sábado, 16 de março de 2013

Sábado é dia de mercado

Hoje foi uma manhã de sábado feliz. Desde que regressei à vida, todas as manhãs o são, mas esta manhã particularmente. Já há muito tempo que não estávamos os quatro em casa num fim de semana. A Cristina tem trabalhado sempre nos últimos e não temos estado todos juntos. Esteve em Lisboa na Fil a representar o município, esteve no posto de turismo, enfim. Hoje estávamos todos juntados, como diz a minha filha Alice.



Como estávamos todos, eram necessário realizar algumas compras do mercado. Como tinha de sair para comprar o Expresso, hábito ao sábado, dei o corpo às balas. Deixei as mulheres em casa e saí de peito feito e orgulhoso fazer os recados que a mulher me mandou.


Ao fazer as compras do dia apercebi-me que a nossa terra é pequena mas tem de tudo. Somos poucos mas bons.


De recado aviado fui em primeiro lugar à padaria do meu querido amigo de infância Filipe Maridalho comprar um pãozinho de mistura para o almoço.


De seguida, encaminhei-me para o mercado comprar feijão verde e bróculos para o almoço. A patroa mandou-me ir ter com o senhor Garção.




Assim que se entra na porta principal, logo à esquerda. Lá estava ele, todo sorridente, a cumprimentar-me. A esposa e ele estavam contentes por me ver bem. Disseram-me que estava bem. Eu, fiquei feito parvo a rir-me e disse a piada que agora vai sendo habitual: “vou bem, graças a Deus. Sabe que isto quando a erva é ruim, não é qualquer mal que lhe chega!”. Eles riram-se, não sei se por graça, se por complacência.


Feijão verde disse que tinha, sim. Bom, belo e gordinho. Bróculos já não. Já se tinham acabado. A minha Cristina bem me tinha avisado que quando lá chegasse já seria passado a hora de ponta. Ele, muito querido, ainda foi procurar aos vizinhos de venda se algum ainda tinha. Tiveram mas já se tinham acabado. Que pena... Bem, como já realizei mais de metade dos deveres graças ao pão, o saldo não era mau.

Já não entrava no mercado há séculos. Fiquei espantado por ter visto tão pouca gente. Poucos a vender e poucos a comprar. Já vamos sendo realmente muito poucos. Os gajos lá de Lisboa bem querem acabar connosco mas vão-se ver à rasca. Se fosse pela vontade deles o país reduzia-se às cidades. Só elas tinham futuro porque têm muitas pessoas e muitos votos. O interior não interessa. O interior é só meia dúzia de gatos pingados. Gatos que dão mais trabalho que sei lá o quê. Qual povoamento uniforme? Que se lixe a violência nas urbes. Amontoados estão melhor. É mais fácil distribuir autocolantes para apanhar os votos.






Apesar de poucos, gostei muito de ali entrar. Falar com as pessoas. Conviver. Sentir o pulsar da terra. Passeei-me pelo mercado. Tirei umas fotos com o telemóvel. Dei os bons dias. Que bem sabe dizer e ouvir os bons dias numa aldeia. Eles sabem lá.


Enfeirei na barraquinha das farturas. Carinhas, a 1 euro, mas boas. A dona tinha ao colo uma bébé que não reclamava. Nem do poleiro, nem do frio.










Como não tinha conseguido os bróculos, lembrei-me de passar na nova venda da terra. Nos “Mimos da Aldeia” que abriram na venda junto ao sr. João do Bento. O proprietário é um rapazinho novo do concelho, creio que dos Alvarrões. Recebeu-me muito bem e tinha bróculos, claro que tinha. Uma venda pequenina mas muito simpática que tem de tudo um pouco. Muito adequada a quem por aqui vive. Muito boa para quem tem idade, está só e não tem transporte para se deslocar a Castelo de Vide ou a Portalegre. Perguntei-lhe como estavam a correr as coisas e ele respondeu-me que bem. Pareceu-me satisfeito com os resultados. Eu fiquei muito satisfeito com a ida à sua venda. É capaz de ter futuro. Oxalá que sim.




