Lá em cima, em Marvão, estava a carapuça enfiada. Foi todo o dia, de noite. |
Naquela
tarde fria, cinzenta, chuvosa de Dezembro, a última de trabalho do ano;
apeteceu-me… fazer bem.
Deu-me
para fazer aquilo, que me dá mesmo gosto de fazer na vida. Isto numa perspetiva
que até é, estranhamente, egoísta.
Porque
apesar do bem estar que possa causar nos outros, o regozijo interno que me dá,
será sempre muito maior, disso vos asseguro.
A
alegria de fazer e saber praticar o bem, num cristão como eu, é incomensurável.
Não
tem forma alguma de ser medida.
Sei
bem, que há muito, quem não goste nada de mim. Por maldade, por inveja, por
rancor… Mas também é bem verdade que, não pode haver alguém que não goste de
mim, porque lhe fiz mal propositadamente, ou porque o tenha prejudicado, com
intenção, sem lhe ter pedido desculpa. Não há. Que venha o primeiro, de mãos limpas sob a mesa; olhos, nos olhos.
Depois
de terminar o último dia de trabalho, em vez de ir laurear a pevide, nadar, ou ir
para casa, para junto de quem mais quero neste mundo; fazer aquelas coisas que nos apetecem sempre… fui fazer o bem.
Fui
visitar um amigo convalescente, um dos mais antigos empreiteiros de Marvão, no
ativo. Um homem fantástico que me habituei a admirar, há muitos anos atrás.
Sempre bem disposto, a saber estar, confraternizar, e fazer-se querido, sabia que
tinha passado por um período menos bom no hospital, também porque a muita idade, já não o ajuda. Tinha tentado ligar-lhe, mas, como nunca consegui chegar até ele,
fui vê-lo. Levei um saquinho de broas de mel que comprei nas “Delícias da
Avózinha”, naquela que é para mim, a melhor doceira de Marvão (que também faz o
favor de me aturar como genro): a dona Maria Jacinta da Silva Lança (não passo a
publicidade, ali na avendia 25 de Abril, frente à albergaria "o Poejo").
A
alegria ao ver-me, a felicidade por se sentir querido, foi tão grande, que
chegou até mim. Fez ricochete.
-
Dá licença, senhora?
-
Quem é? (lá do fundo…)
-
Sou eu. O Pedro.
-
Quem?!?!?
-
O amigo do seu marido, e do seu filho Raposo.
-
?????
-
O que costuma passar aqui, muitas vezes a correr.
(Aproximando-se)
– Ahhhhhhhh… entre, entre! Nem o conhecia… Os meus olhos… Entre!
-
Obrigado. Entrar, eu entrava. Mas a senhora… não tinha lá mais cadeados em casa,
para trancar o portão? Eina… que aqui ninguém mete o pé!
-
Ai… desculpe lá… Já aí vou com a chave…
Assim
que me aproximei da soleira da porta, semi-cerrando os olhos, para conseguir
focar…
-
Ai esta agora… o meu amigo Sobreiro… Ah, meu querido amigo…
Abraços,
conversas, galhofas, perguntas, muitos risos, como é que estavam as finanças, e
o chefe, muitos abraços por dar, o país,
e a política nacional…
Tão
bom… A mim, soube-me tão bem…
Dali,
e porque são vizinhos, visitei uma amiga de há muitos anos que, apesar de ter vários
filhos vivos, passou a noite de natal… sozinha. Nessa noite, ainda assim, teve
a gentileza, e a enternecedora atenção, de me ter ligado a desejar, a mim, que
graças a Deus tinha a casa cheia, um Feliz Natal.
-
Se estou sozinha? Ah, o seu amigo das pinhas, foi convidado para passar na casa
de um amigo taxista, e eu… não o quis prender cá. Deixei-o ir, claro.
Embargado
por esta tamanha lição de amor, também lhe quis deixar uma atenção doce, que
levava comigo, para lhe desejar um feliz ano novo.
Divulgo
estas minhas atitudes, não na esperança de um dia vir a ser beatificado, (que
eu de beatas, é mais as das minhas caninhas/cigarrinhos de tabaquinho orgânico).
Faço-o
apenas porque quero divulgar, quero que chegue aos outros, que por aqui venham
ler, ou passem de raspão; que fazer o bem, dá o mesmo trabalho que fazer mal, mas
tem efeitos completamente díspares. Fazer bem, enriquece-nos, dá-nos paz
interior, é gratificante, e recompensador. Ajuda-nos a dormir melhor, e dá-nos
a tranquilidade de, se nos der um fanico, sabermos que estivemos bem.
E
tão diferente que seria o mundo, se em vez de andar meio mundo a ver se come o
outro, se ajudasse. Tu costumas ajudar?
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