Nunca falho o programa alta
definição. Gosto do tom intimista e direto. Na vida somos tudo o que a vida nos
fez ser. Dependemos das circunstâncias, do nosso passado.
Conheço relativamente bem a
situação de vida do Daniel Oliveira, o autor e coordenador do programa que é um
pouco mais novo que eu. Sei por tudo aquilo que passou, a forma como entrou na
SIC. Reconheço que é uma pessoa vivida, sofrida. Só quem lutou a pulso para
conseguir o lugar que tem hoje é que pode ter a maturidade para conversar com
as pessoas da forma que ele o faz. Reparem que não disse entrevistar. A palavra
que usei é a certa: conversar.
Quase há dois anos, em Julho de
2011, tive um grave acidente de mota que me colocou às portas da morte. Era uma
simples Vespa que eu adorava. Uma mota que não daria mais que 80 quilómetros
por hora. Apesar de andar a pouca velocidade e por uma razão que ainda hoje
desconheço, tive um brutal acidente sozinho. Caí e bati na valeta a metros de
casa. Tão grave foi o embate que entrei imediatamente em coma. Tive de ser
transportado para o hospital de São José, em Lisboa. O traumatismo craniano era
tão grave que os médicos tiveram receio de me enviar de helicóptero porque o
cérebro poderia não resistir à pressão da altitude.
Fui por carro. Mas fui e graças a
Deus salvei-me. Estou aqui para poder ter a minha vida de volta.
Vida à qual dou agora muito mais
valor, embora achasse que já antes o fazia. A diferença é que agora vivo cada momento
com a intensidade, a alegria e a plenitude de quem vive o último. Saboreio
muito mais. Desfruto muito melhor.
A cada dia que passa me sinto
mais eu. Dando passos pequeninos, seguros, sinto cada vez mais confiança em mim
neste regresso à vida. Sou mais capaz.
Mais capaz com ligeiras
alterações, às quais me vou tendo que ir habituando progressivamente. Por
exemplo, jamais vou poder articular o meu braço direito como fazia antigamente.
Está colado internamente como se os ossos fossem apenas um. Esse braço esteve
imobilizado durante o período em que estive internado. Os médicos estavam mais preocupados
em recuperar-me para a vida e foram deixando o braço ficar para trás. E bem.
Compreendo e não levo a mal. Pelo contrário. Só tenho a agradecer por tudo
aquilo que fizeram por mim.
Outra coisa que achava que tinha
mudado em mim era que tinha perdido a capacidade de me emocionar às lágrimas. Pensava
que tinha perdido a capacidade de chorar.
Vejo sempre o programa alta
definição e adoro. Hoje, ao assistir à conversa com a Luísa Castel-Branco,
sozinho, em casa à lareira, quando falou nas saudades que tinha do pai, dei por
mim a chorar. Emocionou-me às lágrimas. O meu pai faleceu novo como o dela.
Ainda mais novo porque tinha apenas 49 anos. Aquilo que ela sente quando falou
na falta dele é tão claro e tão verdadeiro que me tocou no ponto certo. Por
isso reagi. O alarme lacrimal tocou.
Um grande bem haja à Luísa, pela
sua postura, pela sua maneira de ver o mundo e pela forma de viver. Obrigado
pelas palavras.
Um grande bem haja ao Daniel,
pela qualidade da televisão que faz. Sei que tem ganho muitos prémios. Hoje
dou-lhe o meu.
Um abraço,
Pedro Sobreiro
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