Se fosse eu que mandasse nisto,
neste ano atribuía as medalhas do concelho à Catarina Machado e ao Nuno
Machado. Teria que rever as regras mas, se não pudesse ser a de ouro, dava-lhe
a de prata pelo seu espírito empreendedor, pelo seu arrojo e audácia.
Quem lá está agora certamente não
terá a inteligência de o fazer. Agora que eu o defendi aqui, mais difícil se
torna. Ou… Deixa cá ver. Não o fazerem seria o que todos esperávamos agora, mas
só para serem do contra e para chatear… até pode ser. Bem, deixemo-nos de
conversa da treta e vamos diretos ao assunto.
As medalhas de mérito do
município são uma honra para a instituição da qual muito trabalhei. Eu e o meu
querido amigo Dr. Carlos Sequeira, então presidente da Assembleia Municipal,
que também deu o salto no final do primeiro mandato, sem nada termos combinado.
Quando se apercebeu da maleita que ia abordo do navio onde embarcamos de boa fé,
grande espírito marvanense e peito aberto, marchou. Hoje as medalhas são o que
delas fizeram: mais um isco para ganhar votos. Transformaram-se naquilo que
quem as criou não as queria. Mas Deus é grande. Mais cedo ou mais tarde, há-de
escrever direito por linhas tortas. Como sempre faz.
Para todos os marvanenses que se
prezem, que aqui nasceram e cá têm os seus enterrados neste solo do concelho de
Marvão, esta Catarina é de se lhe tirar o chapéu. Tem sido uma marvanense à
força, mas mérito que ninguém lhe tira. Tem sido persistente. Tem trabalhado
para isso. A ver se eu consigo dizer tudo o que quero sem maçar ninguém.
A Catarina quando chegou ao
concelho era só Bucho. A filha do Domingos Bucho. Veio para Marvão para ser a técnica
responsável pela Casa da Cultura. Licenciada creio que em história, tinha
também a incumbência de se responsabilizar pela gestão e recuperação do arquivo
municipal. Fazia falta e foi ficando. Não teve, por exemplo, a sorte que teve a
minha mulher que entrou para efetiva no tempo do presidente Manuel Bugalho, do
Partido Socialista, quando tinha começado a estagiar no tempo do presidente
António Andrade do PSD. Fazia falta e ficou, pelo mérito próprio e apesar dos
partidos. Pessoas de nível meteram uma funcionária de nível.
A Catarina estagiou no tempo do
Dr. Manuel Bugalho e agora, no tempo do Vítor Frutuoso, foi fora. Por puro e
simples saneamento político. Aos olhos de quem manda, se faz o mesmo que fazem (ou
pretendem fazer) outras já da casa, mais em conta (para quem manda as contas
são feitas assim) para quê a manter?
Mas a Catarina não esmoreceu.
Soube resistir. Esforçou-se e vai-se restabelecendo e estabelecendo por conta
muito própria. Esta mulher, que se fez Machado ao casar com o Nuno é uma
resistente. Uma lutadora. Esta mulher que já deu dois filhos lindos a esta terra,
não cai à primeira. Sempre com o apoio do seu marido, decidiu não virar costas
a Marvão. Ainda bem que decidiu ficar por cá. O mais fácil teria sido sair,
virar costas de vez. Mas não! Virou só as costas a alguns, mas não ao concelho.
Hoje tem um projecto grande,
lindo que consiste numa pensão e numa mercearia. A parte residencial ainda está
ser estudada, preparada com muito afinco. Passo a passo. A parte que está já disponível
é a da venda ao público. Uma espécie de Modelo (para quem não tem carro, está
longe dos grandes centros, precisa do imediato a bom preço) misturado com uma
loja de turismo, uma gift shop para os turistas. Há lá de tudo. Está tão bonito
e cuidado que é um regalo. Decorada com imagens das lojas de Marvão, com
pormenores deliciosos como o relógio de parede, pormenores que para quem sabe,
fazem toda a diferença.
Eu conheço bem a Catarina. Tenho
o prazer de poder dizer que sou seu amigo. Fui chefe dela enquanto
vice-presidente da câmara e vereador da cultura. Como funcionária é
inexcedível. Preocupada, meticulosa, simpática. Tratava tudo como se fosse de
uma importância extrema. Dava gosto vê-la a esmerar-se assim. Recordo que
dantes (ainda não sei se hoje funciona) dinamizava a biblioteca itinerante da câmara
que ia de terra em terra, emprestar livros e filmes. Um festim de cultura! As
crianças adoravam-na. Vê-las correr para a carrinha quando chegava fazia-me lembrar
a importância que tinha no meu tempo a carrinha da Gulbenkian. Os leitores
adoravam a biblioteca da Catarina. Os mais idosos adoravam-na. As minhas tias
da Beirã, as donas da mercearia da Beirã, esperavam por ela e iam sempre cumprimentá-la.
Todos sucumbem perante o seu
fascínio. Hoje, os clientes, todos os que visitam o espaço e as televisões que
não se tiram de lá. No dia que lá fui tirar as fotos para ilustrar este texto,
era a TVI que captava imagens. Todos percebem a sua importância, menos os da
casa grande que fica no cimo da colina. Menos os da câmara. Os que quando lá
passaram nas comemorações do 25 de Abril, do dia da liberdade, ela presenteou
com um cravo a cada um. Uma coisa de nível! Não sei se perceberam o gesto da
Catarina mas se percebessem (não sei se é pedir muito), haveriam de ter pensado
que há estalos que doem mais.
E quem escreve isto sou eu, Pedro
Sobreiro, no seu púlpito virtual pessoal, sem medo de nada, nem ninguém. O
Pedro que apenas ouve e respeita Deus. Mas o Pedro que nada, nem ninguém, teme.
Tenho dito.
PS: Querem saber como é boa a
loja? Têm de lá ir. Eu fui, para estes bons motivos e saí logo a ganhar: uma
deliciosa boleima de castanha. Se querem ganhar também, têm de visitar e
conhecer.
Abram o apetite...
5 comentários:
Ele há coisas que valem por mil programas de televisão.
Quando veem de pessoas que admiramos tanto, e queremos tão bem...
Tu não me deste uma medalha, com o teu texto, eu já me sinto comendadora!
Gosto muito de ti Pedro Sobreiro!
Obrigada!
Não sei se porque fala da Catarina, mas este foi um dos melhores posts que li neste blogue.
Abraço e sucesso à Catarina e Nuno.
Muito obrigada pelo seu texto, Pedro. É claro que como mãe não podia ter ficado insensível. Obrigada pelo seu desasombro e pela sua sinceridade. A Catarina e o Nuno merecem cada palavra aqui escrita.
Já deixei também a minha admiração pela pessoa que é, mesmo não a conhecendo gosto do que leio na sua Mercearia de Marvão.
Gosto de ver que há gente de bem a fazer um trabalho excepcional e que por isso, tem elevado o nome de Marvão. E não é preciso ser marvanense para elogiar a Catarina e o trabalho que tem feito em prol do concelho. Parabéns.
Um abraço
Caro Pedro:
Pelo trabalho da Catarina, enquanto Bibliotecária de Marvão, também eu sou testemunha:
http://domundoflutuante.blogspot.pt/search?updated-max=2012-10-19T23:21:00%2B01:00&max-results=5.
Reconhecer e divulgar os melhores de entre nós, é, mais do que uma obrigação que a idade nos impõe, uma alegria insubstituível nestes tempos difíceis em que vivemos.
Vera Oliveira
Bibliotecáira sénior
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