quinta-feira, 4 de março de 2010

Jornada de luta (em formato autocolante)

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É só para dizer que eu, desde as 0 horas deste dia, estou grevista.

Camaradas… a hora é de luta!

Ainda andei a pensar se fazia… se não fazia… e atentei no aviso prévio de greve do meu sindicato, o dos trabalhadores dos impostos (STI). E não é que eu concordo com aquilo tudo? TUDINHO!

Dizia:

Porque os trabalhadores dos impostos exigem respeito pela sua cultura e identidade (Verdade!);

Pelo pagamento das subidas obrigatórias e respeito pelas notificações efectuadas (Verdade!);

Por uma política de quadros que não abandone o interior, nem obrigue os trabalhadores ao nomadismo (Nota: o que só por si constitui uma imagem fantástica. “Obrigar ao nomadismo” é uma expressão muito boa. Imaginamos logo os trabalhadores nómadas, vestidos apenas com peles de animais, armados com seixos rolados e pontas de setas, calcorreando este país em busca de emprego e alimento, sujeitos às contrariedades do clima e a animais ferozes. Nota + para o sindicato. E isto também é verdade);

Contra a adopção de estudos quantitativos que desprezam os funcionários (Verdade!),

Pelo não encerrar de Serviços no interior do país (Muito verdade mesmo!);

Por um projecto de carreiras digno para os trabalhadores da DGCI (Verdade!);

Porque não aceitamos as quotas do SIADAP (E muito bem!);

Pela eleição de Comissões Paritárias (E já agora, desparasitárias também! Eu aí vou mais longe!);

Para que não existam mais estágios de 3 anos e pela nomeação imediata dos actuais estagiários;

Contra os aumentos zero depois de uma década de congelamentos (Nota: Propícia a uma nova idade do gelo…);

Contra a perda de vínculo dos colegas do Regime Geral e da DGITA (e muito bem!)

E aqui as razões já eram tantas que dei um murro na mesa e disse: “estou grevista!”. Foi uma revelação!

Mas o meu sindicato não brinca e enviou-nos num envelope de grandes dimensões, a sua última cartada para convencer os mais resistentes, em forma de autocolantes. E que autocolantes, meus amigos…

Isto dá vontade mas é de fazer greve de fome! Um homem vê isto e até se passa! Dispõe-se logo a ir ao limite da greve, à greve até para respirar.

Da bateria de diversos, seleccionei 3, e que 3! Ora atentai de novo:


Este primeiro é uma delícia e tem reminiscências nos filmes de terror de série B dos anos 70. Diz que: “Dia 4 estamos em greve…” mas (e aqui o MAS volta a ser mesmo muito importante) Atenção! No dia 5 voltamos!”. Que é como quem diz: “vá lá… tenham lá este diazinho de folga da gente mas não relaxem porque vamos voltar com a força toda para cobrar os impostos que fazem falta à nossa vida”. Muito, muito bom! Esta última parte lida ao som de violinos estridentes deve de ser de arrepiar. Categoria!


Este então é de um humor finíssimo. “O Fisco adverte… Greve não provoca cancro”. Epá… isto é quase poético. Nem os próprios Gatos Fedorentos se lembrariam de uma destas. Esta é como quem diz: “Opá, fumem, bebam, passem os dias aos sol, rebentem-se todos que a gente não se importa mas façam greve porque até ver, os efeitos secundários, à excepção da perda do vencimento do dia, não são gravosos. Este é um autocolante a anunciar a greve do fisco mas podia muito bem ser um maço de tabaco.
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E para finalizar… a cereja no cimo do bolo:
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Não há comentário possível. É de ir às lágrimas.

Hoje estou em luta por tudo o que o meu sindicato diz que é verdade, mas muito também por este(s) autocolante(s).

Não é assim quem quer. É só quem consegue.

Este último vai andar na minha lapela amanhã. Chique demais!

4 comentários:

Garraio disse...

Ora aí está!
Foi por isso que eu não fiz greve!

