sexta-feira, 27 de março de 2009

Dias de Rock

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Há uns tempos… recebi uma encomenda na minha caixa de correio …

Agora que os meses que distam do final do mandato já permitem olhar para a frente com indisfarçável alívio e para trás com o discernimento que só tempo traz, recordo o Rockfest com orgulho pelo que foi, com tristeza pelo final abrupto e sobretudo, com muita saudade.



O Marvão Rockfest foi uma das minhas grandes promessas e ambições para o Pelouro da Juventude, na tentativa de fazer um grande festival que celebrasse Marvão e o colocasse na rota da malta nova de todo o país.

Nas suas duas breves, mas muito intensas, edições, senti que quase o consegui.

Recordo como foi difícil convencer a quem de direito de que valeria a pena, de como trabalhei para recrutar promotores (Luís Montez e Álvaro Covões incluídos) e de como tudo se tornou possível graças ao apoio da Delta e da Heineken, conseguido pelo espírito persistente e empresarial do meu amigo e colega Zé Manel, honra lhe seja feita.

Depois foram dias de trabalho árduo de volta da programação e promoção; montando uma estrutura pesadíssima ao nível de palco, som e luz; acertando todos os detalhes de logística (comidas, dormidas e caterings para aquela gente toda), de presença constante e sempre disponível no terreno para que nada falhasse.

Foram dias disto tudo mas sobretudo de sonho, divertimento e de pura ilusão, sempre trabalhando em equipa.

O Rockfest teve tudo para vingar e crescer. Estiveram então entre nós alguns dos nomes maiores da música nacional e contámos com um forte apoio financeiro que no primeiro ano chegou a custear a totalidade das bandas. Chegámos inclusive a ter a família Nabeiro e a director nacional de marketing da Heineken a jantar e dar o seu aval na estreia connosco. Jamais esquecerei os rasgados elogios que teceu à beleza do espaço e a toda a organização por não ter descurado o mais menor detalhe.

Após a primeira edição chegou a projectar-se um grande festival ibérico a realizar na fronteira de Marvão com bandas dos dois países num line-up conjunto que atrairia assistências das grandes cidades limítrofes num universo de muitos milhares de potenciais consumidores. Chegámos inclusive a reunir com a equipa que realiza o festival de Paredes de Coura e estivemos a um passo da concretização. Faltou uma atitude política de força e confiança. Teríamos de ser nós a assumir a parte de leão e não houve vontade superior de arriscar.

Foi preferível ceder à mentalidade curta e cinzenta, às críticas fáceis, aos comentários de esquina e o projecto foi assim encerrado e engavetado, tendo sido selado numa Assembleia de má memória em que só faltou apedrejarem-no.

É certo que em ambas edições o tempo inexplicavelmente nos falhou apesar de ser Junho. É certo que o sucesso seria outro se o tivéssemos realizado num outro fim-de-semana mesmo que coincidisse com uma festa popular do concelho, num mês de garantia meteorológica e de assistência, mas o respeito pelo que estava instituído assim não o permitiu.

Podia ter sido e não foi mas mesmo assim foram muitas e muitas as centenas de pessoas que tiveram a sorte de assistir a noites únicas com um cenário indescritível do Marvão à noite, a emoldurar actuações memoráveis.

O Rockfest foi também uma semente que poderia ter sido explorada nas mais diversas vertentes. Pelo menos conseguiu colocar a música ao serviço da divulgação da nossa terra e nessa medida foi um sucesso absoluto.

Na primeira edição, tive oportunidade de conhecer o Paulo Furtado dos Wraygunn e convidei-o a fazer um retiro no nosso concelho para compor o próximo disco da banda. O convite foi aceite e o produto desse trabalho, “Shangri-la”, foi considerado o disco do ano pela crítica nacional e não houve uma única entrevista em que o frontman da banda conimbricense não se referisse a Marvão e não publicitasse o “paraíso” que deu o título a este trabalho de longa duração. Os Wraygunn levaram Marvão por esse país fora e recebi há semanas um gentil sms de Furtado a convidar-me para estar presente num sábado, na Aula Magna, para o espectáculo de encerramento da tournée. Não esqueceu...

