Foto: Mila Mena / dESIGN: Tio Sabi Eles marcaram creio que 3, e nós... já não me lembro |
Sei que tenho muito amigos,
graças a Deus que me fez assim para os merecer. Dos poucos que cabem nos dedos
das duas mãos, está o João Carlos Anselmo. Este texto, é dedicado a ele, e uma
prova de amor, por uma que me deu há dias.
Comecemos… pelo princípio, o que sempre
convém. Sempre amei o futebol, e sempre sofri de um mal enorme em relação a
esta prática desportiva: achar que jogava muito mais, do que os outros achavam
que fazia. Quando tu acreditas numa coisa, e o mundo inteiro está contra ti, é
muito mais difícil convencê-lo a ele, do que te associares.
Desde treinadores de infantis que
me expulsavam dos treinos, chamando-me “indivíduo”, porque estava sempre a fazer
castelos com a terra do campo; a treinadores do GDA que me namoravam para
participar, mas aos quais sempre fugi (desculpa Bugalhão) sempre refugiado na
vida noturna, boémia, incompatível com jogos às 3 horas da tarde, para quem se
deitava sempre às 5h e às 6h da matina, chegado da discoteca semanalmente,
visivelmente… desgastado.
Onde joguei mais a sério foi nos
Couve Rôxa, que ajudei a fundar com o Jaime Miranda, o Cláudio Gordo, o
Fernando Lima e mais uma série de refugiados que nunca eram incluídos em mais
nenhuma outra equipa, até que… fundámos a nossa própria e… o nome diz tudo! Dali
fundimo-nos com os Volkswagen (uma equipa congénere da minha, com outro tipo de
malta, que não os meus amigos da altura), dando origem aos Volkselvagem, tipo
uma seleção dos piores do concelho.
Ou seja, jogar… nunca joguei. Mas
ainda assim, a minha paixão pelo GDA sempre foi tanta, e me senti tão ligado a
este clube, onde tantas horas passei, a jogar snooker, bilhar, setas, máquinas,
moedas, cartas, onde ganhei o meu dinheirito a trabalhar no bar, onde tantas, e
tantas horas, passei a dançar, a beijar, a namorar que… chegaram a convidar-me
para jogar nas Velhas Guardas, há anos atrás, antes do acidente.
- Epá… jogar, eu jogava, mas… é
que eu nuca joguei no clube e… ah… não faz mal?!? Então tá bem!
E assim joguei! E destaquei-me
sobretudo, não pela arte no drible, pela visão de jogo, pela certeza no passe,
mas porque… corria muito, lá na frente (que isso de correr era o meu forte. E
ao correr… abria espaço para os colegas entrarem, ou fazia tabelinhas, ou…
mexia!)
Depois… tive o tal acidente e… a
bola ardeu pró tio Sabi.
Mas eis senão quando, na semana passada,
o João Carlos me convoca para fazer um cartaz para o jogo a acontecer… 3 dias
depois!!!, e me convida a participar. Este rapaz, que anda sempre num
lufa-lufa, com 1000 afazeres, lançou-me assim este desafio… quase para ontem,
como é habitual nele e eu, que nunca gosto de tratar mal, e faço sempre tudo a
quem tudo sempre fez por mim, deitei-me já passava da 1 hora mas o cartaz saiu
para as redes, logo nessa noite.
Se tinha cumprido metade do
desafio, faltava a outra. E eu não gosto nada de falhar. Sábado de manhã,
acordei com a cena de ir jogar à bola, e enquanto pensava nisso, na cama, a chuva
caia copiosamente lá fora, o vento soprava e… eu só pensava
PORQUÊÊÊÊÊÊÊÊ?!?!?!?!?!?!?!?!?!?
Vivi a manhã de temporal, com a
corda no pescoço, a imaginar-me a chapinhar no relvado sintético, que ajudei a trazer
para cá. A esposa foi trabalhar, as filhas, almoçar com a avó e o avô. E eu, um
futebolista convicto, fiz um almoço frugal de sopinha, carne de perú grelhada,
acompanhada de massa cozida, uma peça de fruta, ao meio-dia, bem antes da
habitual 1 hora, para conseguir fazer a digestão até ao jogo.
A chuva passou e, às 15 horas,
fui o 1º jogador a dar entrada na piscina municipal, onde nos iriamos equipar.
O 1º porque o Artur Costa, e creio eu, o Peixe, estavam os dois a fazer tempo,
no carro do primeiro.
Assim que nos começámos a
equipar, as gargalhadas, e a boa disposição foi tanta, que dei logo a investida
por muito bem dada. Aquele Artur é-me um prato… O que a gente se riu. Deram-nos
os equipamentos, e eu tive a alegria de poder meter as chuteiras, e calçar as
chuteiras, que tinha comprado antes do acidente, propositadamente para este
fim. Pensava-as perdidas. Mas tive uma epifania, dias antes, e lembrei-me de ir
ver delas ao sótão, onde nunca pensaria que estariam.
