A
minha filha Alice é um ponto!
Fico
de boca aberta com aquilo que ela diz e faz. Tem apenas 3 anos. E anos recém
celebrados em 1 de Fevereiro!
Não
me recordo de nada quando tinha essa idade. Eu não sei mas devíamos ser mais
aparvalhados. Também, nesse tempo não tínhamos tudo aquilo de que eles dispõem hoje.
Ela
hoje brinca sozinha com o Magalhães que era da mana. Vai à internet e pratica os
jogos do baby tv. No meu tempo ainda nem se sonhava que um dia haveria internet.
Hoje,
como é habitual, acordou cedo demais. Ainda nem eram 7 da manhã e já ela
chorava. A mãe que estava junto a ela, tinha de se levantar para resolver
assuntos do seu ministério doméstico. Roupas, comidas e outras coisas diversas.
Pois
a menina Alice, como a mãe se ia levantar e deixa-la só, chorava porque era
contra a sua vontade. Eu levantei-me e disponibilizei-me para ficar junto a
ela, para poder ficar mais um pouco a dormir.
Eu
sabia que ela acordava nem sempre estava bem humorada para os outros. Mas hoje nem
me quis ver. Nem me deu hipótese! Nem o olhar me disponibilizou! Enterrou a
cara na almofada e só grunhia enquanto falava para ela.
De
tal forma foi que a larguei da mão e desci para tomar o pequeno almoço.
Conformado.
Sua
majestade desceu depois. Com o seu ar imperial e sobranceiro. “E a mana?”,
perguntou.
Não
lhe disse nem ai, nem ui. Impávido e sereno, como se não tivesse ouvido nada.
Continuei a comer.
Ela,
estranhando a coisa, foi fazer queixas à mãe. “O pai não fala para mim…”.
E
eu, aproveitando a deixa, disse-lhe: “Foi o que tu me fizeste a mim há pouco.
Gostas? É para saberes se é bom”.
Ela,
sem saber como reagir, foi de novo fazer denúncia à mãe.
“O
pai está triste contigo porque tu não lhe falaste lá em cima. Dá-lhe lá um
beijinho e pede desculpa”, disse a Cris.
Abençoado
juíz, pensei.
“Anda
lá dar-lhe um beijinho e pedir desculpa”. E tomou-a ao colo.
Agora
que a bola estava do meu lado, disse-lhe tranquilamente: “Tu já não és bebé. Tu
já és crescidinha e percebes as coisas. O pai ficou triste porque foi teu
amigo, quis ir para junto de ti e tu não o quiseste lá. Agora fez-te o mesmo
para perceberes que isso não é bonito. Não se faz. Se queres que os adultos
sejam bons para ti, tens de ser amiga dos adultos. Senão fores, ficas sozinha.
Se não queres o mal, não podes fazer mal”.
E
ela ouvia tudo, compenetrada e com muita atenção.
“Percebeste?”.
Disse que sim com a cabeça.
“Tenho
razão?”. Que sim outra vez, com a cabecita.
“Então
agora, tu que já és crescidinha, explica lá o que o pai te disse por palavras
tuas. Explica lá o que percebeste.”
“Não
sei”, disse.
Eu
sorri. Alice 1. Pedro 0.
Já
no carro, para ficar a bem com ela, deixei-a carregar no comando que fecha o
portão da garagem e no comando que fecha o botão da rua. “Linda. Tu és linda e
grande. Consegues fazer as coisas que só os grandes fazem. A tua irmã, com a
tua idade, não conseguia fazer isto tudo”.
Quando
a irmã dela tinha a idade dela, nós morávamos em Marvão e nem casa própria, nem
garagem tínhamos, quanto mais. Mas isso agora para aqui não interessa nada.
Avancemos.
Ainda
na tentativa de a meter cá à vontade do meu lado, disse-lhe aquilo que ela
costuma dizer: “aquela Leonor é impossível, aquela miúda... Só quer ver os
Simpsons e a Fox e não liga a mais nada”.
“Pois
é, pai”, disse à vontade, jogando na sua casa. E foi mais longe: “Mas a avó
Alzira também gosta de ver a Fox. E os Simpsons também gosta. E eu também gosto”.
Acho
que o meu sorriso ficou amarelo. Risinho amarelo.
Mas
feliz.
O
placard electrónico marcava: Alice-2, Pedro-0”.
Quem
é que disse que não se pode ser feliz ao perder?
4 comentários:
Grande baile!
O que se conclui que ninguém, nem o pai pode estar contra a irmã que ela adora.Isso já eu percebi à muito.São amigas do peito.
O que se conclui que ninguém, nem o pai pode estar contra a irmã que ela adora.Isso já eu percebi à muito.São amigas do peito.
É bom, sim, quando perdemos para os nossos filhos ganharem.
Um abraço
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