Eu sei que é o meu nome que vem em segundo lugar na vasta lista de agradecimentos desse trabalho, mas enquanto representante de todos aqueles que tiveram a capacidade de acreditar comigo e aqui tenho mesmo de destacar o Hernâni, o Barradas, incansáveis braços-direitos, e o empresário Nuno Madeiras que foi sobretudo um amigo e companheiro.

A aventura voltou a repetir-se com os Poppers, brilhantes cabeças-de-cartaz do segundo ano, que estiveram em Outubro último entre nós a compor o trabalho que verá em breve a luz do dia. Fiz tudo para que se sentissem em casa e fossem felizes. É óbvio que ganhámos respeito mútuo, afecto e amizade. Quem semeia…

Fiz de anfitrião e conduzi-os ao retiro noite dentro, garanti-lhes conforto e que nada lhes faltasse, levei-os a conhecer o melhor da nossa cozinha alentejana num jantar de boa memória pago do meu próprio bolso, na Varanda do Alentejo. De resto, a casa onde permaneceram foi cedida a título gratuito e a Câmara não teve de gastar um cêntimo com qualquer uma destas operações. Foi apenas uma questão de ajudar e esperar o retorno em divulgação para a nossa terra.

Há dias li na revista especializada Blitz que o disco novo está para sair e lá vinha a inevitável referência a Marvão. Nos mails que troco com o vocalista Rai e nalgumas conversas informais que mantivemos, chegou-me a falar que o festival de Marvão já era conhecido na cena lisboeta e as bandas comentavam entre si a onda fantástica de tocar num sítio tão especial. Os hypes criam-se assim…

Com esta proximidade das estrelas nacionais percebi que os artistas, e tenho a certeza absoluta que neste dois casos assim o é, são pessoas como nós. É certo que com uma aura especial, com um talento e um virtuosismo que os distinguem mas na verdade, gente de carne e osso com aspirações, sonhos e sentimentos, tal como todos nós.

Voltemos então à encomenda que recebi há dias no correio…

Lá dentro, um presente e uma nota que dizia: “Caro amigo, ofereço-te esta harmónica por significar muito para mim, mas sei que cuidarás dela melhor que eu. Gravou a “Days of Summer” e andou em tournée connosco, mesmo quando fomos aí a Marvão. 1 forte abraço deste teu amigo: Rai”. 06.01.09.

Espero que ele me perdoe a inconfidência, mas agora, passado este tempo todo, percebo assim a força do Rockfest e que ele jamais se perderá. Poderá estar adormecido, em silêncio, como um vulcão à espera do seu momento… mas nunca morto.

Pode ser que venha quem lhe pegue. Pode ser que venha quem lhe saiba dar o real valor e o traga de volta. Pode ser que entre para a Câmara quem o faça viver outra vez e torne realidade o meu sonho de tantas noites, em que centenas de jovens acampam, namoram e caminham pelas encostas de Marvão, sorrindo e curtindo o som no mais lindo dos festivais de Portugal.

Keep on Rockin’ Boys!





Os Poppers à porta do mítico Cavern. Rai, o segundo a contar da esquerda
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Os grandes Bunnyranch que nos brindaram com uma actuação apoteótica

Ao vivo no Rockfest

Lindo de morrer...
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1 comentário:

luis miguel disse...

Olá

É pena ter (acabado)nas,infelizmente é a mentalidade do nosso conselho .

Temos o caso do festival de teatro no 1 ano tivemos 30,40 pessoas a assistir ,agora já temos 70,80,100 é uma questão de dar contunoidade ao trabalho .

Era bom que tudo desse certo de inicio .

O difícil é mudar as mentalidades .


Um abraço