  



Junto ao sr. João do Bento, parei para dois dedos de conversa. Parei para estar com ele. É um querido, um amigo de longa data, um grande benfiquista. Uma daquelas amizades que herdei ainda do meu pai que tinha uma enorme estimação por ele. Estimação que sei que era mútua.



O sr. João permitiu que lhe tirasse uma foto na sua loja. Negócio já encerrado mas que continua a abrir só para estar com os amigos. Eu compreendo. Conheço bem essa realidade.

É o que acontece com as minhas querida tias paternas e o seu comércio na Beirã. Já fecharam a porta. Já cessaram a atividade. Mas continuam a deslocar-se para a loja todos os dias porque é ali o seu lugar. Entram as vizinhas para as cumprimentar, tomam um cafezinho, conversam, fazem-se companhia umas às outras. Fico descansado porque estão melhor ali que em casa, fechadas, à braseira. A envelhecer de dia para dia.



Lutam assim contra a desertificação de uma Beirã que já não conheço. Eu que sempre serei e hei-de ser da Beirã, já não me revejo naquela Beirã. Aquela não é a terra que era a minha de criança. Já não é a Beirã pujante, viçosa, de pleno emprego. Uma terra que era de serviços num Alentejo onde mandavam os trabalhos ligados à terra. 


Dali segui para o outro comércio. A terra é pequena mas tem um pouco de tudo. Vamos resistindo em todas as frentes. Segui para a Ana Boto onde estive com o meu querido amigo Rui Boto. Ali dei mais dois dedos de conversa. Conversa, simpatia… coisas boas que ainda há nestas terras pequenas. 

 


 O pai ajudava e o filho, o meu grande amigo Rui Pedro trabalhava afincadamente para escavar as raízes da árvore no jardim em frente à junta de freguesia. Apesar de ser sábado, trabalhava sem cessar, a ver se ajudava o país a sair da crise.



A vida numa aldeia. A vida na minha aldeia.


Dali ainda poderia seguir para muitos lados, para mais um estabelecimento resistente, por exemplo. Poderia ir ao snack bar “O Adro” da Estrela Bernardo que há-de sempre ser o bar do Sérgio (o bar do seu marido, o meu querido e grande amigo que nos deixou cedo demais) e beber um branquinho traçado, ou passar no meu Zé Manuel da pastelaria S. Marcos para beber uma maravilhosa fresquinha das suas.



Mas a hora já era tardia e as minhas mulheres esperavam-me para o almoço. Tive de regressar para o salmãozinho grelhado que estava quase pronto




Entrei na minha sala e parecia que tinha entrado no Silicon Valley ou no MIT! As duas pequenas agarradas aos computadores, como já vai sendo habitual. A Leonor no Toshiba que eu e a mãe lhe comprámos de prenda de anos e natal. A pequena Alice que já quer ser como os grandes, com o Magalhães da mana que sobreviveu mais que o Sócrates e renasceu enxertado com a bateria oferecida por cortesia dos queridos amigos Hernâni, Fernanda e Afonso Sarnadas.


Finalmente, lar doce lar. Ou com tanta tecnologia, mais vale dizer home sweet home.
   


Já tinha fome. Mas tinha a barriga estava cheia. Cheia da vida da (agora) minha aldeia.

2 comentários:

nuno mota disse...

Que bom !!!! que saudade... também !!!!

Helena Barreta disse...

Ainda tenho muito presente os dias de mercado na Vila, é certo que era só em Agosto, mas dava gosto, as bancas cheias de produtores, muitos compradores, era mesmo muito animado. E a massa frita era obrigatória, o que o meu pai gostava daquilo.

Quanto à sua Beirã, era visita obrigatória a um primo de meu pai que trabalhava e vivia junto à linha de caminho de ferro. Tenho a certeza que ainda hoje conseguia dar com a casa. Lamento é o encerramento da linha, com todas as consequências negativas disso.

Um abraço