levou as mãos à carteira de onde retirou o cartão e o envelope com o código secreto que me confiou de imediato, num gesto que me desarmou e deixou sem defesa.
“E quanto é que a senhora quer levantar?”.
“Tudo! Levante tudo!”.
“Isso não pode ser... Os levantamentos têm limite. O máximo por dia é de 200 euros. A máquina não dá mais que 40 contos”, disse-lhe eu, pecando por excesso como haveria de descobrir de seguida.
“200 euros?!?! Ahhh… mas isso não tem lá tanto…” e ficou a olhar à espera que eu tivesse uma resposta.
“E se eu visse o saldo primeiro? Assim já podia decidir melhor…”.
“Isso! Veja-me lá isso então!”.
“Olhe, são 129 euros…”.
“AI SIM? Ai o bandido… eu bem desconfiava… Ele tem andado fugido… Eu tenho mas é de me ver livre dele… Ainda ontem chegou bêbado… quis-me matar a mim e à minha mãe com um ferro… veja bem… ai eu… que sorte a minha… olhe! Levante-me tudo! É da maneira que assim já não me rouba mais nada! Prontos! Anda uma pessoa a trabalhar para um bandido destes… Levante-me tudo, se faz favor”.
“Tem a certeza?”.
“Sim, sim. Levante-me tudo”.
E eu assim, fiz. Quando lhe entreguei o dinheiro ainda lhe disse: “Veja lá… não me envolva em nada disto… Eu não quero arranjar chatices. Não quero ter problemas com ninguém. Já me bastam os que vêm ter comigo…”.
“Fique descansado”.
E cada um seguiu o seu caminho.
Enquanto caminhava para o carro. Na viagem para casa. Nesse serão e até hoje desde então, de cada vez que me recordo do episódio, apenas uma pergunta persiste sem resposta: “como é que é possível?”.
Quando me virei, abordou-me, delicada: “Boa tarde. O senhor não se importava de me fazer um favor?...”.
Conheço-a apenas de vista. Devemos ter trocado dois ou três cumprimentos de circunstância, pelo que estranhei a confiança implícita na pergunta.
“Depende do favor, minha senhora. Só lhe posso responder depois de me dizer o que pretende de mim…”.
“Queria-lhe pedir se me levantava dinheiro. É que eu não sei ler… Nem sequer os números conheço… e ando desconfiada que ele me anda a tirar daí dinheiro sem eu saber…”.
Nisto levou as mãos à carteira de onde retirou o cartão e o envelope com o código secreto que me confiou de imediato, num gesto que me desarmou e deixou sem defesa.
“E quanto é que a senhora quer levantar?”.
“Tudo! Levante tudo!”.
“Isso não pode ser... Os levantamentos têm limite. O máximo por dia é de 200 euros. A máquina não dá mais que 40 contos”, disse-lhe eu, pecando por excesso como haveria de descobrir de seguida.
“200 euros?!?! Ahhh… mas isso não tem lá tanto…” e ficou a olhar à espera que eu tivesse uma resposta.
“E se eu visse o saldo primeiro? Assim já podia decidir melhor…”.
“Isso! Veja-me lá isso então!”.
“Olhe, são 129 euros…”.
“AI SIM? Ai o bandido… eu bem desconfiava… Ele tem andado fugido… Eu tenho mas é de me ver livre dele… Ainda ontem chegou bêbado… quis-me matar a mim e à minha mãe com um ferro… veja bem… ai eu… que sorte a minha… olhe! Levante-me tudo! É da maneira que assim já não me rouba mais nada! Prontos! Anda uma pessoa a trabalhar para um bandido destes… Levante-me tudo, se faz favor”.
“Tem a certeza?”.
“Sim, sim. Levante-me tudo”.
E eu assim, fiz. Quando lhe entreguei o dinheiro ainda lhe disse: “Veja lá… não me envolva em nada disto… Eu não quero arranjar chatices. Não quero ter problemas com ninguém. Já me bastam os que vêm ter comigo…”.
“Fique descansado”.
E cada um seguiu o seu caminho.
Enquanto caminhava para o carro. Na viagem para casa. Nesse serão e até hoje desde então, de cada vez que me recordo do episódio, apenas uma pergunta persiste sem resposta: “como é que é possível?”.
Sem comentários:
Enviar um comentário