terça-feira, 19 de março de 2013

Dia do pai



Os anos passam e continuo sempre a pensar que este dia não é o meu dia. O dia do Pedro pai. Para mim, o dia do pai é sempre o dia do meu pai.


As minhas filhas bem me quiseram fazer acreditar que o dia também era meu. A Alice entrou na casa de banho quando eu ainda estava a tomar duche e disse-me logo que me tinha trazido o balão mais lindo que tinha no seu quarto. Depois disse-me que tinha feito uma prenda para mim no infantário.



A Leonor que já é uma mulherzinha, ligou-me logo de manhã da casa dos avós maternos, onde está acampada nas férias da Páscoa com a prima Maria, a desejar um bom dia e dizer que tinha uma prenda.


Apesar de tudo isto, para mim, este é o dia do meu pai. Já passaram 19 anos desde o dia em que recebi a notícia do seu fim por telefone. Estava em Armação de Pêra a passar o fim de semana com os meus futuros cunhados e sogros. Nesse então ainda não existiam telemóveis. A GNR foi-me acordar para avisar que alguém queria muito contatar-me.


Para mim, o dia do pai será sempre o dia do meu pai. Lembrando o meu, pergunto-me muita vez que homem terá sido este capaz de marcar a minha existência para sempre. Que coisa tão especial teria dentro dele para nos deixar a todos quanto o conhecíamos bem, esta saudade imensa.


Não tenho certezas de nada, mas tenho algumas pistas. Em primeiro lugar, sei que era dono de um coração imenso. Uma bondade generosa, abnegada, total. Ser amigo dele era ter um estatuto de luxo. Junto a ele, ninguém ficava indiferente ou infeliz. Dar para ele era tudo. Dar não. Entregar. Entrega é a palavra certa.


Depois tinha um sentido de humor único. Inigualável. Um sentido de humor como eu nunca conheci igual. Uma noção de timing perfeita. A certeza de acertar sempre na mouche. Sabia sempre onde estava o botão.


Muitos conheciam apenas a sua personalidade boémia. Os fados, os petiscos, os ajuntamentos. Amigo de um bom prato, de um bom copo e sobretudo, amigo da uma boa companhia, a todos alegrava e todos o queriam para eles.


Mas também gostava de acalmia, do sossego do lar. Gostava de ler o jornal. Gostava de fazer as palavras cruzadas. Gostava de ouvir rádio (na cama nunca perdia os discos pedidos da rádio Monsanto). Gostava muito de ler, sobretudo romances sobre a guerra. Gostava muito de bola. Gostava muito do seu Sporting. Gostava de muita coisa.


E nós gostávamos de o ter cá, junto a nós. Para conhecer os netos. Para conhecer as minhas filhas. Lembro-me que quando morreu, a minha mulher me disse da pena que sentia por saber que nunca o poderia ver a brincar com a descendência. Sempre o tinha imaginado a brincar com eles.


Esta é a minha prenda para ele. Esteja lá onde estiver, sei que vai ler. Não sei onde e como mas acredito que há-de ler.


Daqui, para ele, vai um abraço. Bem apertado como aqueles que nós dávamos quando nos despedíamos.


Até sempre.


Até que Deus queira.



Galeria de presentes:

Alice








Leonor






Os presentes não foram apenas para o pai. As pequenas também ganharam um saco xl  de pipocas e um dvd  da Sónia Araújo.


1 comentário:

Helena Barreta disse...

Também sou orfã de pai há já 20 anos. No ano em que fui mãe perdi o meu pai e ainda hoje lamento e fico triste por o meu filho, um sobrinho mais novo e os meus sobrinhos-netos não terem tido o privilégio de conhecer o avô e bisavô. Mas todos o conhecem e adoram estar aí, na Escusa, sua aldeia natal.

Eu, do que sinto mais falta são dos nossos passeios, de mãos dadas, dos abraços e da sua sabedoria. O meu pai também era do Sporting e fazer palavras-cruzadas também era um dos seus passatempos.

Há lá presentes mais bonitos e valiosos do que esses que recebeu? Claro que não. Bonitas as suas meninas.

Um abraço