O STAL continua com uma imagem arcaica, que faz lembrar aqueles stalinistas dos anos 70. Perdeu-se nos tempos e, infelizmente até nisso, a administração local é a parente pobre dos funcionários.

E lá fui eu trabalhar, devido à falta de imaginação sindical!

Catarina disse...

E eu que ainda pensei que tu estavas a brincar...é mesmo...chique demais!

Fernando disse...

Bem, em primeiro adorei o post e os autocolantes, que já conhecia umas versões mais antigas.

Depois dizer ao amigo Garraio, que a luta pelos nossos direitos não se deve fazer se a imagem é arcaica ou moderna. A luta faz-se por pensarmos que nos estão a retirar direitos. E neste momento estão!

A modernização da imagem ou não dos sindicatos faz-se com o contributo dos trabalhadores. Os sindicatos são o reflexo da sociedade que temos. A culpa, no fim de contas é de todos nós.

Seja arcaico ou moderno, o que nenhum sindicato deve perder é o seu carácter de reivindicação e luta pelos direitos de quem trabalha. Se perder este princípio perde a sua essência. Pode ser tudo, menos um Sindicato digno desse nome.

O progresso não se consegue com a retirada de direitos. O que muitos querem é tirar, tirar e continuar a tirar à Administração Pública para equiparar ao sector privado.

Quando os empresários deste país apoiam as medidas de emagrecimento da Administração Pública, estão a pedir para se retroceder nos direitos de modo a que depois não sejam tão pressionados para aumentos nas empresas privadas e continuarmos com a mesma receita de sempre. Baixos salários!

Depois há outra questão que me preocupa. A falta de solidariedade entre trabalhadores

Quando é que todas e todos nós percebemos, que ou nos unimos nestas fases de ataque feroz aos nossos direitos, ou quando acordarmos estaremos todos mais pobres e os senhores do capital cantarão aleluias porque estarão mais ricos.

Acabei de receber o documento do Governo sobre o PEC - Programa de Estabilidade e Crescimento, mesmo sem concretização e por isso sem perceber o que vai estar em causa, vem uma intenção sobre a Administração Regional e Local.

Preparem-se. Os tempos que vamos viver exigem solidariedade entre todos, senão no fim da tempestade a bonança não será para todos.

Garraio disse...

Amigo Fernando:
Suponho que me conheces minimamente para saber que não é neste comentário brincalhão que se expõe a razão pela qual não fiz greve.
Não fiz greve, porque enquanto não tivermos (AL) sindicatos que nos representem condignamente, fazer greve SÓ significa perder um dia de salário;
A imagem do STAL é ridícula; da sua eficácia nem falemos. O STAL faz-me lembrar os tempos da LISNAVE, logo a seguir ao 25 de Abril, quando não se sabia muito bem o que é que acontecia no dia seguinte.
Não me lembro da última batalha que o STAL tenha ganho, mas pode ser que me consigas avivar a memória… os trabalhadores da AL vão continuar a levar sopa, toda aquela que o poder central e os presidentes de câmara lhe quiserem dar…
No entanto assistimos a um sindicato de professores (que eu acho que deveria ter menos força que o STAL) que, com imagem moderna, com um diálogo actual, conseguiu mais num dia que o STAL e as suas ridículas manifestações stalinistas que já ninguém leva a sério, na última década.
Tens toda a razão quando dizes:
“Seja arcaico ou moderno, o que nenhum sindicato deve perder é o seu carácter de reivindicação e luta pelos direitos de quem trabalha. Se perder este princípio perde a sua essência. Pode ser tudo, menos um Sindicato digno desse nome.”
Se calhar o STAL e a luta interna que se mantém pelo poder, já desceram a esse patamar.

Se fosse professor, é claro que tinha feito greve. Ontem, hoje e amanhã.
Pior que não fazer greve é estar convencido que não há ninguém com capacidade para defender os meus direitos a nível sindical. É como se o 25 de Abril não tivesse existido, com a diferença que o Salazar e o Marcelo Caetano morreram sem nada nos bolsos e, na nossa sociedade política actual, cada um rouba por onde pode.