sábado, 16 de março de 2013

Alta definição


Nunca falho o programa alta definição. Gosto do tom intimista e direto. Na vida somos tudo o que a vida nos fez ser. Dependemos das circunstâncias, do nosso passado.


Conheço relativamente bem a situação de vida do Daniel Oliveira, o autor e coordenador do programa que é um pouco mais novo que eu. Sei por tudo aquilo que passou, a forma como entrou na SIC. Reconheço que é uma pessoa vivida, sofrida. Só quem lutou a pulso para conseguir o lugar que tem hoje é que pode ter a maturidade para conversar com as pessoas da forma que ele o faz. Reparem que não disse entrevistar. A palavra que usei é a certa: conversar.


Quase há dois anos, em Julho de 2011, tive um grave acidente de mota que me colocou às portas da morte. Era uma simples Vespa que eu adorava. Uma mota que não daria mais que 80 quilómetros por hora. Apesar de andar a pouca velocidade e por uma razão que ainda hoje desconheço, tive um brutal acidente sozinho. Caí e bati na valeta a metros de casa. Tão grave foi o embate que entrei imediatamente em coma. Tive de ser transportado para o hospital de São José, em Lisboa. O traumatismo craniano era tão grave que os médicos tiveram receio de me enviar de helicóptero porque o cérebro poderia não resistir à pressão da altitude.


Fui por carro. Mas fui e graças a Deus salvei-me. Estou aqui para poder ter a minha vida de volta.


Vida à qual dou agora muito mais valor, embora achasse que já antes o fazia. A diferença é que agora vivo cada momento com a intensidade, a alegria e a plenitude de quem vive o último. Saboreio muito mais. Desfruto muito melhor.


A cada dia que passa me sinto mais eu. Dando passos pequeninos, seguros, sinto cada vez mais confiança em mim neste regresso à vida. Sou mais capaz.


Mais capaz com ligeiras alterações, às quais me vou tendo que ir habituando progressivamente. Por exemplo, jamais vou poder articular o meu braço direito como fazia antigamente. Está colado internamente como se os ossos fossem apenas um. Esse braço esteve imobilizado durante o período em que estive internado. Os médicos estavam mais preocupados em recuperar-me para a vida e foram deixando o braço ficar para trás. E bem. Compreendo e não levo a mal. Pelo contrário. Só tenho a agradecer por tudo aquilo que fizeram por mim.


Outra coisa que achava que tinha mudado em mim era que tinha perdido a capacidade de me emocionar às lágrimas. Pensava que tinha perdido a capacidade de chorar.


Vejo sempre o programa alta definição e adoro. Hoje, ao assistir à conversa com a Luísa Castel-Branco, sozinho, em casa à lareira, quando falou nas saudades que tinha do pai, dei por mim a chorar. Emocionou-me às lágrimas. O meu pai faleceu novo como o dela. Ainda mais novo porque tinha apenas 49 anos. Aquilo que ela sente quando falou na falta dele é tão claro e tão verdadeiro que me tocou no ponto certo. Por isso reagi. O alarme lacrimal tocou.


Um grande bem haja à Luísa, pela sua postura, pela sua maneira de ver o mundo e pela forma de viver. Obrigado pelas palavras.


Um grande bem haja ao Daniel, pela qualidade da televisão que faz. Sei que tem ganho muitos prémios. Hoje dou-lhe o meu.

Um abraço,

Pedro Sobreiro

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