Calcei a 1ª e pensei… ah… está-me
boa. É 43, tem de estar boa. Um número acima do que calço. Mas… um bocado
apertada. Calcei a outra e… opá! Esta não dá mesmo! Mas… espera aí! Se é o
mesmo número. Deixa cá descalça-la, meter a mão cá dentro para ver se tem cá
alguma ce… Ops! Uma meia! Bem… Deve cá ter ficado da última vez que as calcei e…
espera aí! Deixa cá descalçar a outra que já estava calçada par…e… mais um
coelho da cartola!
Se a parte de nos vestirmos foi
engraçada, imaginem lá… o treino de aquecimento, dado pelo professor Nuno
Costa. Chorar, já não choro, mas tive de me parar sei lá quantas vezes, para
ver se não me mijava de tanto rir! Aquele Artur… é demais! Tanta parvoíce
debitada por minuto… Se eu acho que não cresci, o espírito deste companheiro, é
tal e qual quando o conheci, segurem-se… há mais de 30 anos! Se isto não é amigos
de toda a vida, é o quê?
Treinar, treinar, treinei só uns
pontapés antes à baliza que… fica longe comó catano, numa bola que pesa com’acornos!
Livra!
O mister deu a tática. Ia dando,
e dizendo, o que deu sempre imenso jeito! Passas para ali, encostas ali, não
deixes esse, junta mais, junta mais, e eu ia fazendo.
Foto: Artur Costa |
Mas, o momento alto foi o meu primeiro contato com a bola. Algum da defesa adiantou para mim, e a minha ideia, dentro da cabeça, era parar a bola, virar-me, ver quem estava em condições de receber o passe, tocar-lhe, tudo como explica o Luís Freitas Lobo. Mas o que saiu na realidade, foi um pouco diferente. 1º toque, eu corri para a bola, para a receber, e de uma forma absolutamente inexplicável, que adoraria rever (se possível em câmara lenta), enrolei-me, atrapalhei-me, juntei as patas e caí redondo. Estilo uma cabra maluca peada, que se esbardalhou, e bateu com estrondo no chão.
Os gajos devem ter pensado assim:
“OOOOOOOhhhh olha-me este! Bem… nem sequer metemos um a guardá-lo!”
Eu, caído, arrasado de espírito,
com a auto-estima feita em fanicos, a necessitar alguns minutos para me recompor,
e tentar perceber internamente o que me aconteceu, sou completamente arrasado
pelas gargalhadas do meu vizinho Mário Guedelha, o carteiro, que dizia coisas
tão engraçadas, que até a mim me faziam rir… de mim!
Só pensava “ai o sacana do homem!
Logo este! Para ajudar a festa, a minha amiga Teresa Simão, que passou apenas
de relance, mas ficou a gozar o prato, também se juntou ao coro, e viu como eu, qual jogador sensação adiado, fui
ficando, tentando fazer qualquer coisa que limpasse. Mas não limpou.
O que eu prometo? Treinar, e para
a próxima fazer ainda mais e melhor. Pelo menos, a ver se não me esbardalho,
assim à frente de todos.
O meu muitíssimo obrigado vai
para o João Carlos Anselmo (sempre ele!) pelo desafio, tentando a inclusão, em
vez de fazer daquilo um grupo fechado, elitista; ao capitão José (torre) Vaz,
ao sub-capitão Manolo (aos dois, em nome dos braços abertos da equipa), ao
mister Fernando Dias (por acreditar, e ao fazê-lo, convencer-me a mim também); e
a todos os colegas da equipa que foram IMPECÁVEIS!
No final do nosso jantar ainda, um
momento muito bonito, com trocas de palavras entre os dirigentes das duas
equipas, e um momento de muita força para o irmão do Paulinho, um jovem de
Campo Maior, com muita família por aqui, para que se consiga restabelecer de
pronto, e fugir à desgraça onde caiu, por uma falha de saúde, que poderia ter acontecido a qualquer um de nós, no sono, do nada, e é a prova mais que evidente, como tudo isto é tanto tão efémero.
Amigo, poder falar contigo, e saber que
levaste o meu exemplo de vida, como alento, é algo que me enche o coração, que
fica transbordante de alegria. Rezo por ele, para que consiga restabelecer-se pronto,
junto de vós.
E para terminar digo as palavras
do saudoso teclista dos Arenenses, Sr. Manuel Gavancha, tantas vezes recordadas
pelo vocalista, meu santo sogro, João Manuel Lança: isto é tão bom, nunca
deixem acabar isto!
E o Tio Sabi reforça que : digam o que disserem, são dias
magníficos como este, que valem mesmo a pena viver! Até parece que ficamos com
a alma inchada!
VIVAM AS VELHAS GUARDAS DO GDA!
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